No Guabirotuba

Por orientação da Vigilância Sanitária, venda de água de poço artesiano é cancelada

“Era um benefício à população, mas agora todo mundo vai ficar sem”, desabafou Edson Martins, o dono da casa que fornecia a própria água aos moradores do Guabirotuba, em Curitiba. Por orientação da Prefeitura de Curitiba e da Vigilância Sanitária, as torneiras foram fechadas nesta sexta-feira (8). “Disseram que se fizesse mal para alguém, seríamos culpados”.

Água era fornecida para moradores do bairro e da cidade toda. Foto: Lineu Filho.
Água era fornecida para moradores do bairro e da cidade toda. Foto: Lineu Filho.

Edson passou a usar a água, que é comprovadamente boa, depois que fez um poço artesiano em casa. As análises, feitas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostraram que a água era totalmente potável e seria até mais limpa do que o esperado.

Depois da descoberta, além do uso próprio em casa, o homem colocou apenas uma torneira pequena para o lado de fora do muro, para quem quisesse usar. “Muita gente aproveita certinho, mas de um tempo pra cá os moradores de rua começaram a aprontar, chegavam a tomar banho na torneira, e resolvemos adaptar um jeito melhor para continuarmos dando a água para o povo”, explicou Edson.

Foram colocadas duas torneiras ao lado da que já existia e aí ajudava com valores pequenos quem quisesse: R$ 0,50 por cinco litros ou R$ 1 por dez litros. “Mas nós nunca cobramos pela água, tanto que a torneira que saia de graça continuava ativa. Contribuía, para ajudar na manutenção do poço, quem quisesse”, detalhou Edson.

Desde quando os moradores começaram a usar a água já se passaram quatro anos, mas foi no começo dessa semana que a situação mudou. A partir de um vídeo, que começou a circular nas redes sociais, a iniciativa se tornou ainda mais pública e, com isso, a Sanepar e a Prefeitura de Curitiba, tomaram atitude.

“A Vigilância Sanitária explicou que a água realmente é boa, mas que não poderíamos colocar para a distribuição, apenas para consumo próprio. Segundo eles, se alguma pessoa viesse com um galão sujo, pegasse a água e sofresse algum tipo de contaminação, nós que seríamos responsáveis. Por isso, nos orientaram a tirar e eu o fiz”, detalhou o dono da casa.

Torneiras foram retiradas e até a bancada, que funcionava como pia, também foi retirada. Foto: Lineu Filho.
Torneiras foram retiradas e até a bancada, que funcionava como pia, também foi retirada. Foto: Lineu Filho.

Numa avaliação rápida, Edson disse acreditar que pelo menos 500 pessoas da região usavam a água vinda do poço artesiano de sua casa. “Sei que já teve dia que mais de dois mil litros d’água foram retirados pela população. O mais legal é que vinha gente de toda Curitiba e até de fora, até de outros estados. Era algo realmente bom para as pessoas”.

Com o fechamento das torneiras, até mesmo a pequena estrutura montada pelo proprietário da casa também teve que ser retirada. “Disseram que não poderíamos atrapalhar a passagem dos pedestres. Em resumo, eu não poso fornecer a água, porque a Vigilância Sanitária falou que eu não posso beneficiar a população, cada um que se vire”, desabafou.

Moradores revoltados

Enquanto nossa equipe permaneceu no endereço de Edson, por aproximadamente uma hora, mais de 15 pessoas vieram buscar água e foram informadas da mudança. Os moradores ficaram revoltados e até mesmo impressionados com a rapidez com que a prefeitura de Curitiba agiu com a situação.

“Nós usávamos a água daqui para beber, fazer comida, enfim, pra tudo. É ridículo pensar que teria muito mais coisa para fiscalizar, mas a Vigilância se importa com algo que era benéfico para as pessoas”, disse uma moradora, que preferiu não se identificar.

Da mesma opinião compartilhava Salete Kato, moradora do bairro há 30 anos. “Desde o começo pegávamos água aqui. Tem gente que até usava para tratamento, porque é uma água alcalina, realmente muito boa. O que fizeram não foi uma coisa legal”.

O que diz a Vigilância?

Em nota, a Prefeitura de Curitiba, que agiu numa operação com a Vigilância Sanitária, confirmou a orientação de que as torneiras deveriam ser fechadas, pelo menos até a regularização do fornecimento de água. Segundo a prefeitura, Edson pode continuar com as atividades do poço artesiano, mas apenas para consumo próprio e não “monetizado, como funcionava antes”.

A prefeitura informou ainda, que não se manifestou ao morador sobre a qualidade da água, se era boa ou não, sem que houvesse um laudo atualizado. Além disso, o órgão reforça que a intenção era a de que ele pudesse regularizar a situação com uma documentação específica, por isso foi uma ação conjunta entre a prefeitura, a Vigilância e outros órgãos competentes.

https://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/rede-de-pagamento-de-contas-de-agua-em-atraso-e-ampliada/