Aliança com a China é um caminho sem volta

Xangai (China) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou na tarde dessa quarta-feira (horário local) a disposição do governo de expandir as relações comerciais pelos quatro cantos do mundo. Ao fim de seu discurso no encerramento do seminário “Brasil-China: Uma parceria de sucesso”, Lula lembrou que a comitiva está seguindo quinta-feira (hoje) para Guadalajara, no México, para novas rodadas de negociações na III Cúpula União Européia, América Latina e Caribe. O presidente voltou a destacar a importância da aliança com o país asiático. “É um caminho sem volta. Há muitos que torcem contra, mas há muitos que torcem a favor”, disse Lula, de improviso, ao fim do discurso oficial.

O presidente destacou as parcerias anunciadas e firmadas durante a visita oficial, agradeceu a aposta feita pelos investidores e empresários na missão, mas voltou a sinalizar para a China que os negócios não devem ficar apenas no âmbito da exportação de commodities, como minério de ferro e soja.

“Saio da China com a certeza de que fizemos um extraordinário trabalho. Mas nós só chegaremos à perfeição quando tivermos parcerias tecnológicas que nos impulsionem para o crescimento”, acentuou.

Subsídios

O presidente Lula foi muito aplaudido em sua palestra na Conferência do Banco Mundial (Bird), anteontem, sobre o Combate à Pobreza, ao defender o fim dos “escandalosos subsídios agrícolas dos países ricos”.

“Não é possível que as vacas de alguns países desenvolvidos recebam mais de US$ 2 por dia enquanto mais da metade da população do planeta vive com menos do que isso”, disse Lula, acrescentando que o Brasil já entrou numa rota de crescimento econômico sustentado.

Lula enfatizou sua defesa de políticas globais de combate à fome e afirmou que o Brasil alcançará os parâmetros estabelecidos pela ONU: “Se Deus quiser, nós cumpriremos as metas do milênio.”

EUA e União Européia

“O governo brasileiro tem clareza da importância das relações com os Estados Unidos”. A afirmação foi feita pelo presidente Lula, que concedeu entrevista coletiva a jornalistas brasileiros e estrangeiros após participar de uma conferência do Banco Mundial (Bird). “Tratamos os Estados Unidos e a União Européia com o carinho que eles merecem”, completou Lula.

Respondendo a uma pergunta sobre se o governo brasileiro estaria mandando recados indiretos aos EUA ao tomar posições que seriam contrárias aos interesses americanos, Lula argumentou que, por já serem muito fortes as relações com os Estados Unidos e a União Européia, o espaço para crescimento vai ficando mais limitado. Por isso, disse o presidente, o Brasil está tentando ampliar a cooperação com outros parceiros, como a China.

Lula frisou, por outro lado, que em breve irá aos Estados Unidos com uma missão comercial para fazer o mesmo que está fazendo na China.

Ele revelou que pretende promover no início de 2005, no Brasil, um encontro de presidentes de países árabes que ele visitou recentemente com os líderes de nações da América Latina. O objetivo, segundo Lula, é ampliar os laços comerciais e fortalecer a posição conjunta dos países emergentes nas discussões sobre o comércio global.

Lula disse ainda que a posição do governo brasileiro sobre os direitos humanos na China “é uma questão resolvida” e afirmou que não viaja a um país “para fazer julgamentos sobre a sua política interna”. Ele lembrou que a China incluiu a questão em sua Constituição na última Assembléia do Povo. “Isso foi considerado positivo pela própria ONU. Portanto, para o governo brasileiro, este assunto está resolvido”, encerrou.

Ministro nega acordo sobre urânio

Xangai (China) (ABr) – O ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, negou que o Brasil esteja em vias de assinar um acordo com o governo chinês, para fornecimento de urânio não-enriquecido. “O Brasil não participa do mercado de urânio porque importa urânio enriquecido”, disse o ministro, lembrando que o País não tem sequer planta para moer o produto nas usinas de Angra I e Angra II. Acrescentou que não interessa ao Brasil vender o urânio não-enriquecido.

O ministro manteve, durante a visita do presidente Lula à China, entendimentos com autoridades da Comissão de Ciência e Tecnologia para a Indústria e Defesa Nacional (Costind) visando avanços na parceria que os dois países desenvolvem na área cientifica.

“O Brasil tem uma cooperação desde 1982, na área científica e tecnológica com a China, que inclui o setor espacial, biotecnologia e a questão nuclear”, informou Eduardo Campos, destacando os avanços na área espacial.

Sobre a questão nuclear o ministro disse que não houve entendimentos para evoluir na cooperação, porque o Brasil estava fazendo um debate sobre o seu programa nuclear. Segundo o ministro, em novembro do ano passado, em missão preparatória à visita presidencial, manifestou o interesse em explorar, com o Brasil, possibilidades de ampliar a cooperação na área de aplicações pacíficas da energia nuclear como radioisótopos para uso médico, agrícola, e segurança de instalações nucleares.

De acordo com Campos, o tema voltou a ser questionado anteontem, e a resposta do governo brasileiro foi de que o assunto só poderia ser tratado após a revisão que vem sendo feita do programa brasileiro. “O Brasil não tomou decisão nenhuma”, reafirmou.

Eduardo Campos ressaltou que o Brasil assumiu internacionalmente o compromisso de só fazer cooperação nessa área com países que são “responsáveis nuclearmente”. Lembrou ainda que a Constituição brasileira proíbe o País de explorar a energia nuclear para fins bélicos.

“A Constituição diz que no Brasil o uso do conhecimento nuclear é para fins pacíficos. Nós só usamos o conhecimento nuclear para geração de energia, para a saúde do povo, como tratamento do câncer, diagnóstico e para irradiamento de alimentos que nós exportamos e que o mundo hoje exige que seja irradiado”, destacou.

O ministro da Ciência e Tecnologia alertou que há um mal-entendido na notícia sobre o fornecimento de urânio à China. “Em agosto, se tivermos concluído no governo o programa nuclear, voltaremos a tratar com os chineses ou outros países que respeitem os tratados internacionais, que sejam países responsavelmente comportados em relação à área nuclear”, afirmou. (Edla Lula – Agência Brasil)

Missão à China fortalece porto do Paraná

“Se o Brasil quer continuar exportando soja em grão para a China, a fiscalização nos portos deve ser mais intensa e rigorosa”. O recado foi dado pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e fortalece o Porto de Paranaguá, o único do País que mantém uma ampla fiscalização em defesa da soja pura. O monitoramento intenso, de acordo com Rodrigues, é a única forma de cumprir a exigência da China, de compra de lotes de soja “com nível zero de mistura com sementes”. O ministro integra a missão oficial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz na China.

O Porto de Paranaguá atracou nesta semana dois navios, um da China e outro da Índia para receber 120 mil toneladas de soja pura. As embarcações tinham como destino o Porto de Rio Grande (RS), mas tiveram a rota desviada para o Paraná depois que a China alertou que não receberia mais soja com mistura.

O mercado chinês é um dos principais para a soja brasileira, com demanda entre 6 e 7 milhões de toneladas por ano, estimam exportadores. “Os chineses não aceitam a regra internacional, que admite certa tolerância na mistura com sementes, e querem lotes limpos, ou seja, sem nenhum percentual de sementes”, relatou o assessor de assuntos internacionais do Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal do ministério, Gilson Westin Cosenza.

Embargo

De acordo com Cosenza, o governo chinês sinaliza que pode reverter o embargo imposto à soja brasileira fornecida por seis tradings “com o passar do tempo, mas não por enquanto”. Estão suspensas as importações de soja brasileira fornecida pela ADM, Louis Dreyfus, Noble Grain, Cargill Agrícola, Irmãos Trevisan e Bianchini.

Com base na Lei de Agrotóxicos, os responsáveis pelas empresas que misturaram soja com sementes podem ser punidos com multa e prisão de até dois anos. Cosenza defendeu a criação de instrumento legal que permita aos fiscais do ministérios proibir a exportação de lotes que não cumpram as regras internacionais. No caso do Porto de Paranaguá, não há qualquer preocupação.

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