Altas da Selic geram arrecadação de mais de R$ 30 bilhões

Os três últimos aumentos da taxa básica de juros (Selic) resultaram em mais de R$ 30 bilhões de juros pagos pela sociedade ao sistema financeiro, por meio de impostos e contribuições. A estimativa foi feita quinta-feira (24) pelo economista e professor das Faculdades Rio Branco Carlos Stempniewisk.

Em entrevista à Rádio Nacional, o professor disse que esse valor corresponde a quase todo o orçamento da saúde do ano e a cerca de 10 vezes o que o governo gastou no ano passado com infra-estrutura.

Stempniewisk explicou que, para cada aumento de meio ponto percentual na Selic, os juros pagos pelo governo ao sistema financeiro somam R$ 10 bilhões. Isso acontece porque o governo remunera seus títulos pela Selic.

Quarta-feira (23) o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o terceiro aumento do ano da Selic, que passou a ser de 13% ao ano. A alta foi de 0,75 ponto percentual – os aumentos anteriores foram de meio ponto percentual.

Um dos efeitos do aumento dos juros básicos é a redução dos investimentos, o que leva à queda nos níveis de emprego e renda e acaba fazendo com que a população compre menos. Outro efeito é no crédito, uma vez que, com os juros mais altos, é mais atrativo para os bancos fazer aplicações em títulos do governo do que emprestar dinheiro.

Mesmo com o maior rigor do Banco Central, o professor Stempniewisk não acredita que a inflação vá ceder até o final deste ano. Ele lembrou que a inflação no país é influenciada pela alta dos preços dos alimentos no mundo e das commodities, como o aço.

“A inflação já se instalou, independentemente de qualquer coisa. Veio através dos alimentos, do aumento do preço do minério de ferro, que contamina o preço da chapa que faz o automóvel, a geladeira, componentes de televisão e computadores. Até o final do ano, isso [aumento dos custos para as indústrias] que hoje está no atacado vai se disseminar e chegar ao nosso bolso”, afirmou.

Para o professor, os aumentos anteriores de meio ponto percentual na Selic não foram suficientes para conter a inflação, por conta das questões externas e também porque leva tempo para o efeito do aumento do plantio de alimentos chegar até a mesa dos brasileiros.

“Quem vai ao supermercado, quem compra queijo, leite, arroz, feijão, batata, hortaliças, está vendo a inflação pesada no bolso. Então resolveram dar uma dose um pouco maior para ver se o paciente se acalma. E não vai acalmar, porque esse novo patamar de inflação já está instalado”, disse.

Com a alta dos preços dos alimentos, o professor considera provável que as pessoas deixem de gastar com bens e serviços para terem condições se alimenta. “Deixa de andar de ônibus para economizar, de pagar uma carne, a escola do filho”, afirmou.

Segundo Stempniewisk, o governo já vinha discutindo internamente a necessidade de aumentar a taxa básica de juros para conter a inflação, o que, conseqüentemente, reduz o ritmo de crescimento da economia. Como o menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) gera redução de arrecadação, o governo quer criar a Contribuição Social para a Saúde (CSS), em substituição à Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que foi extinta no fim do ano passado.

Entretanto, ele não acredita que o nova contribuição seja aprovada este ano no Congresso Nacional por conta das eleições municipais, o que leva os parlamentares e se ocupar mais em suas bases eleitorais do que em Brasília.

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