Das Lutas Sociais à Fraternidade

Fraternidade é a destinação do Brasil. Está escrito e a transcrevo da Via Láctea.

De suas lutas sociais, talvez a de maior importância haja sido a luta de raças, inclusive antecedendo a de classes. Diante delas, outras se afiguram irrelevantes. Mas todas tendem ao declínio. Ainda que tenham subido os índices de pobreza e exploração nas cidades e no campo.

Tais calamidades que assolam a Terra são ainda remanescentes do primarismo evolutivo da criatura humana. Heranças que a induziram à posse, ao ter, à violência na disputa pelo poder, em que os indivíduos se tornam adversários, inimigos e, então, os grupos, as clãs, as raças, as classes, as religiões, as nações e países. Tal é a origem dos conflitos, cuja solução se encontra no processo da solidariedade humana.

Há séculos e séculos era livre numa sociedade igualitária a população indígena. Nas aldeias dos campos e florestas dividia a vida, as ocas, a caça, a pesca, a roça, os rebanhos. Prosperaram nações como a Guarani, a qual no Sul possuíra cerca de um milhão de reses. Com o descobrimento, a invasão branca armara poderosas expedições para dominá-las, saqueá-las, escravizá-las, e roubar-lhes as terras. Em luta desigual, só escaparam ao genocídio tribos que se retiravam para o sertão inóspito. Outras diluíram-se dominadas com a aculturação.

Entretempo, atracavam nos portos os navios negreiros com carga humana acorrentada e “a venda, famílias inteiras provindas da África. Era a grande tragédia, a negra, que comoveria o povo na formação solidária de uma pátria nova no mundo.

Haveria de ruir a monarquia, o regime escravocrata. A raça negra construiria e sustentaria o País, enquanto em luta pela liberdade, epopéia ou holocausto de quatrocentos anos.

Discutia-se na Europa se os nativos, “selvagens”, eram ou não dotados de alma. Até em nosso continente racistas relacionavam o homem negro à zoologia. Crimes tão hediondos contra a humanidade, pilhagem, massacres, acorrentamento, torturas, estupros, não eram crimes(1) como ainda não são as guerras, as explorações de povos inteiros, a fome e a miséria. Assim culminaram as disputas da criatura humana pelo poder.

Mas há de se ressaltar na História os fatos positivos na evolução da humanidade.

Com o descobrimento, aconteceu o extraordinário que transforma de fez o mundo. Nas caravelas os missionários trouxeram Cristo para o Brasil e o continente.O encanto das crenças indígenas e dos negros escravos, a sua bondade, mais a esperança de colonos, imigrantes, prepararam o espírito da Nação para recebê-Lo e compreendê-Lo. Então o Evangelho enriqueceu com o conteúdo substancial o humanismo brasileiro. E com maior razão, homens e mulheres são vistos igualmente como pessoas, valorizadas antes de tudo pela dignidade.

A Renascença reconstruiria o mundo, os ideais de liberdade, proclamara os direitos humanos. Jean Jacques Rousseau, o Marquês de Beccaria e outros retomaram a bandeira da dignidade do ser humano contra toda sorte de preconceitos. Logo mais nasciam os ideais democráticos. Com a tecnologia e a Era Industrial, a 15 de setembro de 1891, o Papa Leão XII promulgou a Encíclica Rerum Novarum, defendendo o direito dos operários e dos margina lizados, seguida pela Quadragésimo Anno, de 1931, a Pacem in Terris, a Popularem Progressio e a Humanae Vitae.

Com a ascensão da burguesia e crescimento do proletariado, recrudesceram as lutas de classes no mundo. Mas a revolução do Brasil aconteceu com o desenvolvimento urbano, ao formar-se o povo, quando a burguesia foi solidária à raça negra e ao proletariado na abolição, na queda da monarquia e na consolidação da republica federativa. Antecederam-na as lutas pela independência. No País, a formidável miscigenação e também a heterogeneidade das classes influem no declínio dos conflitos sociais. Há de se considerar, ainda, mudanças para a sociedade consumista, a massificação, “a terceira onda”(2), o imperialismo, a globalização.

As lutas sociais têm assumido variadas formas, desde greves , motins, marchas, e outras de reivindicações democráticas; ou tão dramáticas como as dos quilombos, as camponesas do Contestado e de Canudos. No entanto, predomina no espírito do povo a generosidade, a compreensão e a tolerância, repúdio ao ódio e à violência. Povo que sofre vicissitudes, conserva a fibra e a alegria de viver. Por ser bom é feliz. Demonstra-o nas festas tradicionais, em seu folclore rico e fascinante, músicas e danças, desfiles, procissões, romarias, celebrações em feriados e dias santos. Rebela-se contra as injustiças, mas tem a paz por ideal. E’ solidário nas dificuldades e nos mutirões. Sua vocação é para o bem. Dela é fruto o sincretismo, uma conseqüência do respeito a todas as crenças.

Em contraposição às ideologias, descortinaram-se os valores da Democracia, já vislumbrados no Brasil, antecipados pelo povo de índole e formação igualitária, democrático por natureza. O homem brasileiro se caracteriza pela pessoa que é, e não por condições de sangue, nascimento, crença, profissão, posição que ocupe na sociedade. A medida de seu valor é a dignidade humana. Pesam na balança os sentimentos. Eis o fundamento do humanismo brasileiro.

Ao se revelar que só num estado democrático o direito de igualdade pode predominar e o povo impedir a corrupção, a tirania de indivíduos, grupos e facções, esse humanismo se traduz com a maior clareza nos princípios fundamentais da Constituição de 1988.

Semeado até em solo ainda agreste de lutas sociais, o amor tem florescido por toda parte, refletindo-se na obra de autores nacionais. Dos céus do Brasil irradiam-se, como do Cruzeiro, as luzes de uma nova civilização: a da Fraternidade!

1)No sentido legal. 2) Alvim Tofler.

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