O nervosismo dos mercados globais com o rebaixamento da classificação de risco dos Estados Unidos, de AAA para AA+, pela Standard & Poor’s, deverá forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a sinalizar mais ajuda à economia americana amanhã, após a reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) para definir as taxas de juros.

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Mesmo que nenhuma medida oficial seja anunciada, os analistas internacionais esperam reação do Fed para tentar acalmar os investidores e autoridades mundiais, por meio do comunicado após a reunião do Fomc, que deverá manter a taxa de juros americana entre 0 e 0,25%.

“O Fomc deverá deixar aberta a porta para a adoção do QE3 (programa de afrouxamento quantitativo) no comunicado após a decisão sobre juros”, disse à Agência Estado o diretor para mercados emergentes do banco RBC Capital Markets, em Toronto (Canadá). “Se houver uma forte queda nos mercados financeiros internacionais, o que poderá afetar a confiança dos consumidores e das empresas para gastar, então o Fed terá de acalmar os investidores e neutralizar essas pressões de baixa, afirmando no comunicado que está mais inclinado à ideia do QE3.”

Antes do rebaixamento do rating soberano dos Estados Unidos, na sexta-feira à noite, os analistas e investidores consideravam bastante improvável a adoção da terceira rodada do programa de flexibilização quantitativa, algo que o próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, praticamente havia descartado na sua mais recente aparição no Congresso para testemunhar sobre a política monetária, quando enfatizou a pequena tolerância do Fed em inchar mais o seu balanço patrimonial comprando títulos do Tesouro americano e papéis lastreados em hipotecas.

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Os programas de flexibilização quantitativa foram essenciais desde o final de 2008 para evitar uma contração econômica mais forte dos EUA, pois ajudavam a reduzir as taxas de juros de longo prazo, dando um fôlego maior para famílias e empresas americanas ao baixar o custo dos financiamentos e das dívidas já contraídas. O efeito colateral foi empurrar os investidores para moedas e ativos de países que mantêm taxas de juros mais elevadas, como o Brasil.

Na segunda rodada do programa de afrouxamento, o QE2, que terminou em junho passado, o Fed injetou US$ 600 bilhões na economia americana ao comprar aqueles ativos. No QE1, o Fed gastou cerca de US$ 1,7 trilhão entre março de 2009 e março de 2010. Além disso, em agosto do ano passado, o Fed passou a reinvestir o rendimento dos ativos que detém no seu balanço, comprando mais títulos do Tesouro em substituição aos papéis que estão vencendo, o que evita, na prática, um aperto da política monetária.

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“O Fed será mais enérgico ao comunicar sua preocupação com a fraqueza da economia e os riscos negativos, o que poderá ser interpretado pelo mercado como mais ajuda a caminho ou que o Fed manterá a política monetária acomodatícia por um período muito mais longo do que o inicialmente previsto”, afirmou à Agência Estado Antulio Bomfim, diretor-gerente da Macroeconomic Advisors, consultoria com sede em Washington e especializada em política monetária dos EUA. “O comunicado do Fomc vai definitivamente mostrar mais preocupação com a desaceleração econômica.”

Para Bomfim, o Fed deverá anunciar que não irá descontinuar o programa de reinvestimento dos recursos recebidos com o vencimento dos títulos do Tesouro na sua carteira. “No comunicado, o Fed poderá não dar ideia de prazo para esse programa de reinvestimento acabar, mas acho que em relação ao QE3 ainda é cedo para antecipar a adoção de uma medida como essa.”

Na opinião dos economistas da Nomura Securities International, a opção do Fed para acalmar os mercados será por meio da política da “boca aberta”, ou seja, irá vociferar sua preocupação, acalmando o mercado no “gogó”.