Dar é riqueza

"Se tens uma concha de água e estás sedento, reparte-a Porque o que roubas de ti germinará de novo. Se outra moeda guardas no teu bolso, dá-a, Como se repartem na imensa treva, os astros!" Estes lindos versos de Lília A. Pereira da Silva, nascida em Itapira, SP, em 1939, revelam sua grandeza de alma. Seu livro de "Poesias" teve repercussão em toda a América Latina e na Península Ibérica. Deixou-nos: Síntese Lírica, Magias do Anoitecer, Monstros e Gênios, Estrela Descalça. Veio-me à mente, ao ler estes versos, a incomparável missão do professor, do educador; porquanto nesta vida, todos somos mestres, quer queiramos, quer não. Insigne e notável é a vocação do professor. É ele que reparte o pábulo intelectual a seus formandos, orienta-os nos sendeiros do bem e ajuda-os a sobrepujar os repechos íngremes da montanha do saber. É ele que instila em suas almas a gotícula amenizadora do conselho: é ele que suaviza os apertos, estimulando seus discípulos ao bem. É ele que dá generosamente e transvasa sua sabedoria e bondade, esparge luz em seu ambiente, estimulando seus discípulos ao bem.

É ele que dessedenta seus súditos, vertendo continuamente rios de delicadeza e abastecendo-os de mananciais imperecíveis. O educador dá; nunca empobrece; pois germinará tudo de novo. Rebrota, desabrocha, revive, frutifica em seu coração um mundo de amor para doar-se novamente; e este ciclo não o depaupera e sim o enriquece; não o rebaixa e sim o enaltece; não o avilta e sim o nobilita. Moeda da educação tem valor inestimável. Em negócios materiais, à medida que damos ou compramos, vamos diminuindo a quantia de dinheiro. Em negócios de educação, dar é multiplicar; distribuir é amealhar; repartir é entesourar. Bem dizia, no Antigo Testamento, o profeta Daniel: "Quem ensinar a verdade aos homens brilhará como estrelas no firmamento". A vida do professor não é inibição e sim entrega de sua vida ao bem do próximo.

O jovem tem seus momentos de dor e de inconstância. Necessita de uma mão carinhosa e alentadora para reconduzi-lo na via certa da virtude. As grandes amizades de velhos, adultos e novos provêm de doações. São simpatias provenientes de gestos de amor, de gentilezas, de afeições. As amizades eternas não brotam em terrenos baldios, sáfaros, estéreis, bravios, de corações duros e pedreguentos; e sim nas lavouras ferazes, fecundos e férteis de corações magnânimos, benévolos, humanitários. Daí a nobreza do trabalho do educador e a confiança do educando. Momentos felizes são os encontros de filhos e pais, e não menos o são os de alunos e mestres. Quando esta corrente: pais, alunos e mestres, for inquebrantável, grandes alegrias e felicidades advirão para as famílias e para a sociedade. Adendo: Dar é um gesto nobre. Dar-se é nobilíssimo. Dar vem do latim dare. O poeta Virgílio, latino, escrevia: Dare manum alicui (estender a mão a alguém). E o latino Ovídio: Dare se (sair ao encontro de alguém, dar-se). Riqueza é criação das línguas neolatinas: italiano e espanhol, português e francês. Em latim divitia, de dives (riqueza, rico). Em português, temos divícia = posses, haveres, fartura, fortuna.

Prof. Nardier João Orsi, Irmão Marista, PUCRS.

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