Dia da Juventude

Confesso que desconhecia a existência do dia da Juventude! Mas o dia da juventude é hoje. E o dia de mostrar a juventude suas responsabilidades, é sempre.

Quero aproveitar esse dia, para tecer algumas considerações acerca do comportamento de um considerável número de jovens e em especial aqueles ditos de classe média e média alta. Confesso que minha preocupação vem aumentando a cada dia. Tenho observado que um considerável contingente de jovens ditos mais abastados, não detém qualquer preocupação sequer com o presente, quanto mais com o futuro.

Morador do Bairro Cristo Rei, em Curitiba, na semana passada, trafegando pela Av. Affonso Camargo, observei que todas as palmeiras plantadas à margem daquela via, foram destruídas sem qualquer receio. Pior é saber que as pobres palmeiras foram destruídas por jovens que residem e estudam naquelas imediações. Diga-se de passagem, não são jovens de periferia e nem aqueles tidos por carentes e deseducados. São sim, jovens abastados, que estudam em conceituados colégios particulares localizados nas imediações do dano praticado.

Dia desses, estive observando, um evento onde a grande maioria dos participantes, eram jovens com idades entre 15 e 18 anos. Qual não foi a minha surpresa, quando passadas algumas horas do início, considerável número dos jovens apresentava visíveis sintomas de embriaguez. Diga-se de passagem, que a embriaguez não era resultado da ingestão de bebidas alcoólicas, mas sim, fruto da inalação de substâncias voláteis, levadas por aqueles jovens, que chegavam a festa trazidos por seus pais em seus belos carrões ou eles próprios dirigindo.

Outro dia, atuando como assistente do Ministério Público numa audiência de processo penal, no qual uma jovem com 21 anos de idade, “estudante” do 5º ano de psicologia, foi denunciada pela prática de homicídio doloso, pois irresponsavelmente projetou contra um grupo de jovens, o veículo que tomada emprestado da mamãe, que não soube dizer-lhe um sonoro NÃO. Ao ser interrogada, a jovem – com toda tranqüilidade – disse que, o fato de ter atropelado e matado uma menina que caminhava pela calçada em plena luz do dia, não poderia alterar sua rotina, já que necessita estar com seus amigos e freqüentar a “balada”. Afinal sua vida tem que continuar. Pasmem, essas foram literalmente suas palavras, proferidas perante um Juiz de Direito. Note-se que o homicídio se deu no dia 1º de janeiro e sua autora, “curtiu” toda a temporada de verão, como se nada tivesse acontecido, chegou inclusive a pular carnaval e freqüentar, o mesmo local em que se embriagou antes de praticar o crime de homicídio.

O que está a faltar aos jovens?

Confesso que não sei! Não sou um estudioso do comportamento. Mas penso que no âmbito material, aos jovens está a faltando exatamente o “nada faltar”. Tudo eles têm. Já ao nascerem, seu primeiro sapatinho tem que ser da “Nike”, suas roupinhas da “GAP”. Mais tarde, quando entra para a escola, sua lancheira tem que ser”Louis Vuitton”. Afinal é uma exigência do sistema. Quando crescem um pouco, não têm bicicleta, têm “Honda Biz”, e aos dezoito anos, quando “prontos para o mundo”, ganham seus belos carrões.

O jovem de classe média e classe média alta parece desconhecer a existência de limites, a busca consciente, o merecer. Quando alguém lhe impõe um certo limite, ou restrição do tipo: “para esta festa, você não foi convidado” ele acostumado a não ter limites e a não ouvir “nãos”, tenta fazer prevalecer sua vontade, nem que seja à força, muitas vezes causando tragédias das mais diversas. O dia-a-dia dos noticiários policiais está a demonstrar a série de ocorrências envolvendo os agora denominados de “pit boys”. Na verdade, são os tais “pit boys” tão delinqüentes quanto aqueles que as autoridades policiais insistem em chamar de “elementos” “vagabundos” e outros adjetivos que somente são direcionados àqueles jovens da periferia das grandes cidades. Os antes “filhinhos de papai” agora são “pit boys”.

Até mesmo quando seus próprios pais resolvem impor-lhes, ainda que tardiamente, alguns limites, esses são covardemente assassinados na calada da noite, como temos visto quase que diariamente nos noticiários. Esses fatos infelizmente vêm se tornando corriqueiros, haja vista a quantidade de jovens que vêm matando aqueles que, antes tudo lhes deram sem nada exigir e de uma hora para outra, resolvem dizer-lhes um único não.

A grande maioria dos jovens, definitivamente não está sendo preparada para a vida. Até porque a vida diz muitos “nãos” e ouvir um não, parece não ser coisa de jovem. Jovem, como eles mesmo dizem, é outro papo.

Que me desculpe a minoria, mas a frustração é grande! E aproveitei esse dia para extravazá-la.

P.S. A jovem covardemente assassinada, em 01.01.04 era minha filha, que foi atropelada quando tranqüilamente caminhava pela calçada no Balneário de Piçarras-SC. Já a jovem que atropelou, hoje caminha tranqüilamente, certa da impunidade acreditando que isso é Brasil.

Gilberto Gaeski
e-mail.advogaeski@terra.com.br

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