Apesar do desemprego, oportunidades existem

Brasília – Em meio à crise no mercado de trabalho, o acompanhamento do Ministério do Trabalho sobre a movimentação do emprego formal em todo o País revela que algumas profissões estão na contramão do desemprego e abrindo vagas. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do ministério, mostra que entre admitidos e demitidos no primeiro trimestre de 2004, o saldo foi a contratação de 347,4 mil trabalhadores com carteira assinada, o melhor resultado para o período desde 1992, quando começou a série. Mas onde estão esses empregos diante de tantos índices que apontam aumento do desemprego? Um levantamento feito pelo Ministério do Trabalho mostra quais foram as ocupações mais promissoras no primeiro trimestre deste ano.

Os campeões de contratações foram os “segmentos de alimentadores de linha de produção industrial”, com destaque para o setor automotivo. Também estão na lista escriturários e auxiliares administrativos; serviços de manutenção e conservação de edifícios; e beneficiadores de fumo, que empregaram 90.563 pessoas a mais.

Em contrapartida, o levantamento também mostrou que os trabalhadores da fruticultura; operadores do comércio em lojas e mercados (balconistas e vendedores); gerentes de vendas e de assistência técnica e caixas foram as profissões que mais sofreram com a crise no mercado de trabalho. No total fecharam 40.548 postos.

Segundo o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, os dados do Caged são contraditórios com as pesquisas do IBGE e do Dieese, que apontam para a existência de mais de dois milhões de desempregados em março, porque mais pessoas estão à procura de emprego para aumentar a renda familiar. Além disso, essas pesquisas são feitas nas regiões metropolitanas e o cadastro do ministério detecta o crescimento maior do emprego no interior do País, disse o ministro.

– No contraponto entre regiões metropolitanas e interior, a tendência foi de um comportamento mais favorável do emprego assalariado fora dos espaços urbanos – afirma Berzoini.

Ele diz que as pesquisas do IBGE e Dieese não alcançam a agroindústria e algumas cadeias produtivas voltadas à exportação, como calçados, couros e peles. De acordo com o ministério, enquanto a Região Metropolitana do Rio apresentou no primeiro trimestre deste ano uma variação positiva no emprego formal de 0,4%, na comparação com dezembro de 2003, esse percentual sobe para 1,15% quando se olha o interior do estado. Na Grande São Paulo, a alta foi de 1,42% e no interior do estado, de 2,42%. O Rio Grande do Sul apresentou a maior disparidade, tendo registrado uma variação de 1,59% na região metropolitana, contra 4,2%, no interior.

Para os especialistas em mercado de trabalho, no entanto, o cadastro do governo também apresenta limitações porque inclui só os trabalhadores com carteira assinada, o que corresponde a um terço do atual universo dos trabalhadores.

– É um argumento falho porque é preciso levar em consideração o comportamento geral do mercado de trabalho. O governo deixa de fora dos seus cálculos os trabalhadores que estão procurando emprego e quem está chegando no mercado – afirma o professor da Unicamp Márcio Pochmann.

Ele destaca, ainda, que ao dizer que as vagas estão sendo criadas no interior, o governo está fazendo uma avaliação superficial do problema e jogando a culpa dos elevados índices de desemprego em cima dos trabalhadores que não conseguem emprego nos grandes centros urbanos:

– É muito mais difícil conseguir uma colocação nas cidades pequenas, onde o desempregado é conhecido e sofre maior discriminação.

Segundo Pochmann, as ocupações que abriram vagas no início deste ano oferecem baixa remuneração. Além disso, de acordo com ele, existe o aspecto sazonal. A indústria apresentou crescimento por ser o setor que reflete mais rapidamente o comportamento da economia. Já a demissão de trabalhadores na fruticultura se deve à entressafra; e no comércio, ao fim das contratações temporárias de fim de ano.

Metodologias são diferentes

As diferentes formas de medir o comportamento do mercado de trabalho no País mostram números diferentes. Isto porque as pesquisa de IBGE, Dieese e Ministério do Trabalho têm metodologias diferentes. Os resultados não são comparáveis e a divergência não quer dizer que uma esteja certa e a outra, errada.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), usado pelo Ministério do Trabalho, não pesquisa o comportamento do mercado no País; mas, como o próprio nome diz, é um cadastro, a partir dos dados enviados pelas empresas. O Caged considera apenas os trabalhadores com carteira assinada e mede a diferença entre o número de trabalhadores admitidos e demitidos.

Já o IBGE faz uma pesquisa por amostragem domiciliar, só em seis regiões metropolitanas: Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. A pesquisa envolve trabalhadores com carteira assinada, sem carteira, autônomos e profissionais liberais, e baseia-se na População Economicamente Ativa (PEA). Em março, o desemprego atingiu 12,8% da PEA, ou 2,7 milhões de pessoas nessas áreas.

O Dieese também faz pesquisa em seis regiões: São Paulo (cujo índice de desemprego subiu para 20,6% em março, atingindo 2 milhões de pessoas), Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Distrito Federal. Mas o resultado é divulgado individualmente, não há uma taxa nacional. E o Dieese não coleta dados do Rio.

Os técnicos do Dieese somam o desemprego aberto (quem procura emprego), o desemprego oculto pelo trabalho precário (quem faz bico) e pelo desalento (quem desistiu de procurar trabalho) para chegar a uma taxa de desemprego total. Já o IBGE mede só o desemprego aberto.

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