Argentina suspende as restrições a eletros do Brasil

O governo brasileiro interveio e a Argentina decidiu aguardar que os fabricantes de eletrodomésticos brasileiros e argentinos entrem em negociação antes de impor restrição às importações brasileiras. A informação foi dada ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

De acordo com Furlan, o ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna, prometeu que a regulamentação da medida que impôs tarifas mais altas para os eletroeletrônicos brasileiros não será imediata.

?Falei com o ministro Lavagna e as medidas estão em suspensão. Na conversa, Lavagna esclareceu que a resolução só entrará em vigor após regulamentação das autoridades argentinas?, disse ele ontem em São Paulo, após evento na Bovespa.
Segundo Furlan, o ministro argentino ?assumiu o compromisso de estimular os setores privados da Argentina e do Brasil a sentar na mesa e buscar um acordo negociado antes da aplicação de qualquer medida de sanções ao setor?.

Segundo nota do ministério, uma cláusula contida nas restrições aos eletrodomésticos de linha branca brasileiros – geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupa – faz com que essa nova medida só seja implementada mediante regulamentação. Em relação à adoção da alíquota de 21% para as importações argentinas de televisores brasileiros fabricados na Zona Franca de Manaus, o ministério informou que analisa se medida está de acordo com as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).

Os dois ministros devem discutir o assunto hoje em Puerto Iguazu (Argentina), onde ocorre a reunião da cúpula do Mercosul.

Medidas vão provocar desemprego

As empresas brasileiras de eletrodomésticos podem ser obrigadas a demitir cerca de 1.000 funcionários caso sejam confirmadas as restrições criadas pelo governo argentino para a importação de eletrodomésticos. Segundo a Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), a decisão, tomada por um dos principais importadores de eletrodomésticos do Brasil, pode representar também o fechamento de pelo menos uma fábrica no país.

Anteontem o ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna, decidiu pela retirada da licença prévia para a importação de geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupa. O principal fornecedor desses produtos são empresas brasileiras, que, agora, terão de enfrentar maior burocracia para exportá-los.

Lavagna também instituiu um imposto de 21% para a importação de televisores da Zona Franca de Manaus. A taxa valerá por um período de 200 dias.

No ano passado, o Brasil exportou para a Argentina o equivalente a US$ 68 milhões em fogões, lavadoras e refrigeradores. O resultado de 2003 significou um aumento de 580% em relação a 2002, quando as exportações atingiram US$ 10 milhões.

Em volume de vendas, o avanço foi de 437%, passando de 93 mil para 500 mil unidades de 2002 para 2003. ?Esse crescimento em 2003 foi atípico por causa da baixíssima base de comparação de 2002. Já em 2004, as exportações foram influenciadas pela própria ameaça argentina. O varejo argentino tratou de acelerar as compras antes que as restrições fossem impostas?, disse o presidente da Eletros, Paulo Saab.

Pelos cálculos da Eletros, a Argentina responde hoje por cerca de 26% das exportações brasileiras de fogões, refrigeradores e lavadoras de roupa.

Negociação frustrada

Saab disse que as associações de fabricantes de eletrodomésticos da Argentina romperam ?subitamente? as negociações sobre a venda de produtos brasileiros para o país vizinho.

?Estávamos negociando o assunto há seis meses. Tínhamos até fechado um acordo para a venda de fogões. Fomos surpreendidos pelos argentinos, que romperam unilateralmente as negociações quando souberam que o ministro deles (Lavagna) iria anunciar medidas duras em relação ao Brasil?, afirmou ele.

?A Argentina não tem motivo para querer proteger sua indústria local. A indústria deles perdeu capacidade de produção nos últimos anos e eles são dependentes de nossos produtos?, afirmou ele.

O Brasil exportou para a Argentina, no ano passado, cerca de 500 mil unidades de fogões, lavadoras e refrigeradores, em um total de US$ 68 milhões. Em 2002, as vendas para aquele país haviam caído drasticamente em função da recessão econômica local, situando-se em cerca de 93 mil unidades e US$ 10 milhões.

Barreiras podem atingir carros e grãos

A imposição de barreiras aos eletrodomésticos brasileiros, anunciadas pelo governo argentino anteontem, devem ?azedar? a reunião de cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú (Argentina), que começa hoje, e que vai reunir os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner. O ?prato? principal do encontro, que era a integração dos países do grupo, será substituído pelas disputas comerciais que podem se acirrar, se foram confirmadas as suspeitas colocadas nas entrelinhas do pronunciamento do ministro da economia, Roberto Lavagna.

O ministro argentino deixou em suspenso a possibilidade de impor restrições também às compras de carros e de grãos agrícolas de seu principal sócio no Mercosul. Durante o anúncio das novas barreiras contra eletrodomésticos, Lavagna manifestou preocupação com a entrada de carros brasileiros no mercado argentino. O país estima que 60% dos veículos novos que circulam internamente tenham sido fabricados no Brasil.

O ministro, entretanto, não levantou ainda a possibilidade de impor barreiras contra os carros brasileiros. Ele apenas fez um apelo às montadoras argentinas que passem a fabricar no país veículos populares como os que são feitos no Brasil. Segundo o ministro, hoje a Argentina produz praticamente apenas carros de luxo.

O secretário da Indústria da Argentina, Alberto Dumont, esteve reunido no último final de semana com diretores da Renault em Paris para negociar a produção de modelos mais baratos e econômicos no país vizinho.

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