Diplomacia do etanol

O presidente George Bush virá ao Brasil neste mês. Esta será uma visita de especial importância, pois embora o diálogo entre os dois governos não esteja interrompido, a verdade é que os laços estreitos que chegaram a fazer com que um presidente nosso um dia dissesse que ?o que é bom para os EUA é bom para o Brasil?, já não mais existem. O Brasil despertou para o fato de que o país mais rico e mais poderoso do mundo não é invencível nem tem mais em suas mãos os cordões para conduzir como marionetes outros governos, em especial os do seu quintal, a América Latina. Surgiram governos de esquerda, como o da Bolívia, o da Venezuela e, pelo menos para efeito externo, o do Brasil de Lula. Aqueles peitam o governo Bush e suas pretensões de domínio e guardião do sistema democrático no mundo. Sistema que nem sempre pratica, notadamente quando interfere em outros países à mão armada, como fez e está fazendo no Afeganistão e no Iraque. A posição comercial e econômica dos Estados Unidos encontra agora a concorrência da União Européia, bloco que se consolida e se transforma num poderoso mercado para países como o Brasil, desejosos de mais independência em relação à grande nação do Norte.

Bush vem ao Brasil convencido de que é preciso encontrar uma pauta que aproxime o nosso País do seu e o seu governo do de Lula, não importa que os discursos e o noticiário desenhem um falso cenário de enfrentamento.

Essa pauta começa pela diplomacia do etanol, que só surge quando, afinal, o governo norte-americano se convence de que tufões como o que destruiu Nova Orleans e outros fenômenos da natureza que atingem o seu território e todo o mundo indicam ser verdade que há uma mudança radical no clima da Terra em razão do efeito estufa, do aquecimento do planeta pela emissão excessiva de gases. O convencimento dos Estados Unidos deu-se só agora, pois o país mais industrializado da Terra negou-se a assinar o protocolo ecológico de Kyoto.

Há um motivo tão grande ou maior que os furacões e tsunamis para esta mudança de posição. Maior usuário mundial de derivados de petróleo, consumindo muito acima de sua própria produção, os Estados Unidos afinal convenceram-se que essa fonte de energia está se esgotando e que é hora de pensar em alternativas. E o Brasil, que também tem petróleo, mas que durante muito tempo foi dependente do produto importado, desenvolveu uma tecnologia de produção de energia alternativa, o etanol, que aqui se faz basicamente com cana-de-açúcar e nos Estados Unidos, em menor quantidade, com milho.

Ocorre que os EUA de Bush precisam de uma pauta que os reaproximem do Brasil para neutralizar a liderança de esquerda ditatorial de Hugo Chávez, da Venezuela, um dos grandes produtores de petróleo. E essa pauta será a produção de etanol, a troca de experiências e tecnologia, onde cantamos de galo e somos donos de grande potencial de produção. O nosso País tem território, tem cana-de-açúcar, tecnologia para negociar. Nesta situação, Bush virá ao Brasil não como um pedinte, mas como um negociador que terá de se curvar à nossa superioridade numa mesa em que se discuta prioritariamente a diplomacia do etanol. E, por mais que para efeito externo interesse ao governo brasileiro fazer crer à opinião pública que somos um pequeno David enfrentando um Golias, é de todo interesse de nosso País um diálogo amistoso e conseqüente com o arbitrário e desastrado presidente dos Estados Unidos.

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