Alta da Selic reduz ritmo da indústria e comércio

Que a alta da Selic era necessária para conter a inflação, parece que economistas e empresários concordam. Mas diante do segundo aumento da taxa básica de juros no governo Lula, indústria e comércio já estão revendo suas projeções para o ano. Segundo analistas, o incremento de um ponto percentual na Selic – que passou de 25,5% para 26,5% nessa semana – acarreta efeitos em toda a cadeia econômica: eleva os custos de produção, reduz o consumo, gera desemprego e aumenta o risco de inadimplência, já que as prestações ficam mais caras.

“O governo está numa camisa-de-força, não tinha muito o que fazer diante do cenário internacional”, avalia o presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná), Jefferson Nogaroli. “Mas como líder empresarial, lamento. Quanto mais alto o juro, maior o custo de produção, menor o consumo e aumenta a inadimplência. Isso desencadeia desemprego e queda de arrecadação”, cita. “A diferença do veneno e da vacina é só a dose. Tomara que o governo não erre na dose, senão a vacina vira veneno”.

Apesar das dificuldades momentâneas, Nogaroli aposta em queda da inflação a partir de abril ou maio. “Esse ano não vai ser pior que o ano passado. O governo tomou medidas certas, como o corte drástico no orçamento. Minha expectativa é otimista se o governo promover as reformas da previdência, tributária e política. Aí ninguém segura mais o nosso País”, comenta. Se o conflito entre EUA e Iraque se resolver logo, o presidente da Faciap acredita que as cotações do petróleo e dólar declinem, podendo se refletir até em deflação no Brasil.

Remédio amargo

Para o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Marcos Domakoski, “este frear da economia, encarecendo o dinheiro, é um remédio amargo que vai na contramão da necessidade do crescimento econômico e da justiça social”. Embora entenda a estabilidade econômica pretendida pelo governo, com o intuito de segurar o “fantasma” da inflação, ele considera que “o País precisa do crescimento econômico para gerar empregos, renda e fazer justiça social”. A ACP projetava crescimento de 2 a 3% no volume de vendas do comércio estadual em relação ao ano passado. “Com a alta dos juros, isso cai para 0 a 1%”, calcula Domakoski. De acordo com a entidade, a taxa mensal média de juros ao consumidor passou de 6,66% para 6,73%.

O presidente da ACP aponta que “a política econômica atual está exaurindo a rentabilidade da indústria e do comércio e concentrando no setor financeiro”, referindo-se ao enxugamento de R$ 8 bilhões resultantes da elevação da alíquota do compulsório sobre os depósitos à vista. Domakoski condiciona a retomada do crescimento econômico brasileiro à conjuntura mundial.

Mercado

Na opinião do analista financeiro Marcelo Martenetz, da SM Consultoria Econômica, o Copom foi conservador, já que se especulava um aumento de até 3 pontos percentuais na Selic: “O Banco Central foi pela linha de não deixar a economia em recessão muito forte. Isso mostra que estão fazendo a coisa certa, mesmo sendo um governo social: preferiram uma medida impopular agora para segurar a inflação, para evitar desemprego maior na frente”.

“É melhor controlar a inflação com recessão do que ter a inflação sem controle”, afirma Martenetz. Porém essa estratégia só funciona a curto prazo, porque reduz a capacidade de pagamento da dívida pública, alerta. A única forma de não subir os juros, segundo o economista, seria a aprovação das reformas. Estima-se que somente a reforma previdenciária reduziria a Selic em 5 pontos.

Dirceu considera alta “incompatível”

A combinação de juros altos e desenvolvimento econômico é “incompatível”. Essa opinião, expressa anteontem pelas lideranças do setor produtivo – como Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e CNI (Confederação Nacional das Indústrias) – foi referendada ontem pelo ministro José Dirceu (Casa Civil). “O país não pode conviver com essa taxa de juros. É incompatível juro alto e crescimento econômico”, afirmou ele, ao deixar o Palácio do Alvorada.

Apesar da crítica, Dirceu argumentou que a elevação da taxa Selic, de 25,5% para 26,5% ao ano, é necessária para conter a alta dos preços e enfrentar uma possível guerra entre Estados Unidos e Iraque. “É um momento transitório. O país precisa impedir a retomada da inflação e se preparar para uma situação internacional mais grave”, disse.

Da mesma forma, a elevação dos depósitos compulsórios de 45% para 60%, decidida ontem pelo Banco Central, tem por objetivo a contenção da subida da inflação e uma preparação para um crise internacional, segundo Dirceu.

Apesar de recessivas, as medidas anunciadas anteontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) tiveram apoio do ministro Antônio Palocci (Fazenda). E, ao contrário de Dirceu, Palocci disse que as decisões não teriam efeito sobre a atividade econômica, já que o governo estaria tomando medidas para a retomada da confiança.

Dirceu ponderou que a tarefa de estimular o crescimento do país não é de responsabilidade do BC. “Quem tem que resolver o problema do desenvolvimento é o governo”, disse.

A receita para a reaquecer a economia seria a promoção das reformas tributária e previdenciária e a elaboração de uma política de financiamento público ao setor produtivo, de acordo com o ministro.

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