BC joga pesado para domar mercado furioso

Brasília

(AG e agências) – O Banco Central decidiu ontem retomar sua política de intervenção diária no mercado brasileiro, por meio de venda direta de dólar, à vista ou por leilões de linhas externas ao mercado com data definida de recompra, de até 90 dias. O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, disse, ao fazer o anúncio, que até a próxima sexta-feira serão colocados US$ 100 milhões, diariamente, no mercado. Esse total cairá para US$ 50 milhões, por dia, a partir de segunda-feira e até o fim do mês.

Com a venda de uma linha externa de US$ 300 milhões na segunda-feira, o Banco Central vai ofertar ao mercado US$ 1,5 bilhão, neste mês. Luiz Figueiredo argumentou que “nós sabemos que os preços no mercado não condizem com os fundamentos que temos e que teremos após as eleições”. A iniciativa do Banco Central contribuiu para o dólar comercial fechar em queda de 0,93% ontem, cotado a R$ 2,861 pela taxa do Banco Central (ver cotação na página 23). Pela manhã, o dólar abriu em forte alta e chegou a operar em nível recorde, vendido por R$ 2,946.

A pressão sobre o câmbio diminuiu depois que o BC anunciou pela manhã que volta a intervir no mercado de câmbio este mês. Na análise de Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB, a volta da política de intervenções diárias deverá acalmar o mercado. “Foi uma decisão correta do BC”, disse.

Pelo menos outros dois analistas concordaram com Abate. O diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, e o diretor do Banco Itaú e ex-diretor do Banco Central, Sergio Werlang. Castro disse que “os exportadores sabem que essa taxa de câmbio que está aí hoje é irreal”. Ele alega que uma taxa irreal em vez de beneficiar o exportador, na prática o prejudica pois confunde compradores estrangeiros. Para o diretor do Itaú “não adianta para nós ter uma taxa como essa, com o dólar muito alto. Werlang conclui que “se o BC anuncia uma medida dessas é porque as informações que têm devem estar indicando que a questão é só de falta de liquidez momentânea”, disse Werlang.

O diretor de câmbio da corretora Novação, Mario Battistel, também concorda que as intervenções do BC aliviarão, “moderadamente”, as pressões sobre o real. “Foi uma medida necessária”, afirmou. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola está convencido de que o mercado pode dar uma virada nas próximas semanas. “Acho que estamos na rabeira dos movimentos especulativos”, disse, apostando que há grande potencial para uma reversão de expectativas do mercado. “Quando o mercado está buscando uma reversão, uma medida do BC, como esta, pode ser o peteleco que faltava para essa reversão.”.

Apesar do otimismo dos analistas, o principal índice de percepção do risco Brasil termina o dia de ontem com a terceira alta seguida na semana. Segundo o Banco JP Morgan Chase, o EMBI+ brasileiro subiu 2,68% e encerrou aos 1.727 pontos.

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