Banco Central reduz compulsório e espera queda no juro

O Banco Central reduziu o recolhimento do compulsório sobre depósitos à vista – dinheiro que os bancos são obrigados a recolher ao BC – de 60% para 45%. A redução do compulsório é umas das medidas anunciadas pelo governo para retomar o crescimento da economia, junto com a queda na taxa básica de juros.

Com a queda do compulsório, os bancos teriam mais dinheiro para aumentar o crédito. Mas não há garantias de que essa oferta irá realmente aumentar. Em tese, com mais dinheiro em caixa, os bancos poderiam oferecer mais empréstimos aos seus clientes, além de poder reduzir um pouco a taxa dos juros bancários.

“O BC adotou mais esse passo no processo de flexibilização da política monetária. Essa medida terá impacto direto no spread bancário, permitindo que os bancos promovam redução no custo do crédito ao tomador”, informou a instituição.

O BC disse que a medida foi possível graças à queda nas taxas de inflação, que estão se aproximando das metas do governo e à “normalização” da economia brasileira. “A redução não compromete as conquistas obtidas recentemente no combate à inflação”, disse o BC.

Expectativa

O anúncio da decisão era esperado desde a semana passada. O ministro Palocci orientou Meirelles a baixar o compulsório, como forma de estimular a economia. Meirelles aceitou o pedido de Palocci. Os dois acertaram o anúncio da medida para a semana passada. O BC pediu, no entanto, um pouco mais de tempo para concluir os estudos sobre os novos percentuais para o compulsório e adiou o anúncio para o início desta semana.

Durante reunião com a bancada do PT, no fim de semana passado, o ministro José Dirceu disse que a queda no compulsório ocorreria em breve, durante esta semana.

Mas o Banco Central alegava que, com o aumento da cotação do dólar no início da semana, o dinheiro poderia ser usado, para a compra da moeda norte-americana, em vez de ser direcionado ao crédito.

Injeção de recursos

A redução do compulsório libera uma quantia de R$ 8,2 bilhões para serem aplicados na economia brasileira, segundo cálculos do Banco Central.

A medida vale a partir da próxima segunda-feira (11) para alguns bancos e somente no dia 18 para outros, de acordo com as classificações do BC.

O economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Roberto Troster, disse ontem que os bancos arrecadam cerca de R$ 51 bilhões de compulsório. Com a redução, aproximadamente R$ 7,5 bilhões iriam para o mercado.

Para Troster, em um primeiro momento, a redução do compulsório deve fazer os bancos apostarem na compra de títulos do governo e também na elevação de crédito.

O BC disse acreditar que essa medida terá impacto direto no “spread” bancário, permitindo que os bancos promovam redução nos juros.

Medida divide centrais sindicais

São Paulo

(AE) – A redução do depósito compulsório anunciada ontem pelo Banco Central (BC) foi comemorada pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, que considera a medida mais uma iniciativa do governo federal para garantir a retomada do crescimento econômico.

“Temos sinais mais claros da formação de um clima favorável para a retomada do crescimento econômico a partir deste segundo semestre”, afirmou. “Além da queda do compulsório, que tem um efeito mais imediato sobre o crédito, e da sinalização de juros declinantes para os próximos meses, o governo lançou programas capazes de estimular um pouco mais a economia, caso do microcrédito e dos financiamentos para agricultura familiar”, citou.

O sindicalista avaliou que outras medidas a serem anunciadas nos próximos dias pelo governo deverão fortalecer o cenário positivo. “Até o final do mês, o governo deve editar a medida provisória que prevê desconto em folha de pagamento de empréstimos tomados por trabalhadores. Isso vai baratear os financiamentos e estimular a economia”, estimou.

Outro ponto citado pelo sindicalista é o avanço das negociações de acordos setoriais, como o efetivado no setor automotivo, com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 3 pontos porcentuais. “Estamos em fase de negociação e logo teremos novidades”, limitou-se a dizer.

Para complementar as ações de incentivo à atividade econômica, Marinho sugeriu ao governo a retomada dos investimentos em setores de infra-estrutura, especialmente em construção civil, saneamento básico e transportes. “São os setores que respondem mais rapidamente com geração de emprego aos investimentos. Além disso, precisamos investir em logística para darmos condições de as exportações crescerem”, justificou.

Força Sindical reclama

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, avaliou como positiva, mas uma medida tímida, a redução de 60% para 45% do depósito compulsório.

“Infelizmente, ainda não é o bastante para acabar com a estagnação econômica pela qual passa nosso País. É ilusão acreditar que medidas tímidas, nas atuais condições em que se encontra o País, podem fomentar a produção, gerar riquezas e promover justiça social”, afirmou Paulinho, em nota.

Segundo ele, é fundamental que o governo não apenas reduza o compulsório, mas também que os juros caiam dos atuais “patamares insuportáveis”. “Além disso, o governo precisa promover o descontingenciamento das verbas públicas e estancar esse processo suicida de gerar superávits primários gigantescos, de 4,25% do PIB”, finalizou.

Bancos já anunciam novas taxas

O Bradesco foi o segundo banco a anunciar o corte nas taxas de juros, após a redução do depósito compulsório à vista de 60% para 45% determinada ontem pelo Banco Central. O banco informou que o “objetivo é ampliar os volumes de crédito da economia”.

“Essa queda de juros de nossos produtos vai abrir espaço para uma nova demanda, principalmente por ter sido efetivada em linhas de grande utilização. Além disso, reduzimos significativamente o juro de linhas para pessoas jurídicas, setor fundamental para gerar mais produção e emprego”, diz nota do presidente do banco, Marcio Cypriano.

A partir da próxima segunda-feira, as taxas mínimas do desconto de duplicatas e de cheques vão cair de 2,75% para 2,52% ao mês no Bradesco.

Para financiar capital de giro, o banco baixou o juro de 3,75% para 3,53% ao mês. A taxa mínima para saque fácil passou de 4,10% para 3,75% ao mês.

Teve queda também o juro do cheque especial. A taxa máxima cobrada nesta modalidade passou de 9,30% para 8,70% ao mês e a mínima de 3,72% para 3,48%. Para o crédito pessoal, a taxa mensal máxima caiu de 5,89% para 5,45% e a mínima de 4,80% para 3,90%.

Itaú fez o primeiro anúncio Primeiro a anunciar o corte dos juros após o anúncio do BC, o Itaú também reduz, a partir de segunda, as taxas cobradas dos clientes em operações de crédito (cheque especial, crédito pessoal e desconto de duplicatas).

O Itaú afirmou que o corte faz parte da sequência de reduções das taxas, anunciadas em 18 de junho, 4 e 24 de julho.

Para o cheque especial de pessoa física, a taxa máxima cai de 9,35% para 8,90% ao mês. Já a mínima, de 3,35% para 3,20% ao mês.

Para o crédito pessoal (crediário), a máxima passa de 6,45% para 6,25% ao mês, enquanto a mínima de 4,20% para 3,95% ao mês.

No cheque especial de pessoa jurídica (varejo), a taxa vai de 8,30% para 7,90% ao mês. Para desconto de duplicatas (varejo), a máxima cai de 4,30% para 3,95% ao mês, enquanto a mínima recua de 3,30% para 2,95% ao mês.

BB

O Banco do Brasil, por sua vez, afirmou que está avaliando os impactos da queda no compulsório e informou que em razão de reduções anteriores no juro já trabalha com uma das menores taxas do mercado.

O juro máximo cobrado pelo banco para uso do cheque especial, por exemplo, está em 8,7% ao mês e o mínimo, em 2,65% ao mês. O banco informou, porém, que deve anunciar alguma decisão sobre juro na próxima semana.

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