Uma proposta em tramitação na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) quer criar o Programa Municipal de Prevenção e Tratamento da Ludopatia (PMPTL), voltado à prevenção, diagnóstico e tratamento do transtorno de jogo compulsivo. Segundo o autor, vereador João Bettega (União), o vício em apostas tem crescido de forma preocupante com a popularização das Bets e de outros jogos de azar digitais.

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Se aprovado, o projeto permitirá que o Sistema Único de Saúde (SUS) de Curitiba estabeleça diretrizes para o tratamento multidisciplinar do transtorno. A proposta também prevê campanhas educativas sobre os riscos das apostas online e a capacitação de profissionais da saúde para o manejo e diagnóstico da ludopatia. 

As capacitações previstas contemplam o reconhecimento de sinais e sintomas do transtorno, técnicas de entrevista motivacional, abordagens terapêuticas baseadas em evidências, manejo de crises, orientação familiar e aspectos éticos e legais. O programa seria custeado por recursos do orçamento municipal da saúde, com possibilidade de complementação por repasses estaduais, federais, convênios ou parcerias.

A atuação do programa deve ocorrer em três níveis de atenção: básica — por meio das unidades de saúde; especializada — com apoio dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e demais serviços; e hospitalar, quando necessário.

Justificativa

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Na justificativa do projeto, o vereador lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já classifica a ludopatia como um transtorno mental e comportamental. Ele cita dados do Banco Central, segundo os quais os brasileiros gastaram cerca de R$ 20 bilhões por mês em apostas online nos primeiros oito meses de 2024. Aproximadamente 24 milhões de pessoas físicas participam dessas modalidades.

O impacto econômico e social também chama atenção: 1,8 milhão de pessoas ficaram inadimplentes por comprometer parte da renda com apostas. O varejo brasileiro perdeu R$ 103 bilhões no mesmo período.

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Para o vereador, a evidência dessa tendência reforça a urgência de uma resposta pública. “O Município de Curitiba, no exercício de sua competência constitucional para legislar sobre saúde pública local e considerando o princípio da integralidade do SUS, deve implementar ações específicas para prevenção e tratamento deste transtorno”, afirma.

Ele cita como exemplo programas já existentes na Suíça, que seguem modelos de abordagem interdisciplinar. “A implementação do PMPTL contribuirá para reduzir o sofrimento individual e familiar causado pelo transtorno de jogo, além de gerar economia para o sistema de saúde através da prevenção de complicações secundárias como depressão, ansiedade e ideação suicida”, conclui.

Discussão na câmara

Protocolado em agosto, o projeto ainda está em análise pelas comissões da CMC. Na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) realizada nesta terça-feira (14/10), os vereadores solicitaram uma reanálise jurídica da proposta. Em votação, sete dos nove membros deram parecer contrário à tramitação.

De acordo com o relator, vereador Lorens Nogueira (PP), o parecer desfavorável se baseia em “vícios de iniciativa, criação de despesas sem estudo de impacto, caráter autorizativo, ingerência administrativa e falhas de técnica legislativa”.

O texto é considerado uma lei autorizativa, ou seja, permite que o Executivo adote medidas, mas sem efeito prático imediato. A manifestação da comissão também aponta inconstitucionalidade e ilegalidade, por invadir competências do Poder Executivo ao criar um programa de saúde, definir atribuições de servidores e prever campanhas e convênios, que são ações que dependem da administração direta do município.

Por fim, o parecer reconhece a relevância social do tema, mas considera o projeto inconstitucional e sem juridicidade, recomendando o arquivamento.

E aí vereador, como fica?

Para a Tribuna do Paraná, o vereador João Bettega afirmou que está realizando ajustes no projeto e, após as mudanças, a autoria da proposta será dividida com o vereador Bruno Rossi.

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