Indústrias do setor cerâmico de Campo Largo estão preocupadas e reclamam do reajuste do gás natural boliviano, utilizado como combustível para a queima na fabricação de porcelanas e cerâmicas. Segundo o Sindicato da Louça e Porcelana do Estado do Paraná, o gás natural sofreu reajuste de 73,62% por parte da Petrobras entre julho de 2002 e maio de 2003. A alta, segundo o vice-presidente do sindicato, José Canisso, pode inviabilizar o setor. Estão localizadas em Campo Largo as duas maiores indústrias de porcelana da América Latina -Germer e Schmidt -, que juntas são responsáveis por quase 90% da produção nacional.

“É um problema que nos afetou seriamente”, conta José Canisso. Segundo ele, só a queima de gás representa de 30% a 40% dos custos, que incluem ainda a mão-de-obra, energia elétrica, matéria-prima e impostos. “Não temos condições de repassar o aumento para os clientes, porque eles também não têm condições de arcar. Houve fábricas que quando repassaram 10% acabaram perdendo o cliente”, diz.

Ao todo, Campo Largo conta com 36 indústrias do setor, mas apenas dez delas possuem queimadores e são diretamente afetadas pela alta do combustível. Juntas, elas consomem quase 60 milhões de metros cúbicos por ano, enquanto uma sozinha gasta 1,8 milhão de metros cúbicos por mês. Para resolver o impasse, Canisso não descarta a possibilidade de buscar alternativas. Uma das fábricas, por exemplo, passou a queimar lenha. O problema, no entanto, é a quantidade de madeira necessária: cerca de 40 hectares por mês, segundo Canisso. Outro agravante é que todas as indústrias investiram pesado em novos equipamentos (cerca de R$ 1 milhão por indústria), substituindo seus antigos formos por fornos a gás.

Contrato

O grande problema que o mercado enfrenta, explica Canisso, é a modalidade de contrato “take or pay” da Petrobras, com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). O sistema determina uma quantidade de gás a ser colocada à disposição do cliente, e mesmo que ele não utilize esta quantidade, é obrigado a pagar por ela. Canisso explica ainda que, pelo contrato firmado com a Bolívia, o gás natural prevê pagamento em dólares e a diferença cambial provisoriamente foi assumida pela Petrobras. De janeiro de 2002 a janeiro de 2003, com o câmbio a R$ 3,75, o aumento acumulado ficou em 83,5%. “O gás boliviano está custando em torno de US$ 127 por mil metros cúbicos, já o gás produzido pela Petrobras, em Alagoas, tem uma diferença de preço grande. São R$ 285,84 por mil metros cúbicos”, alega. “Vamos ter que pressionar a Petrobras para baixar isso”, diz, salientando que a alta promovida pela estatal é independente da variação cambial.

continua após a publicidade

continua após a publicidade