Assalariados pagam mais imposto que os bancos

Os trabalhadores assalariados pagaram em 2002 quase cinco vezes mais Imposto de Renda do que as instituições financeiras. Levantamento feito pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a pedido da Folha Online (site de notícias do jornal Folha de S. Paulo), mostra que no ano passado os trabalhadores, que são tributados diretamente na fonte, pagaram R$ 26,94 bilhões em Imposto de Renda. No mesmo ano, o IR dos bancos ? os campeões de lucratividade no Brasil ? totalizou R$ 5,70 bilhões. Em valores nominais, a diferença é de 372,63%.

Apesar de ainda grande, a diferença de tributação de assalariados e bancos caiu nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. De 1995 a 2002, o desconto do IR sobre os salários registrou um aumento nominal de 106,6%, passando de R$ 13,04 bilhões (1995) para R$ 26,94 bilhões (2002). Em termos reais, o crescimento foi de 38%. No mesmo período, o IR pago pelas instituições financeiras registrou um avanço nominal de 391%, passando de R$ 1,16 bilhão em 1995 para R$ 5,70 bilhões em 2002. O aumento real foi de 139%.

O estudo do IBPT mostra também que o IR pago pelos bancos registrou um aumento real e nominal maior do que o recolhido pelas pessoas jurídicas (empresas) em geral.

O Imposto de Renda pago pelas pessoas jurídicas passou de R$ 9,34 bilhões em 1995 para R$ 33,89 bilhões em 2002, o que representou um crescimento nominal de 262,85% e real de 93%.

“Vale lembrar que o IR pago pelas pessoas jurídicas em 2002 foi turbinado pela arrecadação extraordinária dos fundos de pensão”, disse o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral.

Segundo ele, sem contabilizar o IR pago em atraso pelos fundos de pensão e outras receitas extraordinárias, o imposto pago pelas pessoas jurídicas em 2002 totalizaria R$ 24,59 bilhões, o que corresponderia a um aumento real de 58% em comparação a 1995. Em valores nominais, o avanço seria de 163%.

Para Amaral, o montante pago em IR pelos trabalhadores e empresas não é o único indicador da desigualdade da tributação. “Não dá para comparar pessoa física com pessoa jurídica, pois são realidades distintas. A desigualdade está na forma de tributação do IR entre as pessoas jurídicas.”

Desigualdade

Levantamento feito pelo IBPT mostra que a classe média é quem mais paga Imposto de Renda sobre salários no país. O IBPT dividiu o IR recolhido sobre os salários em três faixas salariais: até R$ 2.000 (classe baixa), de R$ 2.000,01 a R$ 10 mil (classe média) e acima de R$ 10 mil (classe alta).

De acordo com o estudo, a classe média pagou 63,85% de todo IR retido na fonte em 2002. Os assalariados de baixa renda pagaram 9,75% do IR recolhido no passado enquanto a classe alta respondeu por 26,4% da arrecadação.

“As classes alta e baixa foram as que menos pagaram imposto de renda. A tabela atual de alíquotas de Imposto de Renda penaliza mais a classe média, que é tributada diretamente em seu holerite”, disse Amaral.

Segundo ele, aumentar a alíquota máxima do IR para 35%, como prevê o estudo do governo federal, não resolve a desigualdade tributária. “É preciso reestruturar toda a tabela do IR. Uma maneira de reduzir a desigualdade tributária para as pessoas físicas seria aumentar o número de alíquotas. E também reduzir a alíquota inicial.”

Amaral sugere que a tabela de IR tenha pelo menos sete alíquotas: 5%, 10%, 15%, 20%, 25%, 30% e 35%. A tabela atual isenta do IR os trabalhadores que ganham até R$ 1.058 por mês. Acima dessa faixa, existem duas alíquotas: 15% e 27,5%. A primeira recai sobre salários até R$ 2.115. A alíquota de 27,5% incide sobre rendimentos superiores a esse valor.

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