Sem despedida!

Tradicional balada de Curitiba, Sistema X fecha as portas com a crise do coronavírus

Foto: Arquivo/Hedeson Alves/Tribuna do Paraná.

A balada mais tradicional de Curitiba fechou as portas e não vai ter nem festa de despedida. Com 35 anos, a Sistema X dá adeus aos clientes com a sensação que poderia permanecer mais tempo na noite, mas a crise financeira juntamente com a pandemia do novo coronavírus abreviou a longevidade da casa. Equipamentos de som e toda uma estrutura com luzes e efeitos serão vendidos. O anúncio de encerramento acontece na mesma semana em quem outro ponto bastante famoso em Curitiba decidiu fechar as portas: PolloShop Alto da XV.

A decisão de deixar a noite de lado e se aposentar já estava na cabeça de Gilmar Berte, de 60 anos, proprietário da Sistema X. No entanto, com a queda acentuada no movimento e com pouca perspectiva de melhora após o surgimento do covid-19, o momento foi de colocar a razão acima de qualquer emoção, sem esquecer as lembranças de que em uma noite, três mil pessoas deram seus passinhos dentro do salão. “Está na hora de aposentar. Fiquei 43 anos fazendo o que eu mais gosto, mas estava lutando com uma crise real. Ninguém está gastando com balada e não tinha outra opção. Tinha a esperança que a economia melhorasse, mas aí veio o coronavírus para complicar. Estava bancado a casa há anos no vermelho e o dinheiro não se sustenta”, comentou o proprietário.

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A história da Sistema X começou em 1976, no bairro de Santa Felicidade. Nascido na zona rural de Toledo, no oeste do estado, Gilmar veio com a família para a capital. Na adolescência, trabalhou como carregador de sacos de farinha. Aos 17 anos, ao lado de amigos começou a animar bailes e saraus em clubes na cidade. “Montamos uma equipe de som que agitava a turma aos embalos de sábado à noite com música black do Rio de Janeiro. Lembro que consegui a emancipação para abrir a empresa. Abracei o mundo com os dois braços, pois sempre tive o sonho de ter um local destinado para festas”, relembrou o proprietário.

Ainda com os amigos, teve a ideia de colocar no salão dos clubes quatro caixas de som em cada canto. O objetivo era simplificar e não ser agressivo com as batidas musicais. Além disto, a forma da colocação das caixas lembra o formato da letra X. “Era um som aos quatros cantos e o público adorou a novidade. As pessoas falavam que a gente era do sistema. Hoje vai tocar o sistema em tal clube e isso pegou. Foi colocar o X e já tinha o nome da minha casa noturna”, comentou.

“Está na hora de aposentar. Fiquei 43 anos fazendo o que eu mais gosto”, disse Gilmar Berte. ,Arquivo/Jonathan Campos/Gazeta do Povo.

A discoteca, os famosos e as brigas

Em dezembro de 1984, Gilmar Berte decide locar a sede da antiga Sociedade Trieste, em Santa Felicidade. Em dois meses de reforma, a inauguração da Sistema X é marcada para o dia 1° de fevereiro de 1985. Equipamentos gigantescos de som, luzes e a mescla de ritmos musicais mexeram com os jovens curitibanos da época.

Músicas estrangeiras explodiam das caixas de som e o esqueleto da turma movimentava sem preguiça. “O segredo do sucesso foi dosar a música aliando flashback. Construímos clientes para a vida neste período e nunca usamos o enfrentamento para transformar a pessoa. A Sistema X era tão popular que levava quase duas mil pessoas por noite nos fins de semana. O Ratinho frequentou algumas vezes lá. Lembro também do Celso Portiolli que ficou conosco por 6 meses. Ele estava no começo da carreira e era nosso locutor ”, ressaltou Gilmar.

Um dos problemas que a Sistema X enfrentou foi a fama de ser um local de confusão e brigas na noite. “Isso atrapalhou, mas fomos vítimas de algumas pessoas que permanecem até hoje na mídia. Até que por ser uma discoteca, a incidência sempre foi muito pequena. Tem muita igreja em Curitiba que já teve mais problema que a gente”, ironiza o dono.

Até o início dos anos 1990, a Sistema X reinou sozinha na noite de Curitiba. Com o êxito, Barte ampliou o negócio e criou uma rede de baladas. Milleninum, em Pinhais; Magic, em Guarapuava e Ponta Grossa; e 360 Graus, em Curitiba.

Em 2002, com a explosão imobiliária, a sede da Sistema X teve que deixar Santa Felicidade e partir para a Cidade Industrial de Curitiba (CIC). No atual endereço, o barracão de 3 mil metros quadrados é alugado com um custo mensal de R$ 18 mil. São 35 funcionários entre temporários e fixos que sentiram nos últimos anos uma queda na bilheteria. “ Sem dúvida caiu 50% nosso rendimento de 2018 para cá.  A nossa concorrência faz alguns milagres que jamais iria fazer’, ironizou Gilmar ao falar do fechamento das portas.

Propaganda de inauguração da Sistema X, em 1º de fevereiro de 1985. Foto: Reprodução/Instagram.

E agora?

Com o fim da atual gestão da Sistema X, Gilmar Berte colocou todos os equipamentos para à venda. O interessado em comprar pode até levar a marca junto e manter o nome para a posterioridade, além de adquirir discos que muitos colecionadores sonham em adquirir. “ Gostaria muito que a comercialização fosse para algum fã da casa. São 4 estruturas independentes de som, iluminação, discos e aparelhos antigos. Tem muita coisa boa. Até a sexta-feira (24), vendo com tudo. Porteira fechada mesmo. Do dia 27 até 1° de maio em blocos de equipamentos. Depois disto, pretendo fazer um bazar para vender item por item”, concluiu Gilmar que ficou uma vida ouvindo a famosa vinheta Sissssstema Xissssssss.