BC ignora pressões e mantém Selic em 26,5%

Mesmo em meio a fortes pressões de empresários, da mídia e até mesmo de membros do governo, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) foi conservador e decidiu por unanimidade manter em 26,5% a taxa básica de juros da economia brasileira – a Selic. Esta é a terceira reunião consecutiva em que o BC não mexe nos juros.

Brasília (Das agências) – A manutenção dos juros demonstra a preocupação do BC com a inflação que, apesar dos índices recentes abaixo das expectativas, continua sendo uma “ameaça, uma febre”, conforme avaliação do presidente da instituição, Henrique Meirelles, feita na segunda-feira (19).

O Copom, após a reunião que terminou ontem (a reunião do Copom sempre dura dois dias e, a partir da próxima, em junho, será realizada em três dias), reafirmou a prudência em relação aos índices de preços.

“Há sinais de que a política monetária começa a obter resultados no combate à inflação. O Copom avala que a consolidação da queda da inflação depende da manutenção desse esforço. Diante disso, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa em 26,5% ao ano, sem viés”, informou o comitê por meio da assessoria de imprensa do BC.

A decisão do Copom serviu ainda para indicar que o BC não aceitou a pressão de vários setores do governo para a redução da Selic. Nos últimos dias, o vice-presidente da República, José Alencar, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT – SP), e o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) criticaram enfaticamente a taxa elevada da Selic.

Alencar, entre outras declarações, classificou o nível atual dos juros como um “assalto”. Anteontem contestou, também, a competência do Banco Central.

Ciro afirmou no Senado que “todos os brasileiros e todos os [integrantes] do governo querem a queda dos juros”. No entanto, se o BC reduzisse os juros embasado nos baixos índices de inflação neste mês e inclusive deflação – de acordo com o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas – o mercado poderia entender que a instituição estaria suscetível a pressões políticas e poderia ter sua credibilidade atingida.

Isso porque a manutenção dos juros é, de acordo com analistas, importante para o BC atingir a meta de inflação de 5,5% para 2004 -a meta de 2003, de 8,5%, deve estourar, segundo o próprio banco e, por isso, não estaria mais norteando suas decisões.

Na próxima semana, o Copom divulga a ata da reunião de ontem com as explicações para a manutenção dos juros.

Manutenção do juro divide opiniões

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 26,5% causou polêmica e dividiu opiniões entre os principais representantes da economia paranaense. “O sentimento foi de frustração, a taxa de juros já poderia baixar. O dólar já está achando seu rumo, e a confiança no Brasil está estabelecida”, comentou o presidente do Conselho Regional de Economia no Paraná (Corecon), Norberto Anacleto Ortigara. “Acho que já existe ambiente econômico para mexer nos juros, sem afugentar investidores estrangeiros.”

O presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Marcos Domakoski, concorda. “Faltou sensibilidade. Era importantíssimo reduzir a taxa de juros para propiciar empregos e colocar o Brasil longe da possibilidade de recessão”, opinou. Para ele, a valorização do real frente ao dólar e a queda de renda das pessoas seriam indicadores capazes de manter a inflação sob controle.

Para o presidente da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná (Faciap), Jefferson Nogaroli, o governo federal tinha condições técnicas e políticas para reduzir a taxa. “O excesso de conservadorismo ou ainda pressões políticas levaram à manutenção da Selic”, declarou. Para ele, “o governo está conduzindo o País bem, mas deveria ter coragem de diminuir, pelo menos, 0,25 ponto percentual da Selic.”

Sem surpresa

O operador de renda variável da Omar Camargo Corretora, Wilson Paese, recebeu a decisão do Copom sem surpresa e apoiou a atitude. “Foi uma decisão correta. O ideal é aguardar os indicadores (taxa de inflação) melhorarem”, apontou. Segundo ele, a queda da inflação ainda não chegou ao varejo. “Os preços poderiam sofrer repique (alta) se os juros caíssem.”

Para o analista de investimentos da SM Consultoria Econômica, Marcelo Martenetz, só a inflação mais baixa não é motivo para reduzir os juros. “O cenário internacional está conturbado. Mesmo que os juros caíssem 1,5%, será que os empresários contratariam mais gente?”, questionou. Outra preocupação de Martenetz é de que a possível queda dos juros provocasse alta do dólar. “Quase 47% da dívida brasileira está indexada ao dólar. Isso significa que aumentaria a dívida do governo.”

O diretor do Instituto Brasileiro dos Executivos Financeiros (Ibef), Ciro Possobom, também apoiou a decisão do Copom. “Não adianta cortar juros agora, porque só teria impacto em 2004. Acredito que a taxa venha a reduzir apenas no segundo semestre”, apontou. Segundo ele, a medida do BC foi “forte e corajosa.” “Apesar da alta de juros ser ruim para as empresas, ela sinaliza a postura cautelosa do Banco Central na condução da política monetária.”

Dólar em queda e risco-Brasil em 813 pontos

São Paulo  – Um ponto para o Copom. Ao manter os juros, ontem, o primeiro reflexo sentido no mercado foi a queda do dólar diante do real. A moeda americana fechou o dia em queda de 1,21%, cotado a R$ 2,998 na compra e R$ 3,003 na venda. O C-Bond subiu e o risco-País caiu 4,57%, para 813 pontos.

O dólar já operava em queda considerável antes do anúncio do BC e reforçou a tendência no período da tarde. O volume de negócios foi baixo e concentrado principalmente no giro rápido das tesourarias bancárias. A queda foi atribuída principalmente a uma realização de lucros, uma vez que a moeda havia subido 3,23% nos últimos dois dias.

O risco de recessão global, a alta do euro frente ao dólar e as ameaças de ataques terroristas nos Estados Unidos ainda preocupam. Outro destaque do dia foi o discurso do presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Alan Greenspan. O presidente do Fed não trouxe novidades significativas, mas deixou uma mensagem mais otimista, minimizando o risco de uma recessão no país. O tom mais moderado do Fed acabou contribuindo para o clima mais tranqüilo no Brasil.

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