Daqui não saio

O caso Carlos Lupi, que se arrasta há algumas semanas, acrescentou um peso a mais no desconforto ético do governo Lula, pelo fato de ocupar sem a menor cerimônia e desinibida amostra de ambigüidade que faria corar um frade de pedra, ao mesmo tempo as funções de ministro do Trabalho e Emprego e presidente do diretório nacional do PDT.

A anomalia foi motivo de manifestação da Comissão de Ética Pública, presidida, a convite pessoal do presidente Lula, pelo ex-ministro Marcílio Marques Moreira. Lupi fez ouvidos de mercador às ponderações pertinentes da citada comissão, que concluiu pela ilegitimidade da superposição de funções, recomendando a substituição do servidor, caso o próprio não optasse pelo pedido de exoneração.

Na tentativa assaz excêntrica de manter-se equilibrado sobre duas canoas, ou seja, a de continuar sendo ministro de Estado e presidente de partido, Lupi solicitou um parecer da Advocacia Geral da União (AGU), tendo em mente a suposição de amealhar argumentos a seu favor, ao mesmo tempo que alega estar sendo vítima de perseguição política. Nesse particular, o ministro ainda não identificou a procedência, ou quais são os interessados nas cavilações que pretendem afastá-lo do governo.

O advogado João Geraldo Piquet Carneiro, primeiro presidente da comissão, citado pela colunista política Raquel Ulhoa, na edição de quinta-feira do Valor Econômico, lembrou que o ministro, além do mal-estar causado ao presidente da República, acrescentou um elemento ?surreal? ao imbróglio, ao afirmar que ?a AGU não tem nada a ver com isso?, simplesmente porque não se trata de uma questão jurídica.

Piquet Carneiro arrazoou que o acúmulo dos cargos, mesmo sendo tecnicamente permitido, combinado com outros fatores pode ?não ser recomendável do ponto de vista ético?, conforme o relato da jornalista sediada em Brasília. E o questionamento decorre do fato de que um presidente de partido manipula recursos ?que podem ser fator gerador de conflitos de interesses?.

Os dois principais senadores do PDT, Jéferson Peres e Cristovam Buarque, divergem sobre o assunto. Enquanto o primeiro afirma que a posição da Comissão de Ética deve ser acatada, o segundo despreza a idéia e assinala que Marcílio integra o conselho de administração do American BankNote, que produz as carteiras de trabalho usadas no País, que o ministro Carlos Lupi tenciona substituir por um cartão com chip. ?Acho que devemos contestar a ética da comissão nesse caso?, ponderou. Com a palavra, o presidente Lula.

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