Alta do cacau e do dólar vai aumentar chocolates

O brasileiro acostumado a comemorar a Páscoa em alto estilo deve preparar o coração – e o bolso – para não levar um susto quando os ovos de chocolate chegarem às prateleiras. As grandes marcas como Lacta, Garoto e Nestlé só devem anunciar seus investimentos, preços e produção no mês que vem, mas a previsão é que o produto sofra um aumento considerável, principalmente por conta do mercado internacional. O preço do cacau – matéria-prima do chocolate -, por exemplo, dobrou em um ano: passou de US$ 2 mil a US$ 4 mil a tonelada. Também a disparada do dólar deve contribuir para a alta nos preços dos ovos.

“O maior produtor mundial de cacau, Costa Marfim, na África, vive um momento político instável, e sob qualquer ameaça de guerrilha, os europeus ficam apavorados e começam a comprar cacau. Está havendo mais procura do que oferta”, analisa Rubens Werlang, diretor administrativo da fábrica de chocolates Salware, em Curitiba. Especializada no ramo de barras de chocolate – Castor e Esquilo -, a fábrica deve manter a produção do ano passado: cerca de 1,2 mil toneladas de chocolate. Em tempos melhores, a Salware chegava a aumentar a produção em 18% a 22% a cada Páscoa. “Com esses valores, se a gente produzir, vender e conseguir receber, já estaremos no lucro,” aponta. A previsão é que a barra de chocolate da Salware sofra reajuste de 60% a 70% em relação ao ano passado.

Para o diretor-administrativo da Icab Chocolates – há 73 anos no ramo -, Luigi Muffone, a melhor maneira para manter ou até aumentar as vendas nessa Páscoa é não repassar o reajuste integral aos consumidores. “Não devemos repassar nem 15% dos 70% de aumento, senão as vendas caem”, diz. A expectativa, segundo ele, é que as vendas de chocolate aumentem em 20% em relação ao ano passado. “A Páscoa passada foi ruim, principalmente por causa do calor”, lembra.

Mercado informal

A comerciante Marina Machado, que está no ramo de chocolates caseiros há 13 anos, conta que só não parou de fazer ovos de Páscoa ainda porque tem clientes fiéis. “A gente vai ter que achatar um pouco o lucro se quiser vender”, aponta. Segundo Marina, uma barra de chocolate de 2,5 kg, de marca tradicional, passou de R$ 16,50 para R$ 45,80 em um ano. “Isso no mercado atacadista. Na venda direta ao consumidor está muito mais caro”, diz. Apesar do preço, Marina conta que não abre mão de chocolates de marca para que seus produtos mantenham a qualidade. “Há chocolate hidrogenado por até R$ 6,80 o quilo, mas não é a mesma coisa.”

O consumidor também deve sentir no bolso o preço da cotação do dólar e do cacau. Um ovo de chocolate de 830 g, que Marina vendeu no ano passado por R$ 24,00, vai custar este ano R$ 36,00 – alta de 50%. “O açúcar também aumentou, além da fita, embalagem, mão-de-obra”, acrescenta Marina. Com tantos reajustes, a microempresária conta que terá que diminuir a produção nessa Páscoa: de 800 kg a 900 kg em 2002 para 300 kg a 400 kg este ano.

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