Dez milhões de empregos

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na apresentação de seu programa de governo, prometeu gerar dez milhões de empregos em quatro anos. Um número redondo, que desce redondo num país com sede de novos postos de trabalho. Meta otimista, senão um chute de quem, na mesma oportunidade, disse que a conquista do pentacampeonato de futebol é um exemplo a ser seguido. “É possível ser defensivo e ofensivo ao mesmo tempo. Não dá é para ficar o tempo todo na defesa, tentando não tomar gol”, afirmou Lula. O candidato petista disse que começará a agir, no sentido de gerar desenvolvimento e empregos, desde o primeiro dia de governo, se for eleito. A referência futebolística é uma crítica ao atual governo, ao qual se atribuem cautelas constantes para que a dívida pública interna e externa possa sempre ser administrada, o que inibiria os investimentos capazes de gerar desenvolvimento e empregos.

Como objetivo, o anúncio de Lula é mais que conveniente. Oxalá seja também realizável. Como ele mesmo revela, temos 11,4 milhões de desempregados e, a cada ano, estão prontos para entrar no mercado de trabalho, e nele não encontram vagas, cerca de 1,4 milhão de jovens. Em quatro anos, são 5,6 milhões a mais à procura de postos de trabalho. Assim sendo, a meta anunciada por Lula é ousada, mas mesmo assim ainda um pouco abaixo das verdadeiras necessidades do País.

Para alcançá-la, não basta uma declaração de vontade política, embora esta seja indispensável. É preciso que se promova o desenvolvimento econômico, o que exige elevadíssimos investimentos, inclusive, senão principalmente, externos. Não existe poupança interna para tão ambicioso plano. Para promover o desenvolvimento, Lula parece não rejeitar os investimentos externos diretos, produtivos. Mas promete fechar as portas, desde logo, para o capital especulativo. Essas entradas de investimentos produtivos externos exige algo de que deve cuidar o novo governo desde o início. Referimo-nos à manutenção de confiança no Exterior de que o Brasil não rasgará contratos, não decretará moratórias, não descumprirá compromissos. Senão, o dinheiro não vem. E o que aqui está, vai embora.

Lula ainda fala em uma política de comércio exterior mais agressiva. Chegou, há poucos dias, a anunciar a indicação de um adido comercial em cada embaixada brasileira no Exterior. É um objetivo que deve ser perseguido. O problema é como alcançá-lo, pois comércio exterior é uma via de duas mãos, depende de problemas cambiais, abertura de mercados e, antes de mais nada, competitividade. Esse objetivo também o tem o atual governo, em especial nesta quadra final de seu mandato. E até que tem conseguido alguns resultados positivos, pífios entretanto, se considerarmos nossas reais necessidades. Um dos pontos altos da base de sustentação dessa meta de criação de dez milhões de empregos é a consciência que Lula tem de que é na construção de moradias e na construção civil em geral que poderão ser gerados mais empregos. Esses setores usam mão de obra intensiva, suportam melhor a falta de especialização dos trabalhadores e não reclamam insumos importados.

Diríamos que, em linhas gerais, Lula está no caminho certo. O problema é saber que percalços terá que enfrentar; que constrangimentos, com destaque a falta de recursos, terá de superar. E se sabe que não conseguirá se não estiver estreitamente associado à iniciativa privada.

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