O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) não deverá baixar a taxa básica de juros, a Selic, na sua reunião mensal, que começou ontem e termina hoje. Segundo alguns analistas, já há condições para começar o recuo dos juros, mas o BC deve dar uma demonstração de força para deixar evidente que não age sob pressão.

Mais do que a queda da Selic, estaria em jogo na reunião do Copom a credibilidade do BC. “O BC é o guardião da moeda e vem afirmando que a inflação ainda preocupa e não dá para baixar os juros. Se recuar diante do crescimento do coro em favor do corte dos juros, perde credibilidade. Estive no governo e, muitas vezes, mudamos uma decisão para não agir sob pressão”, diz Cláudio Adilson Gonçalez, sócio da MCM Consultores e ex-chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda (1989 a 1990).

O economista Francisco Lopreatto, professor da Unicamp, também vê um embate político por trás da decisão que o Copom tomará. “Embora todos os sinais da economia apontem para baixo – inflação caindo, atividade econômica baixa, risco de deflação no resto do mundo -, o Copom não deverá cortar os juros neste momento”, diz. Segundo ele, a decisão sobre os juros contrapõe, no governo, duas linhas divergentes de política econômica. “Em um mês o BC acredita que poderá cortar os juros dentro da ortodoxia da política econômica.”

Para manter a taxa de juros, o Copom deverá aferrar-se aos argumentos técnicos – principalmente a chamada “inércia inflacionária”. E, segundo Gonçalez, os dados que indicam a inércia ainda são dúbios. O núcleo do IPCA está oscilando entre 14% e 10%, anualizado.

O núcleo da inflação medido pelo método de médias aparadas (excluem-se as maiores e menores altas) mostrará, em abril, uma inflação anualizada de 14%; já o núcleo expurgado dos preços administrados aponta 11% e, tirando também a sazonalidade de alguns alimentos, vai para 10,2%.

Viés

Luís Suzigan, economista-chefe da LCA, sustenta que há espaço para um corte de três pontos percentuais nos juros, até julho. “O melhor momento será na virada de maio para junho, quando o núcleo da inflação deverá desacelerar mais.” Por isso ele diz que o Copom deverá aprovar um viés de baixa, hoje, e começar a cortar a taxa de juros antes da próxima reunião.

Mercado faz ajustes

Bancos, empresas e investidores reavaliam as perspectivas para a economia brasileira e mundial e aos poucos deixam de lado a euforia das últimas semanas, quando o dólar foi negociado abaixo de R$ 3 e o risco-Brasil experimentou o patamar dos 700 pontos. Assim, o dólar comercial terminou a terça-feira em alta de 1,33%, vendido a R$ 3,040. Este foi seu segundo dia consecutivo de valorização, e a moeda atingiu sua maior cotação desde o dia 5.

Apesar de o cenário interno se manter positivo – números recém-divulgados mostram tendência de desaceleração na inflação; a balança comercial também registra superávit recorde -, a cautela toma o lugar do otimismo exagerado na busca de um novo patamar de equilíbrio para o dólar. Além disso, o perigo de uma recessão mundial e a possibilidade de novos atentados terroristas contra os Estados Unidos e países aliados assustam.

Risco e dívida

Os investidores continuam embolsando lucros no mercado de dívida. O C-Bond, principal título da dívida externa do país, foi vendido ontem a 86,5% do valor de face, com baixa de 0,57%. O risco Brasil avançou 2,77%, para 852 pontos.

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