É hora de agir

Inebriado com a popularidade que decorre, em parte, de um estilo que a provoca para fazê-la rebrotar em cada esquina, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode perder a percepção de que existe tempo para tudo, inclusive tempo de começar a trabalhar no cumprimento de promessas não apenas prometidas, mas repetidas à exaustão. E entre tais promessas estão algumas que independem da consulta popular, como anuncia pretender fazer. A grande consulta foram os dois turnos da eleição realizada no ano passado, movida por um avassalador desejo de mudança que nada tem a ver com a pregação de esquerda ora agregado ao discurso.

Nos programas eleitorais gratuitos, o candidato sugeria, logo na abertura, um batalhão de especialistas realizando aquele que seria seu programa de governo. Mais que programas, o importante era vontade política para implementá-los, dizia Lula invariavelmente. Cunhou-se, assim, o mito – e ninguém falava ainda de transição – de que bastava a consagração nas urnas e a mão já estaria na massa, pronta para o trabalho de transformação. Não foi e não está sendo bem assim. Nem mesmo a prioridade número um, o anunciado combate à fome, teve a urgência desenhada na frase segundo a qual quem está de estômago vazio não pode esperar nem mais um dia.

Não se trata de exigir o milagre impossível da mudança à base de varinhas mágicas. Trata-se de perceber que tudo – pelo menos quando se fala nas reformas estruturais básicas – está tão ou mais enrolado que antes. É assim com a reforma da Previdência, com a tributária, com a trabalhista e assim sucessivamente. Nem mesmo da reforma política se pode esperar algo melhor que essa volta ao passado com a busca articulada de velhos caciques, que lembram fracassados planos, como o ex-presidente José Sarney, para a presidência do Congresso Nacional.

Mas fiquemos apenas naquela que teria – conforme as promessas – o condão de transformar o Brasil num grande centro de produção, geração de empregos (a promessa é de dez milhões) e de desenvolvimento. A reforma tributária, de tão importante, dispensa apresentações. Em vez de cuidar dela, o governo está cuidando dos juros nas alturas, que antes, na oposição, criticava, sem ao menos lograr freio na disparada do câmbio, também na estratosfera. Os trabalhadores tupiniquins não ganham em dólar, é verdade. Mas os preços – inclusive os administrados pelo próprio governo – têm o péssimo hábito de variar de acordo com a moeda americana. E isso é tudo. Em lugar de mudar o sistema tributário iníquo que aí está, trata de congelar tabelas do Imposto de Renda e de prorrogar a CPMF – esse odiado “imposto do cheque” também outrora condenado. Para cumular, nem mesmo consenso existe na área oficial a respeito do tipo de reforma a ser realizada, se aos pedaços, ou se de uma só vez.

A advertência do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que presidiu até bem pouco a Comissão Especial da Reforma Tributária na Câmara Federal, precisa ser considerada, quando ele diz que “não é hora de se votar um pedaço de reforma”, mas, sim, de pegar o boi a unha e resolver o problema por inteiro. É hora de agir. Se houver – como dizia antes o Lula candidato – vontade política da parte do governo…

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