Vestindo a capa da dinastia Bush, o presidente norte-americano se prepara para vingar o nome de seu pai ao confrontar mais uma vez o tão satirizado diabo das Arábias, presidente iraquiano Saddam Hussein. George Walker Bush, que se diz evangélico, religioso e fervoroso em oração, parece dissonante de suas crenças religiosas ao dar a entender que “guerrear é preciso” em seu discurso para meninos e meninas de 18, 19, 20 anos que compõem o batalhão da Marinha americana, quando se preparava para zarpar para o Golfo Pérsico na semana passada.

Mais uma vez os Estados Unidos investem em seu poder militar para amedrontar o mundo e fazer com que todos saibam quem é o mais forte. Um dia, quando o fétido odor da podridão social deste país exalar seu cheiro para o resto mundo, quem sabe a mania de grandeza ianque seja finalmente desdobrada.

Sendo uma estrangeira em terra estranha, tenho que ter cautela em falar qualquer coisa que possa não satisfazer a opinião geral. Descobri que aqui, nos Estados Unidos, o tão chamado país da liberdade, você é livre para falar o que os outros querem ouvir. Se falar o que não deve, “run and hide”, corra e se esconda. Principalmente no Texas, terra natal do atual presidente e ninho dos fanáticos republicanos conservadores que estão empurrando esta guerra para o despenhadeiro.

Sendo editora de um jornal norte-americano, a minha responsabilidade e amargura de espírito só aumentam. Aqui, o jornalista é praticamente um escritor sem alma. Uma pessoa sem opinião. Alguém que somente observa e reconta os fatos, em nome da utópica objetividade. Temos que ser meros contadores de histórias, ao invés de co-participantes dos “story-makers”.

É horrível ter que me resguardar de escrever um editorial sobre a palhaçada dessa guerra, pois os coronéis do Texas ficariam enfurecidos ao saberem que alguém, uma estrangeira, ousa discordar da tão necessária investida militar.

A imprensa, ícone de valor imprescindível no que se relaciona a guerras ao longo da história americana, faz a sua parte em mostrar a necessidade de lutar essa guerra. O que eles dizem por aqui, é que é extremamente necessário que os norte-americanos não permitam que algo como 11 de setembro volte a acontecer ao país. Tem-se que preservar a liberdade.


No entanto, sejamos justos, nem todos os americanos são a favor dessa guerra. Para minha surpresa, o sentimento chauvinista do povo local dá lugar à razão e à lógica dos fatos da irracionalidade em lutar uma guerra sem causa.

Manifestações contrárias à guerra vem em forma de passeatas, “antiwar”, adesivos nas mochilas de adolescentes e frases de atores e celebridades americanas que às vezes se sentem envergonhados de pertencer a este país. E a pergunta que uma atriz norte-americana fez ao presidente Bush em um show de televisão ressona na opinião pública: “Mr. Bush, what the hell did Saddam do to us?” “Sr. Bush, que diabos fez o Saddam pra gente?”

A explicação de Collin Powell e da administração Bush vem na forma de suposições, pra ser mais precisa, especulações. Eles dizem, temos que ir pra guerra não porque o Iraque fez alguma coisa, mas sim porque eles podem fazer algo contra nós.

Apostando no fato de que o Iraque pode ter um potencial militar ameaçador à liberdade do imperialismo mundial norte-americano, Bush pressiona as Nações Unidas para lhe dar permissão para atirar a primeira pedra, dando início à chacina de perdas incalculáveis. Mas os americanos não se importam, porque afinal de contas isso tudo vai acontecer longe de casa. A miséria alheia não os incomoda, contanto que tenham a pizza e o refrigerante. A mentalidade da sociedade se encontra apática e amortecida. Desde a decadência econômica e a explosão da nave espacial, “eles simplesmente não se importam”, contanto que o direito de ir e vir e de festejar seja preservado. Que caia o mundo, mas que deixem o televisor ligado.

A dura realidade é que a juventude norte-americana, nascida em uma sociedade não-funcional, criada pela televisão e sem perspectiva de atingir o utópico dourado sonho americano, cairá nos encantos do poder militar. Os jovens pobres que precisam do dinheiro oferecido pelas forças armadas para pagar seus estudos terão seus cérebros hipnotizados por ordens de puxar o gatilho contra civis fantasiados de inimigos.

Bush, vai você lutar com o Saddam. Os dois num ringue, pelados, para ver quem é mais homem, afinal, não é para isso que você tenta essa guerra, para ver quem tem o maior nível de testosterona?

Mais uma vez presenciaremos a uma guerra contra a democracia. Assistiremos à cúpula governamental mexer peões humanos num xadrez real. Ao se aproximar a hora do cheque-mate contra o Iraque, o povo americano e o resto do mundo clamam por paz. Se a voz do povo é a voz de Deus, o presidente que se diz cristão deve ter cortado relações com o Céu.

Larissa Preuss é brasileira, chefe de redação de um semanário na Grande Dallas e formanda do curso de Jornalismo da Universidade Adventista Southwestern, em Keene, Texas.

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