Alavancagem financeira em discussão

Alternativas para financiar o crescimento da produção industrial, com geração de empregos, foram debatidas ontem, em Curitiba, no seminário “Mecanismos Inovadores de Alavancagem Financeira”, organizado pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e pelo Instituto Paraná Desenvolvimento (IPD). “O BNDES tem recursos para financiar tudo o que se pode imaginar, mas as pequenas e microempresas têm dificuldade para conseguir o crédito, já que as operações diretas mínimas são de R$ 10 milhões”, aponta o secretário de desenvolvimento do IPD, Carlos Alberto Gloger.

Em função desse entrave, cita, “as empresas têm que usar a rede de agentes financeiros, que envolve os bancos comerciais, poucos bancos de desenvolvimento e agências de fomento, que não têm como objetivo final operações de longo prazo com baixa remuneração”. Das 30 mil indústrias do Paraná, 25 mil são de pequeno e médio porte (com menos de oito funcionários), conforme dados da Fiep. No Brasil, existem 14 milhões de empreendedores individuais, mas por causa da carga tributária de 38%, a maior parte está na informalidade, destaca o diretor da Associação Brasileira de Capital de Risco (ABCR), Robert Binder.

No seminário de ontem, os empresários receberam informações sobre mercado de risco, mercado de capitais e cooperativas de crédito. “Os projetos das grandes empresas terão acesso mais fácil ao BNDES e aos recursos internacionais, mas falta motivação para apresentar projetos porque os empresários têm receio de enfrentar novos investimentos por causa da alta taxa de juros”, assinala Gloger.

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, concorda que “o crédito escasso e as taxas de juros reais espantosamente elevados são um sério problema para toda a atividade produtiva no Brasil”, mas reitera que os recursos disponíveis no banco superam os pedidos de financiamento. No Brasil, todas as formas de crédito equivalem a apenas 23% do PIB, índice inferior ao do Chile (60%), EUA (110%) e Alemanha (160%). De 2002 para 2003, as aprovações de desembolsos do BNDES para pequenas e médias empresas aumentaram 22%. “Neste ano está havendo um crescimento robusto nas consultas e liberações para este setor, mas as grandes empresas ainda estão tímidas”, revela.

Todos os bancos brasileiros operam as linhas de crédito do BNDES para volumes abaixo de R$ 10 milhões. Mas segundo Lessa, as dificuldades de acesso ao crédito pelas micro e pequenas empresas decorrem de contrapartidas exigidas pelos bancos, não previstas no contrato com o BNDES – que criou uma ouvidoria para receber reclamações de empresários que tiveram dificuldades de obter financiamento através dos bancos.

Fundo

Uma das propostas estudadas no seminário foi a criação de um fundo para empresas emergentes (com faturamento de até R$ 100 milhões/ano) no Paraná, a exemplo do que já existe em outros estados. Para ser viabilizado, precisa de uma captação mínima de R$ 30 milhões. No ano passado, os 60 associados da ABCR investiram US$ 451 milhões, 30% mais que em 2002 (US$ 323 milhões), na aquisição de partes minoritárias de empresas. O recurso administrado por esse grupo de fundos e gestores soma US$ 5 bilhões, enquanto o BNDESPar tem uma carteira de US$ 13 bilhões. Nos últimos três anos, mais de 250 empresas foram beneficiadas com capital de risco no Brasil.

Nos EUA, a captação de risco representa 11% do PIB; no Brasil, não chega a 1%. Trata-se de um investimento de médio a longo prazo, entre cinco a dez anos. “O Paraná tem uma base industrial importante, nível de educação excepcional, tecnologia, circulação de recursos e é uma economia exportadora. Seria ótimo ter algo para apoiar as empresas nascentes”, afirma Binder, da ABCR.

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