Diz José Genoíno, o presidente do PT, que divergências e polêmicas estão no DNA do partido, para justificar o inconformismo de alguns com os rumos do governo liderado pelo mais proeminente fundador da agremiação, Luiz Inácio Lula da Silva. Mas essas divergências podem acabar em expulsão, na visão do senador Aloízio Mercadante, para quem a porta de saída está aberta aos insatisfeitos. “Ser governo é duro”, acrescenta o governador do Acre, Jorge Viana. Assim, rasgue-se a frase “ruptura com o modelo econômico” e adote-se o termo mais moderno e conveniente ?compromisso com a mudança.

O PT já não é mais o mesmo. A ordem anterior fora cunhada no encontro do Diretório Nacional de Olinda, em dezembro passado, logo após a retumbante vitória das urnas. Hoje no poder, o partido vê-se diante da necessidade de fornecer resposta aos problemas que antes criticava. O diretório reunido acha que tais respostas estão muito devagar. E pede mais velocidade e eficácia. Lula concorda e admite que seu governo está fraco exatamente onde o discurso é forte – no campo das ações sociais.

Foram mais de quinze horas de reunião. No final, sobrou o previsível: os radicais de todas as frentes e alas somam menos de trinta por cento. Todos juntos e raivosos, não conseguiram apimentar a resolução final aprovada, por eles considerada light, isto é, leve. Alguém do governo anterior, em especial o presidente Fernando Henrique Cardoso, deve estar feliz. O PT de Lula – quem diria! – apóia a política econômica do ministro Palocci. Esta, por sua vez, é semelhante (para não dizer igualzinha) à política econômica do ministro Malan, o homem forte do governo FHC. Mudanças são ambicionadas, sim e como antes, mas “sem traumas, sem casuísmos e sem desmandos”. A ruptura não existe mais no dicionário petista e quem quiser empregá-la que procure outro auditório.

Sinal de amadurecimento também foi o mea-culpa do senador Mercadante. Ele se diz arrependido das bravatas do passado, quando o partido tratou de sistematicamente bloquear o andamento das reformas das quais o País ainda se ressente. Se não tivesse agido de forma tão obtusa, hoje muita coisa já estaria pronta, seja no campo da Previdência, na área tributária e, mesmo, na trabalhista, sindical e política. Esta é outra prova de que o DNA do PT está em mutação. Afinal, até a elevação dos juros passa a ser vista como um instrumento alternativo e ?transitório? na estratégia do combate à inflação. Antes era pecado capital.

Há no documento uma única coisa que merece reparos: o aceno à defesa do direito de invadir, no trecho em que o partido empresta apoio ao ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário. Se pode invadir, pode também reagir. Mas a concessão aos radicais nesta questão condena a reação por parte do que considera “milícias armadas por latifundiários”. O governo Lula nunca terá paz suficiente no campo para a reforma agrária pretendida enquanto semear a semente do desrespeito e da invasão.

No mais, também concordamos: “O Brasil precisa sair da armadilha do baixo crescimento?. Ministros, secretários e integrantes de todos os escalões não podem acomodar-se burocraticamente nos cargos. Estão lá para trabalhar pela solução de nossos ingentes problemas, por um País melhor. É preciso mais velocidade, mais eficácia e definição.

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