Ata do Copom admite que juros podem subir

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) vê maior a possibilidade de um novo aumento de juros nos próximos meses para conter a inflação. Segundo a ata da última reunião do comitê divulgada ontem, no último mês cresceu o risco de que fatores que pressionam a inflação o obriguem a tomar uma “postura mais ativa com a política monetária”.

“Dois fatores fizeram com que esse risco sofresse alguma elevação. O primeiro é a alta dos preços do petróleo, na medida em que essa alta possa se tornar não só mais intensa como também mais persistente do que se antevia. (…) O segundo, que conta com alguma contribuição das próprias perspectivas para o preço do petróleo, é o movimento ainda incipiente de deterioração das expectativas de inflação para 2005”, diz a ata da reunião da semana passada, quando os diretores do BC decidiram, por unanimidade, manter a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em 16% ao ano.

Mas o Copom avisa que uma possível alta de juros ainda não está decidida: “O quadro não está consolidado em relação a um (petróleo) ou outro (expectativa de inflação de 2005) fator de exacerbação e o Copom precisará se manter atento a novos desenvolvimentos nessas duas frentes”.

Sempre que aumenta os juros, o Copom é fortemente criticado por empresários, sindicalistas e a classe política em geral por supostamente frear a atividade econômica e contribuir para o aumento do desemprego.

Na ata divulgada ontem, o Copom já se antecipa a essas críticas. “Mesmo que o cenário inflacionário venha a requerer um ajuste na taxa de juros básica, é importante reiterar que isso não acarretará prejuízos ao processo de crescimento sustentado da economia brasileira”, diz o comitê.

E continua: “É preservando seu compromisso com o combate aos efeitos de segunda ordem dos choques de oferta que possam se materializar e com a manutenção da necessária compatibilidade entre o ritmo de crescimento da demanda e da capacidade produtiva da economia que a política monetária dá sua contribuição fundamental ao crescimento sustentado”.

Por último, uma possível alta de juro, segundo o Copom, poderia ser benéfica até mesmo para os trabalhadores. “Manter a inflação em trajetória compatível com as metas é essencial para que se preservem os ganhos de renda real do trabalho, que viabilizam uma expansão persistente e cada vez mais equilibrada dos diversos segmentos da demanda doméstica e permitem que os benefícios do crescimento repercutam diretamente na qualidade de vida da população”, afirma a ata.

Petróleo é preocupação

O Copom considera que a alta do preço do petróleo representa “a principal preocupação” para a economia internacional e admite que o aumento do valor do barril possa levar a um novo reajuste dos preços da gasolina no Brasil em 2004 ou em 2005. Na ata de sua última reunião, divulgada ontem, o comitê afirma que continua trabalhando com a estimativa de um aumento de 9,5% para os preços da gasolina em 2004 na comparação com a média de preços do ano passado.

No entanto, o comitê afirma que essa projeção foi feita com base em uma cotação do barril do petróleo de US$ 35. Na semana passada, o petróleo chegou a US$ 49 na Bolsa Mercantil de Nova York e, ontem, caiu para valores próximos a US$ 43.

O Copom diz que ainda trabalha com os US$ 35 porque considera a alta “especulativa” e afirma que “os preços poderiam retroceder em breve mesmo com a inevitável permanência de alguns focos de tensão geopolítica” – em parte, os preços têm avançado por conta de atentados e incertezas no Iraque.

Gás, energia e telefone

Na ata divulgada ontem, o Copom também manteve suas previsões de aumento neste ano para os preços do gás de botijão (6,8%), energia elétrica (11,6%) e telefone fixo (12,8%).

No entanto, o comitê elevou sua projeção de alta para o conjunto de preços administrados (o que inclui água, luz, telefone, gasolina, entre outros) no próximo ano, de 6% para 6,3%.

Isso porque a inflação que serve de indexador para boa parte dos contratos de concessão de serviços públicos deve ficar neste ano acima do projetado, elevando o índice de reajuste em 2005.

Mercado aposta que sobe

As apostas de que o Banco Central poderá elevar a taxa básica de juros da economia ainda este ano cresceram após a divulgação da última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) ontem.

No texto, o BC reafirma a sua preocupação com a pressão que o atual nível do preço do petróleo no mercado internacional pode ter sobre a inflação no Brasil e considera a possibilidade de haver um novo reajuste da gasolina nas próximas semanas.

O texto da ata foi considerado pessimista por muitos economistas, que já haviam descartado corte dos juros neste ano por conta da ata anterior. No mês passado o BC disse que adotaria postura “mais ativa” em relação ao juro se sentisse necessidade.

Na ata, o Copom reforçou essa posição, apesar de afirmar que o “quadro não está consolidado” em relação aos fatores de pressão sobre a inflação – leia-se petróleo. “A ata teve tom mais pessimista que a do mês passado”, afirmou o economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi, que ressaltou o fato de o BC informar que em caso de alta, o novo patamar do juro não chegaria ao nível de prejudicar a retomada do crescimento da economia.

Os economistas do HSBC, em relatório divulgado ontem, interpretaram o texto da ata como “bastante conservador, sinalizando uma possibilidade mais elevada de alta dos juros nos próximos meses”. Já os economistas do Bradesco viram um “viés de alta dos juros” na ata divulgada ontem.

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