Argentina sinaliza impor mais barreiras ao Brasil

O governo argentino voltou a dar sinais ontem de que não acabou a temporada de barreiras aos produtos brasileiros. A Secretaria de Indústria do parceiro comercial informou que o governo está “preocupado com o volume de calçados que os produtores brasileiros estão enviando ao mercado argentino”.

De acordo com um membro da Secretaria de Indústria, se não for encontrada uma solução nas reuniões periódicas feitas com o secretário-geral do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, Marcio Fortes, o governo argentino terá de adotar medidas unilaterais.

Adotar medidas unilaterais significa dificultar as importações dos sapatos brasileiros. Foi o que fez o governo no mês passado, ao implementar um mecanismo que obriga os importadores argentinos de máquinas de lavar roupa a pedir autorização prévia para comprar o produto, um sistema que atrasa a operação em até 60 dias e desestimula o comércio.

Esse foi o desfecho da disputa comercial que ficou conhecida como “guerra das geladeiras”. As indústrias brasileiras de refrigeradores e de fogões preferiram fechar um acordo limitando o embarque dos produtos nos próximos meses, negócio que consideraram melhor do que as licenças prévias.

No caso dos calçados, a preocupação dos argentinos é que, com a chegada do verão, as exportações brasileiras aumentem muito e ultrapassem o acordo feito entre os setores no início do ano.

Segundo o secretário da Câmara Argentina de Produtores de Calçados, Horácio Moschetto, o acordo estabelece que o Brasil exporte no máximo 13 milhões de pares de sapato neste ano.

Até junho, foram embarcados para a Argentina 4,8 milhões de pares. “É menos do que a metade, mas já é 78% a mais do que foi exportado no mesmo período do ano passado”, disse Moschetto.

Sua preocupação, disse, é que a coleção de verão, que começa a chegar no país em setembro e, segundo ele, é o forte das vendas brasileiras na Argentina, ultrapasse os números do acordo.

Além das barreiras e cotas adotadas para eletrodomésticos, o governo argentino passou a cobrar imposto de importação de 21,5% para os televisores oriundos da Zona Franca de Manaus.

Empresas se preocupam com as medidas

Algumas das empresas exportadoras já planejam executar um “plano B” em resposta à onda protecionista que varre a economia argentina. Depois das recentes restrições à entrada de itens como geladeiras, televisores e máquinas de lavar no mês passado e do risco que outros setores sejam alvos de barreiras ao livre comércio, como o automotivo, o tom de cautela afeta até segmentos em que ainda não há clamor dos argentinos pelo fechamento do mercado.

A metalúrgica Armco, fabricante de tubos para construção e produtos de segurança rodoviária, por exemplo, decidiu instalar uma fábrica na Argentina, no valor de US$ 1 milhão, justamente por temer retaliação comercial. “Por ora, não há qualquer restrição aos nossos produtos, mas estamos preocupados, sim, e decidimos executar o projeto”, disse o diretor da Armco, Fernando Vilhena.

A indústria prevê vendas da ordem de US$ 2,5 milhões à Argentina este ano, 40% a mais que as exportações de 2003, e não quer correr risco de perder mercado, justifica ele, lembrando que o país vizinho representa exatos 38,46% dos embarques externos previstos para este ano pela Armco (de US$ 6,5 milhões ou 30% do faturamento anual). A idéia é colocar a linha de produção em funcionamento logo.

“Só este ano, contratamos mais 20 pessoas para a área de produção e uma eventual sobretaxa dos produtos poderia implicar demissões, dependendo dos impactos, porque não teríamos como substituir o mercado argentino a curto prazo”, assinalou Vilhena.

A DeMillus, três anos após afastar-se do mercado argentino, um dos mais importantes antes da crise econômica de 2001, sepultou de vez a idéia de retornar e agora mira a pulverização das exportações de moda íntima.

No lugar da Argentina, aposta as fichas em países como os Estados Unidos para crescer os embarques externos dos atuais 5% para 15% do faturamento anual a partir de 2005.

“A Argentina, além da preferência de produtos à base de algodão em vez dos sintéticos (lycra), como o nosso, ainda tem contra si a instabilidade das regras. Por isso, é mais conveniente buscar mercados mais estáveis, como o norte-americano e outros países da América Latina”, explicou o gerente de comércio exterior da DeMillus, Ademir Barreira, sem informar a receita proveniente do comércio exterior. No setor têxtil, desde o início do ano foi formada uma comissão integrada por empresários dos dois países para tentar aparar as arestas nas vendas de indigo blue.

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