Analistas sugerem cuidado nas aplicações financeiras

“Agora não adianta se desesperar. As ações da Bolsa estão caindo, mas as empresas são as mesmas, continuam ali, funcionando. E a economia brasileira está muito bem”, apontou o analista Luiz Augusto Pacheco, da Omar Camargo Corretora de Valores.

Ontem, os telefones da corretora não paravam de tocar. Eram investidores preocupados com a queda das ações – muitos deles querendo se desfazer dos papéis.

“Nossa orientação é para que as pessoas não vendam as ações agora, porque vão perder. Elas precisam ter paciência. Ainda não há nada decidido nos Estados Unidos, e dificilmente vão deixar de aprovar algum tipo de ajuda financeira”, comentou.

O momento, portanto, é de cautela. “Muitos estão buscando investimentos mais seguros, mas o meu conselho é diversificar entre ações e renda fixa. Com a aprovação da ajuda financeira, a Bolsa é capaz de subir 6% a 10%”, acredita.

O mercado piorou depois da decisão da Câmara dos Estados Unidos de rejeitar o pacote de socorro a bancos, de US$ 700 bilhões. “O problema lá é em todo o sistema bancário, no crédito. A ajuda não é só para três ou quatro bancos, mas para toda a economia.”

Para o corretor, a expectativa é que um novo pacote de socorro seja aprovado nos próximos dias. “É uma solução a curto prazo, uma medida extrema que vai amenizar a situação este ano e no ano que vem”, acredita.

O corretor defende a mudança da regulamentação dos bancos nos Estados Unidos. “Eles precisam mudar a regulamentação, é muito frouxa. Até no Brasil ela é mais rígida.”

Primeira crise

Quem aproveitou o “boom” do mercado de capitais e decidiu investir na Bolsa recentemente, está enfrentando a primeira crise. “A questão é que ninguém sabe a extensão dessa crise. Pode ser que a Bolsa caia ainda mais, não há como saber”, afirmou Odisnei Antonio Bega, gerente da Concórdia Corretora de Valores.

Trabalhando no mercado de capitais desde 1972, Bega já assistiu a diversas baixas, como no Plano Cruzado, a crise da Rússia em 97, período de eleição do Lula. “Nesses momentos, para quem não precisa do dinheiro, o melhor é não sair da Bolsa para não ter prejuízo”, aconselhou.

Mas o dia ontem não foi só de vendas. Segundo Bega, era grande o número de pessoas querendo comprar ações da Sadia, por exemplo, que haviam fechado com queda de 35% na última sexta-feira.

Empresários esperam por decisões rápidas

Redação com agências

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, manifestou preocupação com o impacto que a crise financeira internacional possa ter sobre a disponibilidade de recursos por parte das tradings para financiar a produção brasileira de grãos.

Segundo Ramalho, antes as tradings financiavam 55% da produção, percentual que caiu para 25% neste ano. Neste momento não existe recursos disponível, diz ele, que atenta para as dificuldades de crédito até para a exportação. Ramalho lembrou que nesta época o produtor está colhendo café e cana, “e não se faz a colheita sem dinheiro”.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, disse que apesar de estar surpreso com a rejeição, pela Câmara de Representantes dos EUA, do plano de socorro de US$ 700 bilhões para Wall Street, espera que as lideranças possam reverter esta decisão.

O ex-secretário de Política Econômica e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, afirmou que dificilmente os EUA escaparão da recessão sem o pacote de socorro financeiro de US$ 700 bilhões, rejeitado pela Câmara dos Deputados em Washington.

“O pacote foi rejeitado por ideologia, pois muitos parlamentares, especialmente republicanos, eram contra a ação do governo para tentar corrigir as deficiências do sistema financeiro”, comentou. “Isso é o verdadeiro ensaio sobre a cegueira. Os republicanos querem deixar os mercados funcionarem livremente. Então, o mercado está aí, funcionando desse jeito que nós estamos vendo”, afirmou, referindo-se ao pânico generalizado registrado em Wall Street e em São Paulo.

Fiesp

A crise financeira internacional mostrou uma “cara feia” pior do que a imaginada, na opinião do diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Ciesp, Paulo Francini.

“O panorama é de densas dúvidas”, afirmou, lembrando que se tem uma dimensão melhor hoje a respeito de sua extensão, profundidade e severidade do que no primeiro trimestre deste ano. “Hoje há mais razões para estar mais pessimista do que no passado, pois sabemos que a crise é muito grave”, considerou.

Petrobras

O diretor da área financeira da Petrobras, Almir Barbassa, disse ontem que a crise econômica só afetaria a companhia caso se prolongasse para depois de 2010. Segundo ele, para os investimentos de curto prazo, ou seja, até para os próximos três anos, há recursos próprios gerados a partir docaixa da empresa.

Segundo Barbassa, a recessão “uma hora pode acabar afetando a Petrobras ou a cadeia supridora” se continuar se prolongando. “Mas acredito que a crise já terá se solucionado antes de três anos, quando realmente precisaremos buscar recursos.”

Indagado sobre a dificuldade de aprovação do pacote de ajuda do governo americano, Barbassa foi lacônico: “Se o pacote não sair, não sei para o onde o mundo vai.”