BNDES reduz os juros em cerca de 30%

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) baixou 30%, em média, as taxas que cobra sobre cada empréstimo que realiza. Os projetos na área da inovação tecnológica devem ter os maiores cortes de taxas, o chamado spread. Nessa área, os empresários pagarão 6% ao ano pelo empréstimo somando taxas e juros. O valor é praticamente a metade dos 11,5% cobrados atualmente.

Ao anunciar ontem essas novas políticas, o presidente do banco, Guido Mantega, enfatizou que a redução está alinhada ao cenário econômico brasileiro, que, segundo ele, está bastante favorável. ?Há o controle da inflação e das contas públicas, a recomposição do mercado interno e, ainda, a recuperação da massa salarial e dos níveis de emprego?, observou. ?Hoje a economia apresenta um cenário muito sólido, e podemos dizer que vai continuar sólido nos próximos anos, as condições de rentabilidade são favoráveis e só faltava baixar um pouco o custo financeiro?, acrescentou.

Parte do pacote havia sido anunciada em dezembro de 2005, mas as medidas entraram em vigor neste ano. Segundo Mantega, alguns empresários já sabiam das modificações e esperaram para assinar contratos depois da publicação oficial, de modo a se beneficiarem com a redução. Ele acredita que as taxas mais baixas vão atrair grandes empresas que vinham captando recursos no exterior.

Na expectativa do presidente do BNDES, os resultados da redução de taxas serão sentidas já neste ano. Ele lembrou que, no ano passado, houve queda nos investimentos, processo que deverá ser revertido em 2006. ?Com certeza os reflexos serão vistos no PIB (Produto Interno Bruto, que é a soma de todas as riquezas produzidas no País) deste ano, pois acredito que a economia poderá crescer de 4% a 5% e essas reduções deverão contribuir para isso?, avaliou.

Longo prazo

Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, a redução em até 30% dos juros cobrados pelo BNDES para financiamentos representa um avanço significativo para reduzir o custo financeiro dos investimentos realizados pela indústria nacional.

No entanto, afirmou Furlan, os efeitos da medida só devem ser sentidos na economia em longo prazo. ?Não estamos plantando para colher neste ano. Essa ação do banco visa cinco anos para a frente. É uma mudança de política de prioridades, reduzindo taxas de juros para setores em que o Brasil precisa investir e desenvolver?, explicou.

Para Furlan o pacote anunciado ontem pelo BNDES faz parte de uma série de medidas que o governo vem tomando para consolidar o desenvolvimento do País. ?Outros fatores, como os números mais baixos do risco-país, dão conforto para uma continuidade de redução da Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP, hoje fixada em 9% ao ano, contribuindo ainda mais para o crescimento dos investimentos?, disse.

Indústria acha que faltaram ?medidas adicionais?

Rio (ABr) – O incentivo ao investimento produtivo exige a resolução de alguns elementos adicionais ao financiamento, afirmou ontem o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello. Ele participou, no Rio de Janeiro, da solenidade de anúncio da nova política operacional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que reduziu em cerca de 30% as taxas de remuneração básica da instituição nas operações de empréstimo às empresas.

A desvalorização do real, que está ?artificialmente apreciado?, é a primeira das condições enumeradas pelo presidente da Abimaq, porque ?tira a competitividade do produto brasileiro?. O executivo argumentou que também seria necessária uma diminuição drástica da taxa de juros que, no patamar atual (17,25% ao ano), ?é um forte desestimulante ao empresário?. Segundo o executivo, o patamar ideal para a taxa básica de juros (Selic) seria abaixo de 12% ao ano, como ocorre nos países desenvolvidos.

Em relação ao câmbio, sugeriu que ele tem que ser paralelo, simétrico à situação real do país. O Brasil tem miséria e precisa gerar empregos decentes, com carteira assinada, declarou Newton de Mello, indagando qual a razão de termos um câmbio apreciado. ?Por que temos a pretensão de sermos a Suíça? Lamento, mas não concordo?, afirmou.

Mello apontou, ainda, a necessidade de solução para as condições de infra-estrutura existentes no Brasil, que classificou como deficientes. ?O governo tem investido pouquíssimo, haja visto o próprio superávit primário que alcançou em 2005, que é maravilhoso para impressionar bem os investidores financeiros estrangeiros. O Brasil sai bem na fotografia. Veja: o risco-Brasil baixo, remuneração financeira alta?, criticou.

O presidente da Abimaq acusou, entretanto, que esse quadro é alcançado ?à custa da destruição completa das nossas estradas, da volta da febre aftosa, da não geração de empregos, do fechamento de indústrias e da não-vinda de indústrias estrangeiras para cá porque preferem a Índia ou a China?. Na opinião de Newton de Mello, esse é um preço muito alto. ?Acho uma distorção de prioridades. Acho uma arrogância da política econômica e da política monetária ter apenas a focalização nesses aspectos?, afirmou.

 

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