Demitidos da Varig fazem bicos para sobreviver

Com quatro meses de salários atrasados e sem saber quando receberão verbas rescisórias, funcionários da Varig estão se virando como podem para sobreviver. Sabrina, Juliana e Patrícia, três comissárias da companhia, deverão ser a capa da revista Playboy de setembro. Elas foram anunciadas esta semana na festa de 31 anos da publicação. Para os que não podem posar numa revista masculina, o jeito tem sido vender apartamentos e móveis fazer bicos como manutenção de computadores e cursos de modelo e manequim. Há até mesmo quem pense em abandonar o País. Essas são algumas das alternativas encontradas por empregados com pelo menos 20 anos de casa.

Empregados da Varig também relatam que, recentemente, houve uma corrida às lojas da Fundação Ruben Berta (FRB), que vendem diversos produtos com a marca Varig, para revender bonés, camisetas e miniaturas de aviões, entre outros artigos. Os funcionários aproveitaram a época em que as compras nas lojas da FRB podiam ser feitas com descontos em folha, já que eles não têm recebido salário. Agora, porém, qualquer artigo comprado na loja da FRB tem de ser pago à vista, em dinheiro ou cartão de crédito. A FRB foi procurada para confirmar a informação e dar autorização para a reportagem fazer uma visita à loja do Rio, mas não retornou.

O comissário João Ricardo da Silva Motta, de 42 anos, trabalha na Varig há 15 anos e descobriu esta semana que seu nome não está na escala de vôos da Varig para os próximos 30 dias. Sem receber há quatro meses e há dois anos sem o 13º salário, ele conta que está fazendo a manutenção de computadores de amigos para poder ter outra fonte de renda e sustentar quatro filhos. ?Não tenho como pedir emprego em outro lugar, porque minha carteira continua com o registro da Varig. Estou fazendo biscates para sobreviver?, conta o comissário.

Aos 49 anos de idade, 21 como comissária da Varig, Rosicléia Cavalcante da Silva já teve até de vender a cama de seus filhos para poder pagar despesas. Ela conta que também vendeu todos os produtos de beleza importados que tinha para ter uma receita adicional.

Agora, depois que parte de seus benefícios foi cortada e ela está de licença por problemas de saúde, ela planeja vender o apartamento. ?Está tudo muito obscuro. Cada hora é uma informação diferente?, conta.

?Faltava apenas um ano para eu me aposentar, mas não posso perder a esperança. Esse telegrama foi traumatizante?, relata a comissária Otília Pires, de 52 anos, 26 dos quais dedicados à Varig. Ela referia-se ao aviso de demissão enviado pela Varig na quarta-feira. Sem perspectivas de conseguir emprego no setor, ela só pensa agora em sair do País. Fluente em quatro idiomas (espanhol, francês, italiano e inglês), ela conta que está sozinha no Brasil e planeja reencontrar sua família, que mora na França.

Otília era uma das cerca de 700 pessoas que compareceram na semana passada a uma assembléia convocada pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), com o objetivo de orientar os funcionários a buscarem judicialmente alguma garantia de seu dinheiro. Ela diz que atual situação da Varig a levou ao hospital, por causa de uma crise de hipertensão.

Os aposentados da Varig ainda não tiveram de fazer bicos porque também recebem pelo INSS, ou porque têm idade avançada. Mesmo assim, sua receita está minguando porque os planos de benefícios da Varig no fundo de pensão Aerus estão em processo de liquidação. Por isso, o Aerus só está pagando 50% dos benefícios desde junho. E esses pagamentos só serão feitos até janeiro. Depois disso, não há nenhuma garantia de que terão algum dinheiro a receber do Aerus.?Também sou aposentado pelo INSS, mas não é suficiente. Só de plano de saúde pago R$ 900?, diz Orlando da Gama, de 70 anos, que foi comissário de bordo durante 30 anos e está aposentado há 12 anos.

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