Bayer, em crise, anuncia demissões

A multinacional Bayer AG vai demitir 15 mil empregados no mundo inteiro para enfrentar a crise gerada pelo caso Lipobay. Segundo confirmou o presidente da empresa, Werner Wenning, 5.700 vítimas do remédio – que era usado para baixar a taxa de colesterol do sangue, sobretudo nos EUA – entrarão com um processo contra a empresa em busca de indenização. Nos últimos dois anos, cem pessoas morreram em conseqüência dos efeitos colaterais do remédio, enquanto que os demais passaram a ter graves problemas de saúde.

Para enfrentar a atual crise, a Bayer AG busca uma aliança ou até venda do setor farmacêutico, onde está disposta a ceder a maioria dos negócios. A decisão causou polêmica entre os diretores da casa, depois que a empresa conseguiu a licença para a venda de um novo antibiótico nos EUA, o Cipro XR, contra infecções das vias urinárias, com o qual a Bayer espera atenuar as perdas.

A Bayer vendeu os setores de agrotóxicos, parte da empresa Agfa e de laboratórios farmacêuticos na Espanha e na França para tocar sua política de racionalização. A decisão de demitir 15 mil empregados no mundo inteiro faz parte do plano de Bayer de reduzir os custos em, no mínimo, um bilhão de euros.

Detalhes sobre quantos empregados serão demitidos em cada uma das filiais estrangeiras não foram ainda revelados, mas, segundo a porta-voz da empresa em Leverkusen, Anette Jüsten, a filial brasileira também será afetada.

– Cada filial vai apresentar a sua proposta de redução de custos e só depois disso serão decididos os detalhes do programa – disse ela.

Segundo Wenning, os cortes deverão ser realizados até 2005.

Mas outros golpes ameaçam o setor farmacêutico da empresa. Na Inglaterra, as autoridades alertaram para o perigo de graves efeitos colaterais da Aspirina para pessoas abaixo de 16 anos. É o principal produto da Bayer, que fez a empresa crescer a partir de 1891. Embora, com a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, a Bayer tenha perdido o direito da marca na Inglaterra, a advertência pode prejudicar ainda mais sua imagem.

Outro golpe para a empresa foi o processo aberto pela Pfizer americana, produtora do Viagra, contra os concorrentes que iam lançar produtos semelhantes. A Bayer já tem um produto pronto, o Levitra, que desenvolveu com a Glaxo e que deveria render US$ 1 bilhão por ano. Mas a Pfizer, que anualmente fatura US$ 1,5 bilhão com o Viagra, tem até 2019 uma patente não só da fórmula do remédio como também da função de determinada enzima humana.

Perdas causaram também um remédio contra o mal de Alzheimer, o Metrifonat, o fim do vigor da patente do antibiótico Cypro e a estagnação atual da economia alemã. Mas Werner Wenning também assume alguma culpa pela crise:

– Enquanto os concorrentes se uniram em fusões, perdemos a chance de cooperações para enfrentar a fase atual – diz ele.

História de altos e baixos

Em 1988, a Bayer era uma empresa poderosa. Ocupava a sexta posição no ranking internacional das empresas farmacêuticas. Bons tempos. Hoje, o grupo ocupa apenas o 16o lugar, acompanhando a queda geral da economia alemã nos últimos anos.

Para a Bayer, no entanto, essa reviravolta não é exatamente inédita. Na verdade, a história da empresa que foi fundada em 1863 pelo comerciante Friedrich Bayer foi sempre de altos e baixos. Depois de ter crescido com a aspirina e de ter se unido a outras empresas químicas alemãs para formar a IG Farben – que produziu durante a ditadura nazista o gás usado em Auschwitz e em outros campos de concentração – em 1945 o grupo foi fechado e desmembrado pelos aliados vencedores da Segunda Guerra Mundial.

Em 1951, a empresa foi reaberta com o nome de Bayer AG. Até o caso Lipobay, a empresa que tem hoje no mundo inteiro 128 mil empregados crescia e se expandia todos os anos.

Com a crise atual, o presidente Werner Wenning resolveu até ceder a uma concorrente o controle do seu setor farmacêutico, que é o coração da Bayer AG. Mas há quem aposte: a empresa vai dar nova volta por cima.

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