Agricultura familiar mostra força diante da crise mundial

“A crise financeira mundial não deve atingir os pequenos agricultores. O mercado interno está com uma demanda muito alta e os produtos da cesta básica, como leite e feijão, por exemplo, estão bem fortalecidos.”

A constatação é do diretor do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral-PR) Francisco Simioni, que destaca o posicionamento forte da modalidade em função da valorização dos produtos e dos investimentos governamentais na agricultura familiar, que responde por cerca de 70% da produção dos alimentos que chegam a nossas mesas, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Superada a crise dos alimentos, que elevou os preços dos itens básicos em todo o mundo, a recente crise financeira veio apenas reforçar o que os mercados já sabiam: a agricultura familiar mostra-se fundamental no que tange ao suprimento da demanda pela regularidade produtiva.

Com uma produção diversificada, que vai do cultivo de hortaliças e frutas até a criação de pequenos animais, o setor representa a maior parte dos produtores rurais brasileiros.

Só no Paraná, há aproximadamente 321 mil agricultores familiares, o que significa, de acordo com informações do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), mais de 85% das pessoas que trabalham no campo no Estado.

Crédito

Para a safra 2008/2009, a agricultura familiar vai receber cerca de R$ 13 bilhões do governo federal. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), houve um aumento de R$ 1 bilhão em comparação à colheita anterior.

Somado à valorização dos produtos, o crédito rural será mais um auxílio com o qual o agricultor familiar poderá contar. “O crédito para o pequeno produtor cresceu 7%. Aqui no Paraná, foram R$ 1,4 bilhão em crédito de custeio e comercialização. Não vai faltar dinheiro para a agricultura familiar”, atesta o diretor do Deral.

A modalidade conta ainda com diversos programas de incentivo do governo do Estado. “Não basta apenas dar crédito para eles. É preciso oferecer outras formas de ajuda. Antes de liberar os créditos, os agricultores recebem capacitação e orientação. É preciso ter uma política de amparo, para que a agricultura familiar possa se desenvolver de forma sustentável e planejada”, acredita.

De acordo com o diretor-técnico do Emater Ademir Rodrigues, a agricultura familiar é prioridade para o governo. “Boa parte dos esforços e dos recursos é direcionada para o pequeno e médio produtor”, garante. Ainda segundo ele, as regiões que mais concentram a agricultura familiar no Estado são o sudoeste, oeste e centro.

Para poder dar melhor orientação aos pequenos produtores, o Emater disponibiliza trabalhos para organização da economia familiar e capacitação de gestores em pequenas cooperativas.

“A idéia é dar suporte para essas pessoas. A gente percebe que eles enfrentam algumas dificuldades, como colocar à venda a produção, saber trabalhar em grupo, entre outros problemas. Além disso, colocamos mais técnicos nas regiões mais pobres do Paraná, como, por exemplo, o Vale da Ribeira, a fim de prestar maior socorro para os agricultores”, diz Rodrigues.

Paraná angaria 25% dos recursos totais do Pronaf

Átila Alberti/ Arquivo
Maior parte dos investimentos obtidos pelos produtores será aplicada em lavouras como de feijão (acima) e milho.

Vinte e cinco por cento dos recursos do Programa Nacional de Fortal,ecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) disponibilizados para todo o País serão aplicados no Paraná.

A informação é do Banco do Brasil (BB), que destaca que o Estado sai na frente dos demais para ter acesso ao investimento. Dos R$ 2,1 bilhões, o Paraná receberá R$ 517 milhões. A maior parte dos investimentos será aplicada em lavouras de grãos, como o milho e o feijão.

“Essas são as safras que mais recebem investimentos. No caso do feijão, há a possibilidade de dobrar a assistência oferecida”, explica o gerente de agronegócio do Banco do Brasil Cezar de Col.

Segundo ele, os contratos aumentaram 40% em relação ao ano anterior. Desde julho, os agricultores paranaenses já haviam realizado um pré-trabalho para a aquisição dos valores do Pronaf – apenas o Rio Grande do Sul havia feito trabalho semelhante.

“Com isso, o produtor terá o dinheiro no momento certo”, afirma. De Col destaca que o Paraná toma a dianteira por realizar um trabalho forte com os agricultores e sindicatos.

“O Banco do Brasil mapeou o Estado e organizou bem as agências para dar o atendimento. O bom trabalho com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf) e com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) possibilitou todo esse adiantamento.”

Financiamentos proporcionam benefícios e descontos

O governo federal tem uma boa notícia para os agricultores familiares. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), quem realizar financiamentos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) a partir da safra 2008/2009 vai ter desconto dos produtos que fazem parte do Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF).

Para obter o benefício, é importante que a principal lavoura garanta, no mínimo, 35% dos empréstimos. Para os produtos não contemplados por essa medida haverá um desconto considerando uma fração de bônus de produtos como feijão, milho, leite e mandioca.

Para o secretário da Agricultura Familiar (SAF), Adoniram Sanches Peraci, a medida vai dar aos agricultores segurança de que o crédito estará coberto pela oscilação de preços. Ainda segundo o secretário, isso vai permitir aos agricultores familiares acesso a um investimento sobre o que se produz com segurança.

O PGPAF é uma garantia aos agricultores familiares de que os financiamentos receberão um desconto assim que forem pagos aos bancos. O bônus é igual à diferença entre o custo de produção (preço de garantia) e o de comercialização (de mercado), caso este esteja abaixo do custo de produção. O cálculo do bônus é feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O levantamento, realizado mês a mês, ocorre nas principais praças de comercialização dos produtos da agricultura familiar que fazem parte do PGPAF. Assim, segundo o MDA, as famílias rurais têm a garantia de que não terão que se desfazer de suas propriedades para pagar o financiamento, quando os preços estiverem abaixo dos custos de produção.