As expectativas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou nesta tarde de terça-feira, 2, são as mais divididas dos últimos tempos. As apostas majoritárias para o que o Banco Central fará com a Selic amanhã viraram em menos de uma semana de uma alta de 0,25 ponto porcentual para 0,50 p.p – hoje a Selic está em 11,25% ao ano. Essa perspectiva de maior aperto monetário se dá em um ambiente negativo para a inflação e conta com a sinalização passada pelos porta-vozes da instituição de que poderão atuar de forma mais forte se necessário. De qualquer forma, as projeções seguem divididas como não se via antes desde fevereiro.

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Muitos analistas ficaram ressabiados com a “bola nas costas” que tomaram no encontro de outubro. Na ocasião, as 84 casas consultadas pelo AE Projeções contavam com estabilidade da taxa e foram surpreendidas com uma elevação de 0,25 p.p. Os economistas ficaram desconfiados e passaram a interpretar toda e qualquer manifestação do Banco Central para não errar novamente. Ainda é considerável a fatia dos que projetam a continuidade do ritmo de 0,25 p.p. Até porque, assim como alguns diretores do BC alegaram na decisão anterior, ainda havia dúvidas naquele momento sobre a magnitude e a persistência dos ajustes de preços. Outra incerteza diz respeito à retomada da atividade, que dá poucos indícios de recuperação.

O primeiro sinal de que outra dose de 0,25 p.p. não é líquida e certa amanhã, quando acaba o encontro e é anunciada a nova Selic, veio do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, quando participava de evento em Florianópolis (SC). “O Copom não será complacente (com a inflação) e, se for adequado, irá recalibrar a política monetária”, afirmou. Para quem ficou com dúvidas sobre a mensagem pretendida, o diretor foi ainda mais claro: “Para bom entendedor, pingo é ‘i'”.

Na semana passada, quando confirmado à frente do BC no novo mandato de Dilma Rousseff, foi o presidente Alexandre Tombini quem reforçou o recado. Ele admitiu que a inflação acumulada em 12 meses ainda seguia elevada e que, nessas circunstâncias, a política monetária deve se manter “especialmente vigilante” para evitar que ajustes de preço se espalhem para o resto da economia. Tombini apenas repetiu o que a ata do Copom anterior já havia trazido. Mas foi o presidente, em carne e osso, dizendo com todas as letras que estava preocupado com uma difusão da inflação pela economia. Isso tem peso maior. Ainda mais no cenário em que foi dita a frase, ao lado dos dois novos nomes da equipe econômica (Joaquim Levy, na Fazenda, e Nelson Barbosa, no Planejamento).

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O BC deixou a porta aberta para dar uma esticada a mais nos juros, mas a favor dos que acreditam na manutenção da toada de alta de 0,25 p.p. está a expectativa de que 2015 será um ano diferente para as contas públicas. O ministro indicado, Joaquim Levy, prometeu austeridade para os próximos três anos, o que é um ganho e tanto para os efeitos da política monetária. E, é bom lembrar, qualquer ação tomada amanhã pelo Copom só terá efeito mesmo em meados de 2015.

Levantamento realizado pelo AE Projeções no final do mês passado mostrava que a maioria – 45 de 76 instituições financeiras – previa uma nova alta de 0,25 ponto porcentual da Selic amanhã, para 11,50%. Menos de uma semana depois, com os acontecimentos mais recentes, as estimativas viraram e agora a aposta mais consolidada é de uma elevação de 0,50 p.p. Com a atualização das consultas às instituições, o AE Projeções identificou nesta nova rodada que 41 de 62 casas agora contam com meio ponto de elevação.

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A última vez que o mercado financeiro estava sem pender mais para um lado às vésperas de um Copom sobre o rumo que a Selic tomaria foi em fevereiro, quando 43 de 60 instituições consultadas contavam com uma elevação do juro, na ocasião, para 10,75% ao ano. Depois disso, nas demais reuniões do ano, ou o mercado tinha uma aposta mais firme em relação a uma decisão ou 100% das previsões estava em um determinado patamar da taxa.