Desculpas presidenciais

O presidente Lula pediu desculpas à nação por ter subido no palanque da prefeita de São Paulo e para ela pedido o voto dos eleitores, distinguindo-a com pródigos elogios dos demais candidatos que concorrem ao mesmo cargo. O pedido de desculpas foi genérico e endereçado “a quem possa ter se sentido mal” com o discurso que fez durante a inauguração de uma obra municipal.

Disse o presidente que num improviso foi tomado de emoção ao falar da campanha eleitoral. “Se cometi um erro, eu peço desculpas (…). Se eu machuquei alguém, se eu feri alguém, vou ser mais comedido daqui para frente. Vou evitar, durante o processo eleitoral, fazer meus improvisos que possam ajudar meus candidatos”, disse o presidente.

O fato imediatamente gerou muita discussão, inclusive provocações formais à Justiça para que determinasse se o presidente de todos os brasileiros cometera crime eleitoral ao avançar o sinal, “tomado pela emoção”. Na esteira do malsinado pronunciamento, a equipe de assessores diretos do presidente cometeu algumas trapalhadas dignas de registro. Colou o texto do discurso na íntegra no site que o governo mantém na internet para, ato seguinte, retirá-lo e editar o texto, cortando os trechos inconvenientes. Queria tapar o sol com a peneira.

Também sobre isso Lula falou, para dizer que ele desconhecia o vaivém, pois estava nos Estados Unidos. Aqui chegando, garante que determinou fosse o texto reconduzido à sua inteireza. Embora esse fato lembre outro recente, envolvendo o ministro da Cultura, Gilberto Gil, é de se louvar a transparência com que o presidente tratou do caso. Se disse bobagem, está dito e dela pede desculpas. Mas que não se retirem as bobagens ditas da memória eletrônica da rede mundial, pois não se apaga um fato.

Voltando às desculpas presidenciais, é bom que se as classifique como pertinentes. Mas não completas. Lula andou subindo em outros palanques, e também através de cartas, tem trabalhado para ex-companheiros sindicalistas, como o deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, que também está na luta para se eleger prefeito em São Bernardo do Campo. Depois de fazer, o presidente disse que não mais fará o que não deve ser feito. Ainda bem.

Em que pese o gesto de aparente humildade, Lula acusou ao mesmo tempo seus adversários políticos para dizer que estão fazendo campanha como se fossem eles os candidatos. Em outras palavras, sugere que também os governadores envolvidos na eleição peçam desculpas e se abstenham de infringir a lei. O erro de outrem, como se sabe, não inocenta ninguém.

Estamos apenas no primeiro turno. Nas grandes cidades o processo ainda está longe de ser definido e a discussão a respeito do uso descarado da máquina oficial – seja ela federal, estadual ou municipal – é o pano de fundo de toda a celeuma. A lei precisa ser cumprida, não porque alguém possa ter-se ofendido ou se sentido mal, como argumenta o presidente, com um tom que beira à ironia, mas porque é a lei em vigor que subordina a todos os brasileiros. E ao presidente da República, que jurou defender a Constituição e as leis, não é lícito sequer insinuar que existem regras para ser cumpridas e, outras, que não precisam ser cumpridas.

Tais considerações à parte, tome-se o lado bom desse pedido de desculpas para dele extrair a lição de que os exercentes de cargos públicos precisam olhar mais para a nação, suas necessidades e diferenças, e menos para seus botões. Um presidente, um governador ou um prefeito ajudará seus candidatos se bem se desincumbir de suas obrigações, incluindo aquelas da representação geral, acima de partidos, rixas ou futricas que infelizmente transformam eleições democráticas em lutas campais pouco civilizadas.

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