Desemprego à vista

Todos os candidatos, sem exceção, foram pródigos em prometer geração de empregos. Uma preocupação necessária para quem desejava ser presidente da República ou governador de Estado. Um expediente essencial para a conquista de votos, pois é sabido que o desemprego ou o medo de se tornar desempregado é um dos principais fantasmas a amedrontar os brasileiros. A curto prazo, sem desenvolvimento econômico, o que exige projetos, incentivos e recursos financeiros, nada de excepcional a esperar no campo do emprego.

O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, que estreou dando uma redonda bola fora com aquela idéia estapafúrdia de acabar com a multa sobre o saldo do Fundo de Garantia nos casos de demissões sem justa causa, está agora com um enorme pepino nas mãos no que se refere a empregos.

Venceu, nesta semana, a medida provisória do governo Fernando Henrique Cardoso que prorrogava para 60 meses o prazo de 18 meses permitido às empresas para contratação temporária, com vantagens para as empresas, como um desconto de 50% nas contribuições patronais para o Sebrae, Senai e Senac e redução de 8% para 2% sobre os salários, no pagamento do FGTS. A medida visava criar novos empregos, mesmo que temporários, oferecendo aos empregadores vantagens financeiras que, no fundo, são redução de benefícios para a classe trabalhadora.

Estima-se que o sistema gerou 42 mil novas contratações, um número pequeno em relação aos 30 milhões de trabalhadores hoje existentes no País, com empregos formais. Com o fim da prorrogação para 60 meses do emprego temporário, volta-se ao sistema de 18 meses e as empresas que tiverem empregados contratados temporariamente ficam no dilema de demiti-los ou admiti-los, com os ônus normais da contratação formal. Esses ônus são elevadíssimos.

A situação não parece entusiasmar a contratação por tempo indeterminado, com carteira assinada, pois paira no ar um clima de manutenção da carga tributária em altos níveis e os juros básicos (Selic), aumentados ontem em meio ponto, para combater a inflação, já estão em 25,5%. Não existem sinais claros de retomada do desenvolvimento econômico em níveis que possam entusiasmar contratações e 42 mil temporários estão ameaçados de engrossar a enorme massa de desempregados.

O ministro Wagner confessa que está preocupado e que não tem nenhum estudo que demonstre que o sistema do emprego temporário aumentou o número de vagas. Também não apresenta um programa para substituí-lo, embora acene com isso, sabedor de que se trata de uma questão grave. Afinal de contas, quem já está empregado há 18 meses está trabalhando a mais de um ano e meio. Não se trata de nenhum quebra-galho, como os empregos temporários do período de Natal e fim de ano, mas de relações de trabalho duradouras, que geraram compromissos dos trabalhadores e lhes ofereceram, por um tempo razoável, relativa estabilidade.

Esta é a hora de criar e não de fechar postos de trabalho e é muito condenável que não se tenha avaliado a eficiência (ou ineficiência) do sistema enquanto se prometia criar milhões de empregos. Pior ainda, que não se tenha nenhuma idéia do que fazer: acabar com os empregos temporários; mudar o sistema, ajustando-o de acordo com a experiência já vivida, ou substituí-lo por outro que ajude a exorcizar o fantasma do desemprego, pelo menos para algumas dezenas de milhares de trabalhadores.

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