Direção do PT vai advertir Heloísa Helena por não votar em Sarney

O presidente nacional do PT, José Genoino, propôs hoje a punição com uma advertência pública para senadora Heloísa Helena (PT-AL), que, no sábado, não compareceu à sessão que elegeu o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado. Se a punição for aprovada, a senadora, de acordo com o estatuto do PT, corre o risco de, num próximo choque com a cúpula partidária, ser expulsa da legenda.

A advertência faz parte de uma estratégia, orientada pelo Palácio Planalto, para isolar gradualmente as correntes consideradas radicais. “Heloísa ficou na marca do pênalti”, disse um colega de bancada.

O chefe da Casa Civil, José Dirceu, tem afirmado a interlocutores que não aceitará as contestações feitas pelos radicais à política econômica do governo. Para o ministro, a esquerda do PT trabalha contra o Planalto e, portanto, tem de ser anulada. Numa situação extrema, parlamentares como Helena podem até mesmo migrar para partidos à esquerda do PT, como o PSTU e o PCO.

O PT e o Planalto resolveram endurecer com os rebeldes depois da divulgação pela Agência Estado das declarações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em reunião fechada com a bancada do PT na Câmara.

Com a punição de Helena, o comando do PT quer dar o exemplo e evitar que as decisões do partido sejam descumpridas. “A Heloísa Helena precisa justificar sua ausência na votação”, defendeu o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Genoino pretende apresentar na próxima reunião da Executiva Nacional do PT, ainda sem data marcada, a proposta de que a senadora sofra uma censura pública. Outra opção é a bancada do partido no Senado resolver fazer essa advertência. Mas o líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), disse que preferia esperar a decisão da direção do partido.

Genoino disse ainda que os parlamentares petistas não são obrigados apenas a votar com a determinação do partido: eles também não podem se ausentar das votações. Segundo ele, a falta à sessão caracteriza obstrução, o que prejudica o resultado da votação. Ele ainda lembrou que a maioria dos deputados eleitos em outubro de 2002 chegou à Câmara na carona da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Quase a totalidade dos parlamentares que estão aqui foram eleitos não apenas por suas qualidades, mas pela força da estrela do PT, do número 13 e de Lula”, afirmou Genoino. “Mas ninguém será convidado a deixar o PT.”

Indignação

As ameaças da cúpula petista provocaram a reação indignada de parlamentares de alas radicais do partido. Os deputados rebeldes garantiram que não deixarão o partido, apesar da pressão do comando do PT.

“Não é ameaçando que conseguirão convencer os parlamentares. Já fui do PSTU e não tenho interesse em sair do PT. Parte do governo e do PT têm de ter mais tolerância com as vozes divergentes”, disse o deputado Lindberg Farias (PT-RJ), um dos alvos do Planalto.

O deputado João Batista de Araújo, conhecido como Babá (PT-PA), afirma que os que defendem a saída da esquerda do PT podem usar a mesma fórmula. “Os insatisfeitos com a nossa postura dentro do PT podem se filiar, sem nenhum constrangimento ideológico, a outros partidos que se aliaram para eleger Lula. Mas não é por aí a solução”, disse Babá. Já a deputada Maria José Maninha (PT-DF) afirmou: “Acredito na democracia interna do partido e não acredito que haverá caça às bruxas nem expulsão”.

Segundo o líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), a bancada do partido tem todo o direito de expor as críticas, mas precisa estar unida nas votações. “Não podemos permitir que um membro da bancada faça oposição ao governo”, afirmou o líder. Ele defendeu o uso do estatuto do PT para punir quem não cumprir as determinações do partido.

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