A economia cresceu, estimulou o consumo, mas muita gente não conseguiu arcar com gastos maiores. O ano de 2004 deve terminar com recorde no volume de cheques sem fundos e desbancar do posto 2003. Levantamento da Serasa, empresa de análise de crédito, mostra que de janeiro a novembro deste ano foram compensados 1,920 bilhão de cheques e 30,4 milhões deles foram devolvidos por falta de fundos. O índice de devolução ficou em 15,9 a cada mil cheques compensados – 1,2% a mais do que em 2003, quando a taxa foi de 15,7, com 2,036 bilhões de cheques compensados e 31,9 milhões deles devolvidos.
"O crescimento da economia estimulou os gastos. O consumidor pensou que ia ser contemplado com aumento de renda, mas isso não ocorreu", explica Marcos Abreu, economista da Serasa.
A recuperação da economia gerou novos empregos, mas não foi suficiente para permitir aumento na renda dos brasileiros. Com aumentos nos preços dos combustíveis e das tarifas (telefone, água e luz), o consumidor ficou com o orçamento ainda mais apertado. Também o comércio ficou eufórico com a retomada e ampliou os prazos de recebimento de pré-datados. Em 2003, as vendas com pré-datados eram feitas em no máximo três vezes. Este ano, segundo Abreu, o prazo chegou a seis meses.
"O comércio amplia o prazo mas não observa o risco do crédito. Na maioria das vezes não verifica a renda do consumidor ou outras informações que permitam uma operação mais segura", diz o executivo.
Em novembro, o 13.º salário ajudou consumidores a saírem do sufoco. Depois de dois meses em alta, o volume de cheques sem fundos recuou em novembro. O estudo da Serasa indica que no mês passado foram devolvidos 16,3 cheques a cada mil compensados. Ou seja, dos 179,6 milhões de cheques compensados no país, 2,9 milhões foram devolvidos por insuficiência de fundos. A queda foi de 4,1% em relação a outubro, quando a taxa chegou a 17 cheques por mil compensados, num total de 2,8 milhões de cheques devolvidos por inadimplência. Outubro teve a segunda maior taxa deste ano. O recorde foi registrado em março, quando o índice chegou a 17,2 cheques devolvidos a cada mil compensados. O índice de novembro também foi 5,8% maior do que em igual mês de 2003, quando foram registrados 15,4 cheques sem fundos a cada mil compensados. O ano de 2004 só não vai cravar um recorde de cheques sem fundos se a taxa recuar muito neste mês de dezembro.
Abreu prefere não fazer previsões para 2005, mas alerta para o risco de a inadimplência subir mais no começo do ano. Isto porque as vendas de Natal aumentaram 16,1% em relação a 2003, mas a renda do brasileiro continua em queda e no início do ano ocorrem gastos extras, como pagamentos de impostos (IPTU e IPVA, por exemplo) e matrículas e compras de materiais escolares.
"O comprometimento de renda aumenta nos primeiros meses do ano e a inadimplência pode aumentar", afirma Abreu.


