A percepção de avanço de candidaturas que representam extremos ideológicos aos olhos do mercado, casos de Ciro Gomes (PDT) e de Jair Bolsonaro (PSL), tem contribuído para o sentimento de desalento de investidores. Eles antecipam risco de desfecho eleitoral desfavorável à agenda de reformas e, consequentemente, ao desempenho da economia, segundo levantamento feito por O Estado de S. Paulo com dez instituições financeiras e sondagem feita pela XP Investimentos com 204 investidores.

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Tal avaliação vem sendo embalada pelo mau desempenho nas pesquisas de candidatos vistos como fiscalmente responsáveis, como Geraldo Alckmin (PSDB), que segue patinando, e Henrique Meirelles (MDB), que demonstra raquitismo nas prévias eleitorais.

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Analistas avaliam que Bolsonaro e Ciro se fortaleceram com a crise política provocada pela greve dos caminhoneiros e a fragilidade do governo Temer. A leitura, diante do apoio popular ao movimento grevista, é de que um candidato reformista tem menos chances de ser eleito. “O comprometimento do candidato que o mercado quer, de prosseguir com a agenda de reformas, não é o mesmo do eleitor comum”, afirma Sérgio Lazzarini, professor do Insper.

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O descompasso entre a aspiração dos investidores e as indicações recentes do eleitorado, que sinaliza aderência a discursos mais populistas, tem forçado o mercado a refazer suas contas, diz Paulo Leme, da Vinland Capital. “Há contraste cruel entre o que o mercado idealizou e a realidade crua da política brasileira.”

O revés nas expectativas transpareceu de forma mais clara nos últimos dias em sondagem da XP Investimentos, que, desde 2017, reúne impressões dos investidores sobre os presidenciáveis. Até abril deste ano, o levantamento mostrava que as fichas do mercado estavam na candidatura de Alckmin, a quem se atribuía boas chances de chegar ao Planalto. Agora a pesquisa, que ouviu 204 investidores nos dias 4 e 5 de junho, indicou aposta maior num segundo turno entre Ciro e Bolsonaro, com investidores creditando mais chances de vitória ao deputado.

O problema aos olhos do mercado é que nenhum dos dois desfruta, por ora, da confiança que os investidores depositam em Alckmin, cuja eleição levaria à alta da Bolsa e à queda do dólar e dos juros para a maior parte dos investidores ouvidos pela XP.

Na comparação com Bolsonaro, Ciro assusta mais. Dos entrevistados, 94% apostam que, se ele vencer, a Bolsa recuará. Já 80% projetam desvalorização do câmbio, levando o dólar para mais de R$ 4.

Entre as instituições ouvidas pelo Estado, que falaram sob reserva, foi manifestada preocupação em relação ao discurso de Ciro de ingerência na economia, de uso das estatais e de aumento de impostos em detrimento do corte de gastos.

A avaliação do “risco Bolsonaro” vem melhorando a cada sondagem da XP, mas o mercado ainda se mostra reticente. A maior parte (51%) não acredita na capacidade de a vitória de Bolsonaro impulsionar a Bolsa e 45% dizem que sua vitória levaria à alta do dólar.

Desconfiança

Os investidores que falaram ao Estado demonstraram incerteza em relação ao comprometimento de Bolsonaro com a agenda liberal que vem sendo propagada por Paulo Guedes, que coordena o programa econômico do deputado. A maior parte dos investidores citou posicionamentos estatizantes e intervencionistas de Bolsonaro no passado como razão para a desconfiança. Também é motivo de temor o fato de Bolsonaro pertencer a um partido pequeno, o que levaria à dificuldade de articular a aprovação de medidas no Congresso.

Ainda correndo por fora, à espera de uma decisão do PT, Fernando Haddad desperta desconfiança tanto quanto Ciro Gomes. Se eleito, a Bolsa cairia do patamar atual, segundo 94% dos investidores ouvidos pela XP. Para 51%, cairia abaixo dos 65 mil pontos. O câmbio ficaria acima de R$ 4 para 70% dos consultados.

Para Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, o cenário de pânico visto no mercado financeiro nos últimos dias é um sinal de alerta tanto para a sociedade quanto para os pré-candidatos. Fuga de capitais, alta no dólar e desvalorização de ações na Bolsa seriam uma antecipação do que poderia ocorrer num governo populista.

Segundo o cientista político do Insper, Carlos Melo, o maior risco, nesse caso, é de “desinstitucionalização”. “Um líder populista renega a lei e esvazia as instituições. Na economia, por exemplo, não haverá regras e normas claras”, afirma. “Não há como ter desenvolvimento nem bem-estar econômico.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.