Democracia na América

A confirmação de John Kerry para candidatura à Presidência da República na convenção democrata foi bem recebida pelos seus partidários, contudo, não é de todo satisfatória para os mesmos. A postura política moderada de Kerry é apontada com um problema importante a ser enfrentado pelo candidato. Kerry não é visto como um democrata de esquerda, mas como um democrata de centro.

De forma contida, interessado no voto dos conservadores, Kerry tem dado lineamentos liberais, interessado no voto dos democratas de esquerda, para as questões ligados a orientação sexual e moral, liberdades individuais e costumes. O momento político norte-americano ainda é delicado. A segurança e a defesa são ainda questões prioritárias no cenário interno e Kerry não é facilmente apresentado como alguém dotado de posturas firmes.

Este detalhe assusta um grande número de eleitores que solidificaram o medo em seu cotidiano. Assim, a garantia do fim da neurose terrorista é um elemento primordial para o acesso de Kerry a Casa Branca. A legitimidade das eventuais incursões militares do presidente George W. Bush não é significativamente questionada pela grande maioria dos eleitores. Ao mesmo tempo o atual presidente afirma ter tornado os EUA um local mais seguro.

George W. Bush é o homem a ser batido. Não é sem razão, que a concentração dos esforços democratas ou de grupos que apóiam Kerry parte de premissas `anti-Bush’ e não argumentos `pró-Kerry’.

A modelo `cinema verdade’, por exemplo, tem ampliado o espectro `anti-Bush’. `Fahrenheit 11 de setembro’ de Michael Moore, `Le monde selon Bush’ de William Karel e `Liberty Bound’ de Christine Rose são alguns destes exemplos. Grupos `anti-Bush’ têm poluído o espaço publicitário com ações diárias que atacam o presidente. Desde janeiro de 2003 estes grupos já arrecadaram mais de US$ 150 milhões.

Estas organizações não têm limites para estabelecer criticas ao atual modelo de administração federal. Contudo, devem se abster de pedir voto para um ou outro candidato. São formados basicamente por ativistas que defendem interesses próprios ou coletivos e que vislumbram riscos na permanência de Bush no centro da política norte-americana.

O sempre inspirador e desafiante modelo norte-americano de democracia tem possibilitado discussões interessantes. Demonstra a literatura que não há uma profunda diferenças na ação democrata e republicana. Clinton, ao contrário do que indica a lógica, mostrou ser mais `republicando’ que `democrata’ no final do seu governo. Bush deverá alijar uma parte do seu discurso conservador nos próximos meses e Kerry deverá mostrar um certo conservadorismo em suas ações ligadas a segurança.

O elo comum, e que move os interesses do mundo, está centrado na forma com o novo governante conduzirá os destinos da humanidade. Contudo, as agendas internacionais são suficientemente limitadas para definir as expectativas mais singelas. Aparentemente, um grupo expressivo de norte-americanos sabe o que não quer eleitoralmente, porém, não demonstra confiança no que eventualmente se apresenta como senhor da mudança.

Leonardo Arquimimo de Carvalho

é coordenador do Curso de Direito da Faculdade Assis Gurgacz. Professor na Academia de Direito das Faculdades do Brasil.

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