Década perdida

Nos anos 80 e 90, o Brasil amargou vinte anos de crescimento medíocre. E parece que está caminhando para mais uma década perdida. Pelo menos é o que conclui um estudo do Centro para Pesquisa Econômica e Política (Center for Economic and Policy Research), com sede em Washington. O instituto critica a política do Fundo Monetário Internacional para a América Latina e suas conclusões e ponderações parecem isentas e verdadeiras, para preocupação nossa. O economista Mark Weisbrot, um dos autores do estudo, tomando por base projeções do FMI e resultados de nossa economia, conclui que a expansão anual da renda per capita nos cinco primeiros anos desta década de 2000 deve ficar por volta de apenas 1%.

“Com isso – diz -, o Brasil deve seguir o mesmo ritmo lento das duas décadas anteriores. É uma grande decepção para quem esperava que as reformas fossem pôr o País nos trilhos do desenvolvimento sustentado.”

Na década de 80, a renda per capita do brasileiro cresceu míseros 0,9%. Nos anos 90, esse percentual foi ainda mais baixo. Caiu para 0,7%.

A renda per capita é o resultado da divisão do Produto Interno Bruto – PIB pelo número de habitantes do país.

Nas décadas anteriores, esses números foram muito mais elevados. Na de 50, crescemos 3,8%; na de 60, 3,9%, e na de 70, nada menos de 5,9%.

Na época, referindo-se aos resultados das décadas de 60 e 70, os brasileiros diziam que se tratava de um milagre, “o milagre brasileiro”.

Mas Weisbrot afirma que aquele crescimento foi, sim, sustentado pelo endividamento, o que não é bom, mas nos anos 90 também houve um enorme aumento da dívida e o País pouco cresceu.

Mark Weisbrot lembra que, “infelizmente, não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina, estamos vendo a repetição de um padrão de crescimento – ou estagnação – que já vem sendo observado há mais de duas décadas”. Para ele, o fracasso das economias latino-americanas pode estar nas reformas neoliberais implementadas a partir dos anos 80. Ele refere, como exemplo, a substituição de uma política de desenvolvimento industrial pela abertura do País para as importações.

Para que esta não seja mais uma década perdida, de acordo com o estudo referido, é preciso fazer o impossível. O Brasil crescer com saltos anuais de 9,3% nos últimos cinco anos da atual década. Resultados dessa ordem só têm sido alcançados pela China em toda a história econômica recente.

Analisando as décadas perdidas, ele critica a política de importação de insumos, sob o argumento de que, vindos do exterior, são mais baratos e impulsionariam o desenvolvimento econômico. Resultado que não aconteceu. “Os Estados Unidos nunca fizeram isso, a Alemanha nunca fez isso, a China não faz isso”, lembra o economista.

Olhando diretamente para o Brasil, o especialista norte-americano cita as elevadas taxas de juros como parte das receitas neoliberais que frearam o nosso desenvolvimento. E acrescentou: “A política de juros altos, endossada pelo FMI, exige um aperto fiscal imenso, inconcebível. Milagre é o País não estar numa recessão profunda com taxas tão altas”.

Essa política de juros altos já era praticada antes do governo Lula, sob o argumento de que era necessária para conter a inflação. E na atual administração, continuou e aprofundou-se.

Para ele, é difícil isolar as causas desse fenômeno, mas a verdade é que a América Latina teve o pior resultado de sua história recente nesses últimos 25 anos. “Nem a Grande Depressão teve um impacto tão nocivo”, conclui.

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