“Democracia não é só coisa limpa não”, diz Lula

"Democracia não é só coisa limpa não". A frase foi dita ontem à noite em comício, em Caruaru, no agreste pernambucano, pelo presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula se referia aos ataques e acusações que vêm sofrendo ele próprio e os seus ex-ministros Humberto Costa, da Saúde, e Eduardo Campos, da Ciência e Tecnologia, ambos candidatos ao governo do Estado

Em apoio a Costa, indiciado pela Polícia Federal na investigação que apura esquema de superfaturamento de produtos hemoderivados, chamada Operação Vampiro, confundiu-se, chamando de "sanguessuga" (a investigação de superfaturamento de ambulâncias). "Sou testemunha de que esse companheiro (apontando para Humberto Costa ao seu lado direito) mandou carta a Polícia Federal pedindo para investigar o "sanguessuga", afirmou, tranqüilizando-o. "Não se preocupe, você vai ter o tempo necessário para poder provar a lisura do seu comportamento".

"De qualquer forma – continuou o presidente – isto também faz parte da democracia. Democracia não é só coisa limpa não. Democracia às vezes tem dessas coisas que nos causam preocupação que nos causam desgosto, mas nós temos que saber enfrentar porque vamos derrotá-los não é batendo boca com eles não. É na urna que vamos derrotar os nossos detratores".

O presidente observou que se fosse acusado, por exemplo, pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) – que promoveu o evento – Manoel "Serra" (confundindo-se mais um vez, o nome é Manoel dos Santos), um trabalhador, estaria preocupado. "Mas quem está na tribuna do Senado e da Câmara me acusando não merece que eu perca o meu tempo, não merece".

Durante o comício, Lula elogiou os militantes das candidaturas de Costa e Campos, que empatados tecnicamente nas pesquisas de opinião disputam uma vaga no segundo turno com o governador-candidato Mendonça Filho (PFL), apoiado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Eles dividiram o palanque com Lula e têm evitado acusações entre si.

"Humberto e Eduardo estão separados porque a legislação eleitoral tem uma coisa chamada cláusula de barreira que impede que os partidos estejam juntos", explicou. Mas logo essa seleção vai estar junta e vamos enfrentar nossos adversários", destacou, ao dizer que depois de primeiro de outubro, vai voltar a Pernambuco para apoiar o que tiver chegado ao segundo turno.

Sem deixar de se gabar por entender a alma do povo e por ser o primeiro presidente da história do Brasil que qualquer trabalhador pode chamar de "companheiro", Lula frisou que em uma campanha política tem gente que faz campanha séria e gente que faz campanha de forma rasteira. "Tem gente que faz campanha fazendo um papel imprestável do ponto de vista da formação da sociedade brasileira", disse sem citar nomes e ao exemplificar com campanhas enfrentadas pelo ex-ministro Marcos Freire (PMDB) pelo ex-governador Miguel Arraes (PSB) e afora pelos "meninos" Humberto Costa e Eduardo Campos. "Eu mesmo já fui acusado muitas vezes", complementou ao citar conselho da mãe, que dizia "meu filho, cautela e caldo de galinha só ajuda as pessoas que têm calma".

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