Banco Central surpreende e volta a elevar os juros

Com uma inflação acumulada em 12 meses acima do objetivo para o ano e as expectativas por parte do mercado em alta, o Banco Central decidiu manter o aperto na política monetária. Surpreendendo a maior parte dos analistas de mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) elevou em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, para 19,5% ao ano.

É a oitava elevação consecutiva – a maior seqüência de altas na história das reuniões do comitê. Acima deste patamar, só a taxa anunciada na reunião de setembro de 2003, quando os juros foram fixados em 20%.

?Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 19,5% ao ano, sem viés?, diz a nota divulgada pelo Copom.

Quando os juros sobem, o crédito para pessoas e empresas fica mais caro, com isso, a tendência é que o consumo caia. Com consumo menor, a autoridade monetária consegue assegurar a estabilidade da moeda.

A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no acumulado de 12 meses até março está em 7,54%. Bem acima do objetivo do BC para o ano, que é uma inflação de 5,1%.

O IPCA é o indicador usado pelo governo para as metas de inflação, que neste ano é de 4,5%, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Isso significa que a inflação no período de 12 meses está acima inclusive do teto das metas de inflação, que é de 7%. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro do ano passado que irá perseguir uma inflação de 5,1%.

De acordo com o boletim Focus, divulgado semanalmente pelo BC, o mercado elevou a projeção de IPCA para 6,10%. Era de 5,77% antes da reunião do Copom de março.

O fim do processo de alta dos juros, quando acontecer, deve agradar parcialmente a empresários, sindicalistas e a classe política em geral, que vêm pressionando fortemente o BC nos últimos meses. Enquanto isso, o BC irá receber uma série de críticas por decidir pela oitava vez elevar a Selic.

Um dos riscos dessa política mais dura do BC é provocar uma desaceleração do crescimento da economia. No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) teve um crescimento de 5,2%, o maior desde 1994. A expansão da indústria foi de 8,3% – o melhor desempenho em 18 anos.

Entidades criticam elevação do juro

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, criticou a decisão do Copom, de elevar em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, para 19,5% ao ano. Segundo ele, a decisão do Copom frustou a sociedade, que aguardava a fumaça branca da redução dos juros – numa referência ao sinal de escolha do novo papa.

Para o empresário, os elevados patamares da Selic e da TJLP, os altos impostos e o câmbio sobrevalorizado estão entre os fatores que ?ceifam a competitividade do Brasil?.

?Sabemos que a taxa de juros e a conseqüente valorização cambial têm segurado o crescimento do País. Por isto, cobramos a urgente redução da Selic e da TJLP, para podermos acompanhar mais de perto o crescimento das economias emergentes?, disse Skaf em nota oficial.

O presidente da Abiesv (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo), Marcos Andrade, disse que a decisão do Copom ?contraria a lógica e o bom senso?.

?As sucessivas altas nos juros estão sufocando cada vez mais a indústria que fornece equipamentos para o varejo. Mais uma vez, o BC frustra o setor produtivo nacional e compromete o desempenho da economia em 2005?, afirmou Andrade.

Sem reflexos

Para a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), a decisão do Copom afetará pouco as operações de crédito no mercado. Isso ocorrerá, segundo a Anefac, porque existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas cobradas ao consumidor – que na média da pessoa física atingem 139,51% ao ano.

Mesmo assim, a Anefac divulgou nota informando que a decisão do Copom foi ?inoportuna, desnecessária e equivocada?.

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