Quase uma semana após a divulgação das fraudes nos balanços do Banco PanAmericano, o movimento na única agência da instituição em Curitiba, e as vendas de títulos da TeleSena, realizadas nas loterias, seguiam dentro da normalidade. Questionados pela reportagem de O Estado, os clientes se dividiam entre aqueles que desconheciam o problema e os que literalmente apostavam na credibilidade do apresentador Sílvio Santos, que também é presidente do principal grupo acionista e controlador do PanAmericano. Na agência, os funcionários não estavam autorizados a se pronunciar sobre o caso, nem falarem sobre eventuais mudanças na rotina do banco. Pelo que foi observado, haviam clientes entrando e saindo a todo instante do local, sendo que em determinados momentos, tinha a necessidade de retirar senhas para o atendimento. Um dos clientes foi o jovem R. E. M., de 20 anos. Trabalhando como estagiário em outro banco, que garante ao rapaz uma renda mensal de R$ 800, ele havia acabado de retirar um cartão de crédito do PanAmericano com um limite equivalente ao dobro do seu salário. “No cartão do PanAmericano, terei um limite de R$ 1,6 mil, o que vai me ajudar a comprar uma TV sem pagar juros”, acredita o jovem, que também possui um cartão de crédito do banco onde trabalha. Ao ser questionado sobre as notícias envolvendo o PanAmericano, ele disse que não tomou conhecimento. “Não sabia, mas acho que não haverá problemas para mim”.

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O proprietário da Loterias Muricy, Auxílio Suguimoto, não observou qualquer diferença na movimentação relacionada a vendas e trocas de TeleSenas. Por muitos anos, o estabelecimento foi um dos recordistas no comércio de TeleSenas e a procura continua intensa. “Em algumas promoções como às relacionadas ao Natal e Dias das Mães, o lote de 500 unidades não dura um dia”, comenta o proprietário.

Papa-Tudo

Para Suguimoto, a torcida é para que todos os problemas do PanAmericano sejam resolvidos antes de causar qualquer interferência na credibilidade dos títulos. “Até hoje sentimos o impacto negativo do escândalo do Papa-Tudo. Nem dá para imaginar como será se algo de errado ocorrer com a TeleSena que é muito mais consolidada”, avalia o proprietário. “É impressionante a credibilidade e o carinho que a população deposita nos produtos do Sílvio Santos”, completou.

O Papa-Tudo, que era administrado pela corretora Interunion, lesou milhões de pessoas que, a exemplo da TeleSena, compravam títulos de capitalização da empresa com direito a cupom e sorteios na televisão. A fraude foi detectada entre os anos de 1994 e 1995 e, segundo o Ministério Público Federal, os gestores simulavam lucros com falsos dados contábeis, mas não possuíam reservas técnicas nem para o reembolso.

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No caso do banco do Grupo Sílvio Santos, indícios apontam que as irregularidades supostamente cometidas pela diretoria do PanAmericano resultaram em rombo de quase R$ 2,5 bilhões.

Caixa preta

Sob o ponto de vista econômico, muitas questões sobre o PanAmericano seguem obscuras. Para o economista do Conselho Regional de Economia do Paraná Carlos Magno Bittencourt, por enquanto, faltam subsídios sobre o caso. “Ainda não foi aberta a caixa preta do PanAmericano, mas alguns eventos deste ano, como o encontro entre o presidente Lula e o apresentador Sílvio Santos, antes do primeiro turno, sinalizam que o caso possui várias nuances que até o momento não foram trazidas à tona”, alerta o economista.

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