Brasil ocupa “vácuo” dos EUA no mercado árabe

São Paulo (AE) – A aversão à política externa dos Estados Unidos para a região do Oriente Médio, que fez despencar as exportações de produtos norte-americanos para uma grande parte do mercado árabe, que inclui a Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Kuwait, Omã e Catar, entre outros, está abrindo uma inusitada e importante oportunidade para o Brasil ocupar esse espaço.

Um estudo detalhado do Institute for Research: Middle Eastern Policy (IRMEP) mostra que as vendas para esses países despencaram US$ 31 bilhões entre 1998 e 2002 e, se a tendência continuar, os EUA vão perder mais US$ 63 bilhões até 2007, o que significaria perdas de US$ 94 bilhões em apenas dez anos.

O estudo “Dividends of Fear: America?s US$ 94 Billion Arab Market Export Loss” (Dividendos do Medo: perdas norte-americanas de US$ 94 bilhões em exportações para o mercado árabe) informa que o golpe mais duro do impacto da revolta árabe contra produtos norte-americanos atingiu as indústrias de aeronaves civis, veículos, equipamento de perfuração e exploração de petróleo, motores, máquinas e equipamentos industriais e de telecomunicações, nos quais a indústria brasileira é competitiva. Mas os efeitos dessa aversão árabe bateram também no setor agrícola americano, cujas vendas de trigo, milho e de tecnologia também despencaram.

“É o momento de o Brasil se aproximar do mundo árabe. O País não pode perder essa magnífica chance de conquistar esse mercado gigantesco”, disse o diretor executivo da Câmara Árabe de Comércio, Michel Alaby. Aliado a isso, acrescentou o executivo, “os árabes também não estão querendo produtos europeus, já que ficaram muito caros”.

O IRMEP calcula, por exemplo, que as importações dos países que fazem parte do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), do qual fazem parte a Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Omã, Catar e Bahrein, cresceram de US$ 117,67 bilhões, em 1997, para US$ 119,42 bilhões em 2001 e podem chegar a US$ 126,6 bilhões em 2007. Notícia ruim para os EUA, mas ótima para quem é competitivo, já que a participação de produtos norte-americanos caiu de 18% para 13% nesse mesmo período.

“Isso ocorre como resposta à perda de legitimidade da política externa dos EUA para a região aos olhos dos consumidores árabes”, diz o relatório. Para o diretor de pesquisa do instituto, Grant Smith, grande parte dessa queda se deve ao sentimento negativo contra os Estados Unidos naquela região.

Para Alaby, seria importante que o governo brasileiro tentasse uma aproximação política visando a conquista comercial daquela região. “O Brasil pode, perfeitamente, fornecer todos esses produtos para os países árabes. Em alguns setores, a presença brasileira poderia ser imediata, não precisando de lobby algum”, explicou Alaby, que analisou o estudo do IRMEP. “Mas, para isso, precisamos de uma estratégia efetiva, como por exemplo, a tentativa de estabelecer acordos de livre comércio com esses países.” Ainda de acordo com o estudo, o IRMEP afirma que, se os EUA não estivessem enfrentando a revolta árabe, as exportações norte-americanas para todos os países dessa região poderiam chegar a US$ 229,91 bilhões em 2007. Esse cálculo foi feito utilizando a taxa de penetração das marcas norte-americanos nesse mercado com a hipótese de que “se tudo estivesse correndo bem”.

Por isso, o instituto enumera uma lista grande de recomendações para que os EUA reconquistem esse mercado perdido.

Sugere por exemplo, que o governo do presidente George W. Bush evite culpar diretamente os árabes pelos atentados de 11 de setembro, que os EUA elaborem uma nova política estratégica para a região e que Washington retome os vistos para estudantes árabes. Pede ainda que o governo norte-americano caminhe em busca de acordos de livre comércio com os países árabes e de soluções efetivas para o conflito árabe-israelense.

“O aumento nas restrições a empresários árabes para viajarem para os Estados Unidos, o crescimento de temores dos cidadãos norte-americanos e a xenofobia a ações legais contra empresas árabes apontam para a aceleração do ?pedágio? (gastos adicionais e prejudiciais) no comércio futuro”, alerta o IRMEP ao governo norte-americano.

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