Campanhas se tornam investimento a longo prazo

Brasília (AG) – Assim como o Carnaval ou o Natal, as campanhas eleitorais viraram eventos econômicos no Brasil, em função do volume cada vez maior de recursos investidos pelos candidatos a cada dois anos.

Mais importante que isso, porém, é entender que as campanhas se tornaram investimentos tanto da parte dos candidatos como dos empresários que muitas vezes os financiam.

“Toda eleição gira em torno desse conceito: investimento. O eleitor investe no candidato, faz uma aposta na possibilidade de melhoria da cidade onde mora e investe seu voto. Os empresários, que ajudam a financiar a campanha, também investem. Obviamente que não é um investimento toma-lá-dá-cá, até porque hoje existe um aparato legal que inviabiliza a consecução de posturas deste tipo”, diz o publicitário Antônio Lavareda.

Para o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Torquato Jardim, entretanto, esse investimento dos empresários doadores é feito, sim, de olho em contratos futuros.

“A troco de quê esses empresários fazem tantas doações? Por que as empresas de lixo e de transporte urbano são as que mais investem nas eleições municipais? Na verdade, a doação para campanha virou uma conta investimento”, afirma Torquato Jardim.

Também de olho em contratos futuros, alguns publicitários costumam baixar o preço de seus serviços durante a campanha eleitoral, sobretudo se o candidato estiver liderando as pesquisas de opinião. Com a reeleição, muitos desses profissionais sonham com contratos estáveis de até oito anos.

Gastos

A choradeira sobre a dificuldade de arrecadar recursos é geral nos partidos, sobretudo nas capitais. Mas mesmo com o horário de propaganda gratuita no rádio e na TV no Brasil, os gastos com publicitários e com a produção de programas de televisão são milionários.

Em São Paulo, por exemplo, só as despesas com a produção dos programas de TV e rádio que vão ao ar durante o horário de propaganda eleitoral gratuita podem chegar a R$ 12 milhões. Incluindo a contratação de publicitários de primeira linha como Duda Mendonça (que atendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002), Nizan Guanaes, Antônio Lavareda e Fernando Barros, que não costumam fechar contratos por menos de R$ 3 milhões.

Numa campanha deste porte, a folha de pagamento de um comitê eleitoral pode incluir até 500 pessoas. Dentro dessa projeção de gastos, não está computada a chamada campanha gráfica, que inclui outdoors, santinhos, camisetas e a panfletagem.

No Rio, uma campanha para prefeito fica um pouco mais barata que em São Paulo, em torno de R$ 10 milhões. Em cidades com até dois milhões de habitantes, como Belo Horizonte e Salvador, o custo cai para R$ 5 milhões a R$ 6 milhões. Em municípios menores, varia de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões.

Gastos chegam a R$ 600 mil

Brasília (AG) – Embora bem mais modestas que as disputas pelas prefeituras, as campanhas para vereador ajudam a acelerar a economia da cidade. Os gastos variam de acordo com o tamanho do município. Novamente São Paulo desponta como o município onde a campanha de vereador se mostra a mais cara do País. Os gastos de um candidato lá podem chegar a R$ 600 mil. Já no Rio, o custo médio é R$ 400 mil, em Porto Alegre, R$ 250 mil e em Goiânia, R$ 150 mil. Isso se o partido arcar com os custos do programa de TV e rádio. É o que pretende fazer o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).

“No Rio, por exemplo, estou fechando com uma produtora para fazer a campanha inteira dos nossos candidatos a vereador. Isso deve nos custar cerca de R$ 400 a 500 mil. Com os demais custos, deveremos gastar com esses candidatos, no total, R$ 1,5 milhão só na capital”, adiantou Jefferson.

Pesquisas

Outro filão que costuma faturar alto em época de eleição é o de pesquisas de opinião, consideradas fundamentais para orientar os programas de TV e identificar o que o eleitor espera de seu candidato. Na verdade, elas representam o segundo maior gasto de uma campanha. Uma pesquisa quantitativa em São Paulo, com 800 entrevistados, não sai por menos de R$ 36 mil.

Se o partido solicitar uma pesquisa qualitativa, em que pequenos grupos de eleitores são longamente entrevistados pelos pesquisadores para analisar o candidato e suas propostas, terá de desembolsar mais R$ 20 mil. Para garantir imagens de impacto para os programas de TV, os candidatos a prefeito são obrigados ainda a promover os chamados showmícios. Um evento deste tipo pode custar de R$ 20 mil a R$ 200 mil.

MP faz alerta contra irregularidades

Rio (AG) – Uma campanha paralela à dos candidatos a prefeito e a vereador foi deflagrada pela Justiça Eleitoral. O Ministério Público já espalhou cartazes por escolas e fóruns do interior alertando os eleitores para um crime: o artigo 67 da resolução 21.610, do Tribunal Superior Eleitoral, classifica como ilegal a troca de votos por “doação, oferecimento, promessa, entrega de bem ou vantagem natural de qualquer natureza” aos eleitores. O prazo estimado para a cassação do registro ou do diploma é de dois meses, segundo o promotor Marcos Ramayana, coordenador eleitoral do Ministério Público Estadual.

“Até o dia 3 de outubro, é conduta ilegal e criminosa se o centro social tiver vinculação de propaganda. Se lá dentro tiver santinho, camiseta ou o nome do candidato impresso em qualquer lugar, é irregular”, afirma Ramayana.

Feudos

O promotor reconhece que o assistencialismo se tornou artigo de primeira necessidade para a população carente e reclama que não há regulamentação alguma para o funcionamento dos centros sociais. “A cidade é loteada em feudos, as pessoas ocupam esses espaços e começam a prestar o assistencialismo. Os centros funcionam à margem da lei. Não há como regulamentar algo ilegal. O problema é que, se a gente fecha o centro, muitas pessoas morrem. Fechar os centros sociais é como chegar para um drogado e tirar a cocaína, de uma hora para outra. O cara vai morrer”, disse o promotor.

No Rio, desde o surgimento da lei, em 1997, nenhum político foi punido com a cassação da candidatura ou do mandato. Ramayana argumenta que a atuação do Ministério Público para coibir a compra de votos depende de denúncias e da conscientização dos eleitores.

Assistencialismo é prática comum

Rio (AG) – Assistencialismo é bandeira de 20 dos 42 vereadores cariocas – destes, apenas um, Gerson Bergher (PFL), não é candidato à reeleição. A distribuição de dentaduras, pernas mecânicas e cadeira de rodas e a oferta de serviços que variam de aulas da lambaeróbica ao atendimento médico são cada vez mais usadas como atrativos para seduzir o eleitor na cidade do Rio. A prática, comum entre os coronéis do Nordeste, cresceu nos últimos quatro anos: levantamento feito pela reportagem em 2000 mostrava que 16 vereadores mantinham centros sociais.

Os vereadores sustentam que os serviços são oferecidos graças a doações de amigos comerciantes, empresários e parentes. O trabalho, segundo eles, é feito por voluntários. Há casos, no entanto, de servidores comissionados nos gabinetes da Câmara que também trabalham nos centros sociais. Cristiane Valente trabalha no gabinete de Lucinha (PSDB) e dá plantão no centro social da vereadora.

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