Amorim admite “perda de batalha”

Londres – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em entrevista ao jornal Financial Times, admitiu que o governo brasileiro perdeu uma “batalha na mídia” por causa da sua posição nas negociações para a formação da Alca, devido a uma injusta ofensiva dos Estados Unidos. Amorim, no entanto, insistiu que há espaço para um compromisso para evitar um fracasso na reunião ministerial da Alca no próximo mês em Miami.

O diário britânico afirmou que na fracassada reunião da OMC do mês passado, em Cancún, o Brasil emergiu como “um respeitado, se não universalmente reconhecido, líder dos países em desenvolvimento”. Mas durante as subsequentes rodadas de negociações da Alca neste mês, “a maré parece ter mudado”. Vários países retiraram seu apoio ao País e negociadores norte-americanos afirmaram que o Brasil estava isolado. O FT observou que, mesmo no Brasil, o governo foi alvo de críticas.

Amorim disse que o governo brasileiro está negociando de uma maneira construtiva e em defesa de seus direitos legítimos. “Nós temos o direito de ter a nossa visão da Alca”, disse Amorim. “Não podemos viver num mundo de penseé unique (pensamento único).” O ministro disse que os Estados Unidos estão insatisfeitos porque o Mercosul desafiou sua posição hegemônica, ao apresentar uma proposta alternativa ao rascunho do acordo produzido por Washington. Segundo o ministro, muitas das propostas norte-americanas retirariam do Brasil e de outros países a capacidade de ter políticas independentes no desenvolvimento de tecnologia, ambiente e saúde, incluindo os medicamentos genéricos. “Se nós quiséssemos obstruir as negociações, eu teria apresentado capítulos longos sobre regras antidumping, sobre subsídios – que são do nosso legítimo interesse – mas não é isso que estamos fazendo”, disse Amorim. “Ao invés disso, ele argumentou que o Mercosul estava propondo flexibilidade, para que os países possam optar por aderir às regras de investimento se eles quiserem. O ministro afirmou estar desapontado com as acusações dos Estados Unidos de que o Brasil estaria isolado. “É como negociar um acordo comercial com a Ásia e afirmar que a China e a Índia estão isoladas. Para quê isso?”. O chanceler disse que o Brasil perdeu o apoio de países como a Colômbia, Peru e Costa Rica por causa da pressão norte-americana. “Eles foram informados que seriam inelegíveis para a Alca se participassem de um encontro do G-22”, disse. “Eu acredito que tal pressão é contrária às práticas da OMC.” Amorim afirmou, no entanto, que, por trás da retórica que compõe as táticas de negociações dos dois lados, ele viu uma “atmosfera em melhora” num encontro realizado nesta semana entre os co-presidentes do Brasil e Estados Unidos na Alca. “Deu a impressão de que podemos achar alguma acomodação para as nossas diferentes perspectivas”, disse o ministro.

Encontro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar da sessão de abertura do encontro parlamentar sobre a Alca, a Área de Livre Comércio das Américas, intitulado “O Papel dos Legisladores na Alca”, no plenário da Câmara, na segunda-feira, ao lado dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha e do Senado, José Sarney. O presidente vai discursar e poderá, pela primeira vez, falar sobre o posicionamento do Brasil nas negociações em torno da Alca. Este é o terceiro encontro realizado no Congresso sobre a Alca e é uma parceria entre Congresso Nacional e Parlamento Latino-Americano (Parlatino).

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