Bovespa fecha pior mês e lidera perdas na AL

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou ontem o seu pior mês desde a eleição do presidente Lula em 2002. As perdas acumuladas atingiram 11,4%. A Bovespa amargou a maior queda acumulada no mês e no ano entre as Bolsas da América latina, EUA e Espanha, segundo a consultoria Economática.

Ontem, o índice Bovespa intercalou leves altas e baixas, com alguns gestores tentando evitar perdas de dois dígitos em suas carteiras, o que assustaria ainda mais os pequenos investidores, provocando uma debandada dos fundos de renda variável. No final do pregão, o Ibovespa encerrou a sexta-feira em queda de 1,30%, aos 19.607 pontos.

Foi o segundo pior resultado para um mês de abril na Bovespa desde o início do Plano Real, em 1994, segundo a consultoria Economática. Só perdeu para abril de 2000, quando desabou 12,8%.

Nesse período, há quatro anos, o mercado estava preocupado com a expectativa de uma alta do juro nos EUA e com o medo de estouro da bolha das ações na Bolsa eletrônica Nasdaq, após a euforia com as empresas de internet.

Em comum com o ano 2000, abril de 2004 tem apenas o temor com uma fuga de capitais dos países emergentes, com a perspectiva de alta do juro nos EUA. Foi a taxa no menor nível em mais de 40 anos que tirou a maior economia do mundo do buraco, após o terror do 11 de Setembro. Na próxima terça-feira, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) se reúne para avaliar a taxa.

“Ao contrário do que ocorreu no ano passado, o cenário externo está prejudicando o mercado brasileiro. Não é o fim do mundo, mas as janelas de oportunidades estão se fechando”, disse o economista da consultoria Global Station, Marcelo de Ávila.

China: especulação ou nova crise?

Na visão dos pessimistas, a nova crise global em gestação atende pelo nome de China, que cresceu quase 10% em 2003 e “devorou”, por exemplo, 25% da produção mundial de aço, provocando uma disparada dos preços das commodities, dos fretes e superlotação em portos.

De olho nas oportunidades de lucros rápidos e elevados, gigantes do capitalismo fincaram bandeira no solo chinês. Agora, Pequim tenta colocar um freio no crescimento, dificultando o crédito, para evitar uma crise. Situação oposta vive o Brasil, que busca crescer 3,5% em 2004, após a economia encolher 0,2% em 2003, em meio ao desemprego recorde.

No início deste mês, os grandes bancos estrangeiros começaram a alertar com uma freqüência diária para os riscos de uma desaceleração da economia chinesa, com base na divulgação de dados setoriais, como os da siderurgia, que começam a refletir o menor apetite do País por matéria-prima. As ações do setor começam a despencar nas Bolsas de todo mundo. A novidade agora no mercado é especular sobre as mudanças no câmbio chinês.

Brasília patina na microeconomia

Mas foi há duas semanas que a China começou a ocupar o papel de protagonista da narrativa diária dos movimentos do mercado financeiro. Para piorar a trajetória dos preços das ações brasileiras, o noticiário gerado a partir do centro do poder em Brasília é insuficiente para inverter o foco pessimista dos grandes bancos para as incertezas no cenário exterior, que incluem ainda as tensões geopolíticas no Iraque.

Desde a eclosão da crise política com o caso Waldomiro Diniz em fevereiro, analistas financeiros repetem diariamente expressões como “assembleísmo”, “imobilismo” e “paralisia” ao comentar o ritmo do governo Lula no trato das questões da chamada “microeconomia”.O exemplo de abril foi a discussão sobre o salário mínimo, marcada por adiamentos sucessivos de reuniões para, no final, ser confirmado o reajuste de R$ 240 para R$ 260, valor cogitado desde o início.

Abril vermelho

Desde 1994, a Bolsa paulista fechou três meses de abril no vermelho: em 1998 (-2,3%), 2000 (-12,8%) e 2002 (-1,3%), segundo a Economática. 2004 teve o quarto mês de abril com perdas.

Desde o início do governo Lula, a maior queda mensal da Bolsa era a de fevereiro do ano passado, quando recuou 6%. Em setembro de 2002, um mês antes das eleições presidenciais, as perdas tinham somado 17%.

Em abril, até a última quarta-feira, os fundos registraram uma captação negativa (depósitos menos saques) de R$ 412 milhões, segundo os últimos dados do site Fortuna.

No ano, os saques superam os depósitos em R$ 567 milhões. Ou seja, o desempenho negativo do mês de abril, até o último dia 28, respondeu por mais de 70% da captação negativa acumulada no ano.

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