Duas boas notícias

São aparentemente alvissareiras, para os contribuintes, as notícias fornecidas pelo Planalto a respeito do próximo ano – o segundo sob governo do PT. Viveremos um período favorável ao crescimento econômico, mas o governo, a despeito de ser um ano eleitoral, de maneira alguma vai abrir as torneiras do Orçamento nem afrouxar em suas metas de ajuste fiscal. Não vamos “abrir a guarda”, garante o ministro Antônio Palocci, da Fazenda.

Referindo-se a governadores e prefeitos do partido, Palocci observou que as eleições do ano que vem serão disputadas num período de crescimento da economia, com cenário econômico mais confortável, o que naturalmente beneficiará os candidatos. Mas, atenção: “Não esperem que vamos abrir mão de metas fiscais”. “Não estamos na fase ainda de abrir as torneiras”, assegurou. Essas coisas foram ditas também aos ministros petistas e na presença do presidente do partido, José Genoino, e do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, além do próprio presidente Lula.

Os comandantes petistas não escondem: pretendem dobrar o número de prefeitos sob sua legenda nas eleições municipais do ano que vem – catapulta azeitada para a tentativa de recondução do presidente Lula em 2006. Como em eleição o feio é perder, conforme diz o velho ditado, o prévio compromisso com a austeridade pode significar algo mais que o simples gongorismo de palavras atiradas ao vento. Para o projeto político de Lula, o desafio maior é manter a estabilidade econômica e promover o desenvolvimento. Por isso, atitudes irresponsáveis que normalmente acompanham períodos eleitorais estarão, pelo menos nas intenções e por ora, descartadas.

Mas enganam-se os que pensam que Lula vai deixar companheiros e correligionários aos leões. Sua ajuda virá de outra forma. Ele apostará maior parte de suas fichas no magnetismo pessoal, ainda em boa forma, tanto que já se comprometeu com a troca -conforme já se anuncia – da agenda internacional de muitas gafes pela nacional, mantendo apenas compromissos importantes regionais, mais uma viagem à Índia, outra à China e, uma terceira, à Rússia… Pegará assim estrada nas famosas caravanas pelo interior do País, notabilizadas ao longo das quatro eleições presidenciais de que participou. Com uma novidade: levará a tiracolo sua equipe de ministros que, segundo imagina, errarão menos se melhor conhecerem in loco a realidade brasileira.

Segundo a crônica brasiliense, a presença dos ministros será obrigatória nas dezenas de viagens que Lula pretende fazer Brasil afora. E isso não deixa de ser o anúncio explícito de que o presidente usará a poderosa máquina que comanda a serviço da estrela do PT, apesar do anunciado torniquete sobre o Orçamento (justificativa para manter o torniquete sobre os contribuintes?). Suas caravanas, antes, tinham o charme de um candidato na oposição e eram financiadas por outros meios. Agora poderão, simplesmente, enveredar para a monótona repetição da evidência de que o Estado está a serviço do partido.

Tanta gente paga pelo erário público envolvida em visitas com fins, se não claramente eleitoreiros, de duvidoso fim (afinal, aonde vai o presidente e seus ministros seguem-nos um exército de auxiliares, assessores e serviçais), pode reforçar os argumentos mal costurados da oposição que nasce formalmente com a eleição do derrotado candidato José Serra para a presidência do PSDB. Uma oposição que encontra nas promessas não realizadas um terreno fértil e adubado com as informações recentes de que a indústria nacional está, sim, produzindo mais, mas com menos gente. E ganhos de produtividade com redução de mão-de-obra são incompatíveis com a meta maior de geração de dez milhões de novos empregos em quatro anos – o espetáculo do crescimento sempre adiado que todos esperamos. Mais que as caravanas, influenciaria nas eleições a realização do prometido. Em palanque ou por esse esforço de gerar boas notícias.

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