Brasília e Genebra – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, rebateu as declarações do co-presidente do lado norte-americano do processo negociador da Alca, Peter Allgeier, afirmando que não acredita numa Alca que exclua o Brasil. “Eu não acredito que possa haver uma Alca sem o Brasil. Uma Alca sem o Brasil não é uma Alca, é uma Alca B”, disse Rodrigues, ao deixar um evento sobre agronegócio no Palácio do Itamaraty nesta quarta-feira.

A declaração do representante norte-americano para as negociações de livre comércio foi feita na terça-feira num seminário sobre a Alca no Congresso Nacional. Na ocasião, Peter Allgeier disse que os Estados Unidos buscariam a liberalização comercial com países que estivessem prontos e dispostos a entrar no acordo, fazendo clara referência às dificultades de negociações entre os dois países.

“O que nós precisamos ter é um avanço coletivo na Alca dentro dos interesses brasileiros, e no caso dos interesses brasileiros, o agronegócio é fundamental”, acrescentou Rodrigues. O Brasil quer incluir nas discussões do acordo a redução dos subsídios agrícolas e normas antidumping. Os Estados Unidos, em contrapartida, rejeitam colocar o assunto na agenda de negociação da Alca. Na terça-feira Rodrigues já havia afirmado que a retirada dos temas agrícolas das negociações poderia “frear” a Alca, ou criar um acordo de pouca abrangência.

Interlocutor

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, solicitou ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Supachai Panitchpakdi, que considere o grupo de países em desenvolvimento G20 como um “importante interlocutor” na atual rodada de negociações em nível mundial, um pedido rejeitado pela OMC. “O que foi agradável hoje para mim foi confirmar, como tinha ouvido antes, que o diretor-geral realmente observa o G20 como um importante interlocutor neste processo”, afirmou Amorim.

Mas o principal porta-voz da OMC, Keith Rockwell, negou que tivesse havido esse comentário durante a reunião que teve lugar na sede da OMC em Genebra. “Todos os membros da OMC são importantes e o diretor-geral não dará adjetivos a grupos”, acrescentou.

A nova aliança de países em desenvolvimento liderada pela Índia, Brasil, Argentina e África do Sul foi criada durante e depois da fracassada reunião ministerial de Cancún, México, no mês passado.Estes países querem pressionar para conseguir reduções nos subsídios aos produtos agrícolas de membros poderosos como os Estados Unidos e a União Européia, que distorcem o mercado.

O tempo é mínimo para se buscar uma solução e os membros da OMC devem se reunir em Genebra, em 15 de dezembro, para tentar salvar a atual rodada de negociações de Doha, que precisa estar concluída em 1.º de janeiro de 2005. “O Brasil e muitos países do G20 estão preocupados com a retomada das negociações”, afirmou Amorim.

Argentina reforça apoio

O chanceler argentino, Rafael Bielsa, reiterou ontem, numa coletiva, que seu país e Brasil, os dois maiores parceiros do Mercosul, vão negociar lado a lado nos fóruns econômicos internacionais. O ministro aludiu às duras negociações com os Estados Unidos pela formação da Alca e às da Organização Mundial do Comércio, após o fracasso de um encontro em Cancún, México, onde o Brasil liderou um grupo de nações emergentes que se opõem aos subsídios fornecidos pelos países mais poderosos.

Ao ser consultado sobre a atitude de Uruguai e Paraguai nas negociações pela Alca, disse que “é impensável” que os outros dois sócios plenos do Mercosul deixem o bloco. “Não temos sinais de que deixaram de ser ótimas as relações com os Estados Unidos”, respondeu ao seu consultado sobre um suposto conflito nos vínculos bilaterais, depois que Bielsa visitou Cuba e devido à suspensão das manobras militares Aguila III na Argentina, comandadas pelo Pentágono.

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